Há muito tempo atrás, vivia em um reino uma jovem princesa que adorava passar seu tempo livre em meio à natureza, principalmente se fosse para brincar de quicar e arremessar sua bola dourada, que ela ganhara de presente de aniversário de sua mãe, pouco antes de esta morrer.
Certa tarde, lá estava a garota se divertindo às margens de uma lagoa próxima do palácio onde vivia quando, acidentalmente, deixou sua bola quicar forte demais e ir parar no meio da lagoa. A pobre menina entrou em desespero pois não sabia nadar e aquela bola significava muito para ela. Sendo assim, desatou a chorar, desconsoladamente.
Foi então que ela ouviu uma simpática, mas estranha voz lhe dizer:
- Bom dia, vossa alteza. Posso saber o motivo de tamanha tristeza?Ao olhar para o lado, a princesa viu um sapo gordo, feio e fedorento olhando para ela com um sorriso no rosto.
- Argh! - exclamou ela, com repulsa. - Que bicho mais asqueroso é você!
- Ora, fico contente que minha feiura tenha feito a senhorita parar de chorar, vossa alteza. - respondeu ele, calmamente. - Mas gostaria de saber a razão de tanto choro.
- Bom... - explicou ela, ainda um pouco enjoada com a aparência do sapo. - Eu estava brincando com minha bola dourada até que ela caiu ali no centro da lagoa! E não sei nadar! Aquela bola tem grande valor sentimental para mim... Será que o senhor poderia pegá-la para mim?
- Ora, ora, ora... - começou o sapo, gostando do rumo que a conversa tomava. - É claro que posso, vossa alteza, sou um sapo e sapos nadam muito bem. Mas gostaria de pedir uma coisa em troca...
- Pedir o quê? - indagou a menina, desconfiada. - Se é ouro que você quer, tenho certeza de que meu pai pode te dar bastante!
- Não, não. Nada disso, minha jovem! - respondeu ele, rindo. - Gostaria de pedir que, em troca, a senhorita se casasse comigo!A princesa quase vomitou ali mesmo ao ouvir a proposta.
- Eu?! Me casar com você?! - ela berrou, estarrecida. - Como poderia uma princesa como eu se casar com uma criatura podre e fétida como você, seu sapo imundo?!
- Certo, certo... - respondeu ele, um pouco frustrado. - Se não quer se casar comigo, acho que ficará feliz em nunca mais brincar com sua bola.
- Tudo bem! - choramingou ela, sem escolha. - Se o senhor trouxer minha bola para mim, me caso com o senhor!
- Trato feito! - anunciou o sapo, sorridente.Dito isso, mergulhou na lagoa, nadou até onde a bola flutuava e a trouxe até onde a princesa o aguardava, ansiosa e alegre.
Nem bem o sapo saiu da água e a garota agarrou a bola com um largo sorriso no rosto e voltou correndo em disparada para o palácio sem nem agradecer, antes que o sapo pudesse sequer dizer algo. Chegando lá, resolveu não contar para ninguém o que se passara.Naquela noite, a princesa e o rei jantavam tranquilamente no palácio quando um guarda apareceu e informou:
- Vossa Majestade, há um visitante que diz ter assuntos a tratar com a princesa.
- Assuntos? Com minha filha? - indagou o soberano, intrigado. - Que tipo de assuntos? Se ele tem algo a dizer para minha filha, pode dizer a mim! Pois tragam-no aqui para que se explique!Instantes depois, lá estava o sapo no meio do salão, escoltado por dois guardas que o olhavam com desprezo. Ao vê-lo, o rei ficou mais intrigado do que já estava e disse:
- Ora, um sapo! O que um bicho como você tem a tratar com minha filha?
- Acontece, Majestade... - começou o bicho, já olhando para a menina. - Que sua amada filha prometeu a mim a sua mão em casamento em troca de um favor, que eu cumpri de bom grado. Agora, vim reclamar o que mereci.
- E isto é mesmo verdade? - perguntou o rei, voltando-se para a princesa.
- S-sim, meu pai - murmurou ela, nervosa. - M-mas é que m-minha bola dourada, aquela que mamãe me deu... tinha caído na lagoa e eu...
- E você... - quis saber o rei.
- Eu aceitei a ajuda deste sapo... - finalizou ela, engolindo em seco.
- Ele lhe avisou que queria sua mão em troca?
- S-sim, papai...
- Pois então deverá cumprir com sua promessa, minha filha. Uma princesa deve agir com honra e honestidade.
- Mas o quê?! - gritou ela em resposta e subitamente levantando-se da mesa. - Está dizendo que eu deveria me casar com este bicho horroroso?! Papai, eu não posso...
- Você já tem idade suficiente para se responsabilizar por suas promessas, minha filha! - interrompeu o rei. - Se prometeu algo, deve cumprir! Não importa a quem tenha sido!A princesa desatou a chorar ali mesmo, desesperada. Sem saber bem o que fazer para evitar aquele destino repulsivo, saiu correndo para seu quarto e bateu a porta atrás de si. Em seguida, sentou-se em um canto e ficou lá, chorando com as mãos cobrindo o rosto.
Pouco depois, ouviu algumas batidas de leve na porta. Ao abrir, deparou-se com o sapo, que sorria para ela, dizendo:
- Olá, minha doce esposa, o que acha de dormirmos juntos essa noite? Gostaria de conhecer seus aposentos.Ao ouvir aquilo, a menina ficou possessa e, num impulso descontrolado de fúria, agarrou o sapo e o atirou com toda a força contra a parede do quarto. Mas o que aconteceu depois a deixou boquiaberta.
Assim que colidiu com a parede, o sapo magicamente se transformou num belo rapaz de cabelos louros e olhos azuis. Ao ver aquilo, a princesa mal soube o que dizer. O moço notou isso e disse, com uma voz suave que nada parecia a do sapo:
- Acho que preciso te agradecer por isso. Sou o príncipe de um reino vizinho, mas fui enfeitiçado por uma bruxa má há muitos anos. Desde então, vivi solitariamente sob a forma de um sapo. Nunca soube como reverter o feitiço, mas parece que você descobriu.Maravilhada, a jovem correu até seu pai e lhe apresentou o príncipe, explicando-lhe o que acontecera. O rei ficou intrigado com a história e, sorrindo feito bobo, disse a ela:
- Puxa, minha filha, parece que agora você tem um atraente e novo marido!
- Verdade, papai! - respondeu ela, animada. - Mal posso esperar para me casar com esse moço!
- Sinto muito, mas não nos casaremos jamais. - interrompeu o príncipe. - Pude perceber que, infelizmente, a senhorita valoriza mais a aparência de alguém do que seus valores, prometeu que se casaria comigo e só aceitou isso quando mudei de forma e fiquei bonito. Não quero uma esposa que me ame só por causa de meu rosto.FIM
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Contos de Fadas
FantasyUma seleção de contos clássicos, escritos nas minhas palavras como eu os ouvi.