Um Encontro com uma Raposa (+16)

Um presente de jade

         "Dizem que tudo passa e o tempo duro tudo esfarela." É o que dizia Ariano Suassuna o autor de o Auto da Compadecida, e naquele momento com aqueles homens estranhos aos quais eu confiava a minha vida, era tudo o que eu queria mais crer: Que o tempo duro esfarela. 

    O parque nacional, também conhecido como parque da lua graças a uma estatua de uma lua crescente erguida em homenagem a trágica história de fundação da cidade, era até engraçado pensar como um acontecimento triste era motivo de um festival daquele tamanho e com o tanto de pessoas vestidas em cosplay de animes que eu vi passando. Isso fazia de nós também pessoas zombando da morte dos outros? Gosto de pensar que apenas relembrando as tradições daqueles que lutaram por uma vida melhor, era a unica forma de se pensar se eu queria continuar naquele evento sem me sentir uma intrusa, eu vim para Valentim com o mesmo propósito que o primeiro assentamento, em busca de viver uma vida melhor, isso significa que temos muito em comum, não?! 

- ARG!! - Esfrego minhas tempuras enquanto resmungo, porque estou pensando tanto sobre as minhas ações? Isso claramente era culpa da cultura do cancelamento, está afetando a minha vida real como se eu estivesse fazendo postagem no twitter. 

- Tá tudo bem? - Niall se aproxima pondo uma mão em meu ombro, encaro seu rosto. 

- Tem certeza que essa roupa é OK? - Seguro na saia. - Não quero ser atacada. 

Ele apenas sorria e Yang que estava do outro lado apenas me olha de cima abaixo, como se não tivesse visto minha roupa antes de sairmos, então ele dar de ombros. - Você está tanto faz. 

- Viu? Ele acha OK! - Niall comemora e cruza seu braço no meu enquanto me arrasta pelo evento. 

Com o evento apenas começando, existiam inúmeras barracas espalhadas, desde de lembrancinhas e até barracas de tiro. Penso em que momento um festival memorial se torná algo tão comercial? O capitalismo realmente é surpreendente e eu nem posso reclamar já que também gosto de dinheiro, mesmo sendo parte do proletariado. Com pensamentos tão complexos e idiotas eu me solto de Niall e corro até Yang a nossa frente. 

- Me diga, você trabalha dando aula, mas pelo seu tempo de vida...- finjo contar nos dedos. - Você deve ser tipo o maior capitalista que ja existiu. 

Meus olhos brilhavam mas tudo o que recebia dele era seu olhar frio e esnobe, ele retornou o passo mas eu segurei na manga de seu hanfu e bati as pestanas tentando ser fofa igual aquelas meninas dos doramas. - Porfavozinho. - Eu decai na minha dignidade.

- O que você acha? - É a unica resposta que recebo, com isso solto seu braço bruscamente e faço um sshh de raiva enquanto ando para longe do mesmo, seguindo até as barracas de diversões buscando me distrair atirando em patos de borracha imaginando que era a cabeça esnobe dele. 

Mas se ele for tão velho quanto diz, deve ser tão rico que explica sua atitude. Se eu fosse muito rica também iria ser esnobe, mas o karma não me favorecia. 

      Quem eu devo ter sido no passado? Como eram minhas encarnações? Provavelmente ruim o bastante para....

Balanço a cabeça, eu queria esquecer, não pensar. 

- Não foi dessa vez, gatinha. - O rapaz loiro da barraquinha vestido como o luffy de One Piece, diz que eu perdi no jogo. 

- Outra vez. - Ponho uma nota de cinco reais na bancada e peço mais balas de tiro.

Não me considero violenta, mas usaria da violência segura para me livrar daquela raiva. Apesar de saber que a raiva não era por ele ser esnobe comigo, mas como ele podia agir assim, após aquele beijo idiota, como ele agia tão normal com tudo de bizarro enquanto eu me afogava em um complexo de emoções e sentia que estava ao ponto de surtar! O primeiro tiro eu acertava, mas os dois que seguiram eu errei, me fazendo gritar frustada e apesar de estar chamando atenção, ninguém mais importava do que ganhar neste jogo. Concentro na mira, segurando a arma com firmeza, respirando fundo e então retorno ao jogo, mas errando o quarto tiro eu ergui a arma pronta para joga-la no chão quando uma mão misteriosa a segurava, impedindo minha explosão de raiva, meus olhos buscaram o intrometido que ousa atrapalhar-me, mas acabo encontrando um rosto familiar.