Prólogo

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Há muitos séculos atrás, nos primórdios da civilização humana, uma guerra era travada por duas nações inimigas, suas armas eram feitas de um material mais forte e resistente que ossos e pedras: O Bronze.

Como pode dois reinos que eram aliados de comércio, optarem por se enfrentar em um campo aberto para decidirem o destino de seus povos, até que o ultimo em pé vença. A razão para aquela desavença não podia ser mais mesquinha aos olhos e ouvidos de Yang, este que não via interesse algum na batalha até que seu amado irmão lhe dissera que se uniria aos soldados no fronte.  Seu irmão era jovem entre os de seu clã. Yang e Lian nasceram no clã Raposa branca. 

Entres os seres das trevas que vagavam por aquelas terras, o clã da raposa era conhecido por suas lideres mulheres que podiam virar a vida dos homens humanos de ponta a cabeça por suas belezas e truques sedutores, mas também podiam trazer a morte pois seu principal alimento vital vinha do corpo humano. Mas algo raro ocorrera com a matriarca que dera a luz dois garotinhos. Um profeta avisou que deveriam devolve-los aos humanos, pois os dois trariam ruína ao clã que sempre houveram somente mulheres. 

Outros clãs de raposas espalhados pelo mundo não haviam problemas com a linhagem masculina, mas as raposas da branca do leste temiam que aquelas duas crianças pusesse o fim a elas, a mãe tomou a decisão então de abandonar o clã e viver entre os humanos, o que resultou em Lian crescer fascinado com as batalhas e a vida dos guerreiros, se alistando sem consentimento de sua família. Quando o sol surgiu e os dois reis inimigos, que outrora foram aliados, se encontraram no campo de batalha. Seus generais guiando as tropas, os estandartes brilhando nos raios solares e os tambores rugiam e vibravam pelos corações dos soldados. 

Yang se unira ao seu irmão a pedido da mãe que havia abdicado de sua imortalidade para que pudesse proteger seus meninos até o fim, sua mãe doente o fizera jurar que iria proteger o irmão e os dois estavam lado a lados, com suas armaduras e espadas em punhos, havia a vantagem de seres criaturas das trevas, eternas perante aqueles mortais, mas ainda assim haviam fraquezas que mesmo um espirito de raposa não era capaz de resistir. A vida de seu irmão importava mais do que a própria para ele, mesmo que não houvesse distinção entre o mais velho ou caçula ja que eram gêmeos, mas ele o via como um caçula que necessitava de proteção. E ouvir que a batalha que iriam enfrentar, as vidas que seriam jogadas foras, era causada pelo amor não reciproco da rainha do outro reino que fora cortejada pelo rei deles, era de uma tamanha estupidez que Yang precisava de todas as forças para não degolar o homem que reinava a nação humana que ele vivia. 

Com o som retumbante de um sopro do chifre anunciando que as tropas deveriam avançar, ambos os exércitos inimigos se chocaram em uma cacofonia estrondosa, apesar de todo o treinamento e suas habilidades de um predador, não estava esperando que um confronto como aquele pudesse ter tamanho o caos desenfreado, corpos eram destrinchados ao seu lado e cabeças rolavam ao chão com os gritos de homens. Lian, que sempre sonhara com a guerra, estava aturdido, não imaginava que humanos pudessem gritar de forma tao descomunal e desamparados, nem que a batalha seria tão suja e fétida. Os dois não deixavam o lado um do outro, estripando seus inimigos que passavam por eles, até mesmo usufruindo das magicas que aprenderam . Quando Lian vira um soldado enfrentando o inimigo, o humano olhara em seus olhos pedindo por socorro, ele deu um passo adiante mas seu irmão segurou em seu braço. 

- Lian! Não! - Mas ele não quisera ouvir Yang, olhando nos olhos do outro. 

- Ele precisa de mim! Não vou abandonar nossos homens!

- ELES SÃO HUMANOS VOCÊ NÃO! - Yang rugiu com seus olhos brilhando carmesim e suas presas amostra. 

- Por isso mesmo, eles são, eu não. - Lian se soltou do irmão e avançou contra o inimigo, mas quando tentara atacar a coluna daquele que estava prestes a matar um de seus colegas soldados, não esperava que o rival tivesse alguém protegendo sua retaguarda.  

O inimigo avançou contra sua espada, as duas tintilando entre tantas outras que se encontravam naquela dança mortal, Lian conseguira atingir o inimigo, fazendo-o cair e consequentemente seu elmo que continha crinas avermelhadas bastante chamativas, diferentes dos outros que tinham elmos sem comuns, o elmo rolou pelo chão e quando o inimigo se postou em pé ele viu que era uma mulher. Seus longos cabelos negros caiam em ondas por cima dos ombros e ela o encarou com grandes olhos de um castanho âmbar. 

- Uma mulher? - Questionou e a mesma apenas lhe dera um sorriso, aproveitando da surpresa da raposa, sua espada o atacou e ele desviou indo para trás e outro soldado inimigo se aproximara. 

Seu irmão Yang estava distraído buscando eliminar mais daquele povo rival que esquecera de olhar pelo irmão, mas quando se virara era tarde de mais, seu grito de aviso fora silenciado por um trovão que ribombou pelo céu, anunciando a chuva que cairá logo em seguida. Lian não notara outro soldado vindo por trás enquanto lutava com aquela mulher, estando desprotegido e sendo atacado pelas costas, perfurado por uma espada que o atravessou até a sua frente. Yang correu em direção ao irmão, podendo ver no momento em que este caia de joelhos na terra enlameada pela chuva que banhava seus corpos do sangue e suor, ele viu a humana segurar nos cabelos de seu irmão e dar um sorriso vitorioso ao atravessar sua própria espada pela garganta do jovem Lian. Yang gritou novamente, parando de correr ao ver a cena daquela atrocidade, seu irmão se fora diante de seus olhos. 

A ira tomou sua mente e seu corpo, Yang nunca correu tão rápido em sua vida como naquele dia, em uma fúria descomunal ele chegou até os dois assassinos de seu irmão, primeiro no homem que desferiu o primeiro golpe, sua espada atravessando-o por trás, a raposa deixou a espada no corpo do humano agonizando e olhou nos olhos âmbar da mulher, ela deu um passo para trás, assustada com os olhos carmesim do inimigo e pelas presas e garras que este possuía como um animal.  Mas ela não disse uma palavra, recuperando o senso e empunhando sua espada contra a criatura a sua frente, Yang rugiu antes de atacar, seu rugido sendo confundido com outro trovão durante aquela noite chuvosa. 

A batalha que se iniciara na luz do sol, agora se estendia pelo luar da lua cheia que ajudava os guerreiros de ambos exércitos a enxergarem seus inimigos e aliados. Yang lutou com aquela humana, não imaginava que uma mortal pudesse durar muito tempo contra um deles, mas ela não estava saindo dessa ilesa, seu corpo antes imaculado, agora sangrava contra sua armadura, caindo na terra assim como o sangue de seu irmão. E como esperado, ela não aguentou muito tempo, sendo capturada por ele, caindo aos joelhos enquanto Yang emaranhava seus dedos nos longos cabelos da guerreira. 

- Vai me matar como matei seu irmão? - Mesmo cuspindo sangue a guerreira o provocará, Yang puxou a cabeça dela para trás expondo sua garganta. 

- A morte seria boa de mais para você. - Proferiu ele em seu momento de ira, a espada aproximando da garganta dela, a ponta ja estava fazendo um corte quando ele disse. - Eu vou me vingar em todas as suas vidas. - Quando sua espada a atravessou, tirando a vida da guerreira, Yang a amaldiçoou. 

Sua promessa, seu juramento de que iria vingar-se, selou a vida de ambos. 

O corpo da guerreira desconhecida caiu ao chão ainda com vida, o sangue gorgolejando e asfixiando ela em uma morte trágica, a lua banhando seus corpos entrou no campo de visão da moribunda, olhando o céu estrelado que seria a ultima coisa que vira, podendo ver uma estrela cadente passar e disse apesar de que nenhum mortal pudesse lhe ouvir. 

"Eu vou te encontrar." suas ultimas palavras, proferidas no leito de morte, sendo o ultimo laço da maldição que os prenderia unidos para além da vida. 

Destinados a se encontrar por onde passem. Destinados a eternidade.

A Raposa caminhou até o corpo de seu irmão, segurando em seus braços e suas lagrimas se uniram com os pingos da chuva, nada podia acalentar a sua dor. Retirou o colar de jade com o simbolo Yin que seu irmão possuía e passou pelo próprio pescoço, iria manter consigo um pedaço daquele que se fora. Rezando para que pudesse o ver novamente em uma próxima vida.



Um Encontro com uma Raposa (+16)Onde histórias criam vida. Descubra agora