POV YANG - A RAPOSA
O burro nunca aprende, o inteligente aprende com sua própria experiência e o sábio aprende com a experiência dos outros. - PROVERBIO CHINES
Precisava sair para esfriar a cabeça, em tão pouco tempo a chance que eu estava esperando enfim apareceu, mas precisava esperar que aquela maldita Xamã pudesse me guiar em uma forma de poder salvar meu irmão. Houveram tantas oportunidades desperdiçadas que não podia deixar essa passar.
Ainda me lembrava da primeira vez que a vira em uma de suas reencarnações após aquela que eu a matará. Era uma garota estupida de uma família rica antes mesmo da era de Cristo. Lembro de ter xingado o universo, que karma era este ao qual uma assassina renascia rica e meu irmão seguia desaparecido? Passara anos, décadas procurando por sua reencarnação e sem nenhum sinal dele. E ali estava ela trajando um vestido caro e com seus escravos a acompanhando pelo mercado local, enquanto a observava, ouvi fofocas dizendo que seu pai, um General estava a procura de um marido para a garota, e não tardei em maquinar um plano para a minha vingança. Seu pai não encontraria ninguém melhor do que eu, com um novo nome e fortuna que andei acumulando, ele me vira como um bom candidato e assim entregou a mão de sua filha a mim. O nojo que eu precisava esconder a cada vez que tinha que fingir estar feliz com aquela união, era um pequeno preço a pagar quando eu sabia que no momento em que fossemos ao quarto para a consumação, eu acabaria com ela em segundos, e assim eu planejei, a garota não chegava aos 20 anos, mas tinha um corpo já bem formado e olhos que me causavam náuseas pois ela ainda tinha os olhos de uma mercenária de sangue frio. Caminho até os gaiwan (xícara de chá chinesa) e enchia dois com um chá de ervas que diziam proporcionar fertilidade para o casal recém casado, mas na xícara que eu a serviria coloco o veneno que consegui com de uma anfisbena, uma criatura que só é encontrada na Península Balcânica, mas valeria a pena pois diziam que engolir seu veneno causava uma queimação de dentro para fora, como beber acido mas muito mais doloroso e seu processo de corrosão era lento e a pessoa iria agonizar por 24 horas até que o beijo da morte o leva-se. Mas meus planos foram por água abaixo, ao me virar na direção da garota trajada em vermelho, vestimenta padrão cerimonial da época, um brilho estranho surgiu de seu abdômen, eu pude reconhecer aquele brilho, era a conta do meu irmão, derrubei o gaiwan no chão, o veneno evaporando no ar enquanto eu caia ajoelhado em choque. Por isso não o encontrei, ele não podia renascer enquanto essa conta estivesse em mundo terreno, por mais que eu estivesse contemplando aquela revelação diante os meus olhos, a maldita tinha outros planos, eu estendi minha mão na direção da luz invisível a olhos humanos, mas a garota bateu sua mão na minha, se levantando desesperada. Lembro de suas palavras naquele dia "Não irei deixar que me toque, prefiro morrer!" e assim ela fez, com um frasco escondido em suas roupas, ela o pegou e bebeu, caindo morta no chão e a luz sumindo na escuridão uma outra vez. Mais tarde descobri que ela estava apaixonada em um dos escravos da família.
Um grande infortúnio que agora eu relembrava, sentado em uma mesa de bar, com um copo de whisky na mão e um cigarro na outra, desejando poder me embriagar com drogas humanas, nem podia sentir pena de mim mesmo, passei mais de cem anos procurando por ela e explicações do que tinha acontecido, somente para saber que a conta do meu irmão tinha sido atraído pela energia da alma dela, não passando de uma coincidência que aquela maldita humana possuía o mesmo tipo de vibração energética que meu irmão, confundindo sua própria força magica. Isso me preocupou, isso significava, não só que meu irmão jamais voltaria a nascer, mas que ela teria a magia dele em seu organismo? Busquei achar ela, mas cheguei tarde de mais, encontrando uma criança de 9 anos morta na floresta próxima de sua casa, talvez o karma realmente existisse e minha vingança estava acontecendo de uma forma ou outra, ao menos era o que eu pensará. Na sua próxima vida, a encontrei gravida, fiquei dias refletindo se eu poderia matar ela ou não, como eu iria trazer meu irmão e não ferir uma criança inocente que ela estava carregando em seu ventre. Eu podia mata-la mesmo gravida e vingar meu irmão, mas como isso seria melhor do que o que ela fizera? Então optei por esperar, mas não tardou que eu entendesse que outros também queriam se vingar, a vila que ela residia pegará fogo, a mercenária gravida escapa fugindo encima de um cavalo, outros monstros, tão perigosos e menos civilizados do que eu, a perseguem e por uma empatia estupida eu matei cada um deles, deixando-a escapar , somente para a encontrar logo depois, escondida em uma cabana, um dos monstros tinha lhe atravessado com suas garras, mas ela ainda estava viva e em trabalho de parto, seus gritos podiam ser melodia para meus ouvidos, mas em ver aquela cena, de uma mulher lutando pela vida do filho que ainda não nascera, me deu um pouco de culpa, um nó na garganta.
Me aproximei dela, a mesma nem ao menos se importou de uma estranha criatura, um homem com olhos de raposa, se aproximar, ela apenas estendeu sua mão ensaguentada até a minha e implorou pela vida do seu bebê. Ela não tinha mais nada, estava morrendo e só queria que seu filho sobrevivesse, e assim eu a ajudei, a criança nasceu saudável mas sua mãe não resistiu, nem ao menos lhe dera um nome, quem quer que fosse a criatura que lhe ferira naquele dia, tinha vencido. A hemorragia fora de mais. Entreguei o garoto para uma família sem filhos em uma outra vila, era o minimo que eu podia fazer.
Pensar neles, me fez pensar em Marcela, aquela garotinha não fazia ideia de como nossas vidas já foram mais complicadas, ou como ela olhara em meus olhos e implorara por minha ajuda, naquele dia no estacionamento eu tive um vislumbre daqueles olhos, mas não tinham o desespero de antes, era uma confiança que eu não queria nunca mais ver nela. Me deixava desconfortável, causando arrepios na minha espinha dorsal. Essa memória dela era algo que eu empurrava para o fundo da mente, enterrando-a pois era perigosa, poderia me tornar mole quando eu devia sempre me lembrar que esta era a mesma pessoa que matou meu inocente irmão e fizera isso com um sorriso no rosto.
Termino meu copo, deixando o dinheiro na mesa e sigo andando pelas ruas, dando um ultimo trago no cigarro que já estava no fim, jogando-o no chão e pisando no mesmo, pego outro do maço e o acendia com a minha magia, com um estralo a chama aparecia em meu dedo e eu levo ao cigarro, uma tragada e a paz retorna aos meus pensamentos. Alguns seculos depois aquela mesma mulher estava de volta na minha vida, nos encontrando em águas tortuosas, ali estava ela em sua forma mais pura e verdadeira, uma vez mercenária sempre mercenária. Ela agora atuava como uma pirata, uma ladra das águas e tinha roubado opio chines destinado a coroa inglesa, eu tinha dedicado os últimos anos a trabalhar para o império chines, navegando pelos mares do mundo em busca de a encontrar e o destino nos reuniu novamente, desta vez eu decidira a capturar viva para que pudesse descobrir uma forma de salvar meu irmão, mas ela não estava disposta a ceder, nossas espadas se encontraram em combate e quando eu estava vencendo, a maldita pirata sorriu e disse "Ainda procurando seu irmão?", de alguma forma ela se lembrava de suas vidas passadas, e não tinha um pingo de remorso, a mesma se jogou contra a minha espada, fazendo com que eu a mate e eu ouvi seu ultimo sussurro enquanto me encontrava desesperado pois sua morte significava mais anos sem meu irmão em uma busca incansável .
"Boa sorte me procurando. Eu continuo vencendo."
Gritei desolado enquanto o brilho sumia de seus olhos, ela se fora e meu irmão também.
Qual dessas versões Marcela seria? Aquela que iria tirar a própria vida por amor? Aquela que lutaria até o fim por alguém que ama? Aquela que me torturaria na solidão eterna?
Não importava, pois não deixaria mais que ela ou outros tomem o que me pertence. Essa era sua sétima vida e eu faria valer a pena.
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Um Encontro com uma Raposa (+16)
Fiksi Penggemar(Em Pausa) TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Cidade de São Valentim no Estado de Pernambuco Localizado no Brasil, no litoral. Uma cidade carregada de mitos e lendas, um lugar aonde seus piores pesadelos são reais. Uma jovem mulher se ver cercada de so...