Encontro familiar ✓

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Sinceramente meu primeiro dia de volta em Lisboa foi uma droga, meu pai estava decepcionado comigo por não ter lutado como ele queria, por não ter virado um lobo e enchido ele de orgulho.

Acho que lá no fundo também estou decepcionada comigo, eu vi meus irmãos serem os melhores daqui, Raviel era um excelente guerreiro, perfeito. Quando eu era pequena via ele treinando o tempo todo.

Com certeza Rafael também não está muito contente, apesar de ele ter vencido talvez esperasse mais da irmãzinha dele.

Um pouco longe da zona de treinamento, sentada aos pés de uma grande árvore observo o restante do pessoal treinar. Meu corpo está dolorido, treinei durante a tarde toda e isso me custou alguns ossos quebrados.

-Descansando? - Marc um dos meninos supervisor de treino se aproxima.

-Curando na verdade - respondo. Ele se sentou ao meu lado, também parecia bem cansado pela respiração ofegante.

-Esta tudo bem? Vi você hoje no rito de passagem... Pareceu ter dificuldade em se transformar, ou simplesmente não quis? - questiona ele se virando para mim, o encarei por alguns segundos antes de responder.

-Bom, já faz muito tempo que não faço isso... - digo.

-Mas, é a sua natureza.

-Já ouvi essa história antes, olha Marc, desculpa - observo o horizonte, vendo o sol se abaixar aos poucos - Desculpa por não ser a alfa que esperavam, pra falar bem a verdade eu nem sei se quero assumir esse posto.

-Você precisa assumir, Ravaner logo vai se aposentar, precisamos de alguém aqui para liderar, ainda mais que as coisas estão complicadas... Tenho medo disso virar uma guerra mundial do sobrenatural - Marc parecia distraído com o que falava, também encarava o horizonte pensativo.

-Guerra mundial? - me surpreendo, algo me dizia que coisa ruim está por vir.

-Sim, Ravaner está nos treinando com tanta intensidade pra estarmos preparados para o que vier. Caçadores do mundo inteiro se reuniram para nos aniquilar, muitos países sabem da existência da nossa espécie só mantém como segredo de estado - diz ele enquanto o encaro em estado de choque - Ouvi dizer que a mafia russa e a Yakuza estão trabalhando juntos para isso.

-Yakuza... - me levanto imediatamente - Como eu não estou sabendo disso?

-Achei que tivesse voltado por isso... - Marc me olha com dúvida - Você realmente não sabia? - nego com a cabeça - Ops.

-Rafael! - rosno saindo em passos pesados.

Como assim isso tá acontecendo? Estão organizando uma chacina mundial, estão se preparando pra uma guerra praticamente.

O sol já tinha se posto, meu corpo chegou a arrepiar devido a lua ainda, não encontrei Rafael em nenhum outro momento.

Assim que os treinos foram oficialmente encerrados, todos se prepararam para ir embora, peguei minhas coisas e esperei próximo ao portão principal.

Rafael e meu pai apareceram com o carro, entrei sem falar nada, seguimos caminho de volta para a casa.

Assim que chegamos, passei na frente já querendo subir direto pro meu quarto.

-Espera na sala.

Imediatamente parei, a voz de meu pai estava firme, chegou a me dar arrepios, me virei lentamente até ele.

-Sim senhor... - murmuro assim que o vejo parar em minha frente com as mãos na cintura.

-O que houve com você hoje? Hein? - dava pra sentir a decepção em sua voz - Você não treinou durante todo esse tempo, não se evoluiu, nada?

-Evolui sim, e muito. Mas, acho desnecessário tudo isso - respondo - Agora eu sei que esperava mais de mim, sinto muito por não corresponder a suas expectativas.

-Não é bem isso Camila - ele perde sua postura de autoridade, parece ter se preocupado com o que eu disse.

-Como não? Eu chego aqui, no primeiro dia você me coloca pra lutar com meu irmão - digo indignada - Isso é jeito de apresentar sua única filha para o pessoal?

-Mas....

-Por que agiu com tanto carinho comigo por todos esses anos? Permitiu que eu saísse daqui para poder ter uma vida normal, e agora quer exigir que eu aja como uma selvagem? Tá se contradizendo, o que realmente espera de mim? - meus olhos se encheram de água - Sinto muito, mas eu não sou assim.

-Mila, não faça isso - ouço a voz triste de Rafael, encarei meu pai mais uma vez que tinha um olhar deprimido, me virei na intenção de ir pro meu quarto.

-Não ouse virar as costas para mim! - meu pai autoritário quase gritou, respirei fundo porém permaneci de costas.

Não acredito que ele vai dizer o que estou pensando.

-Não se dá as costas para o alfa, ainda mais quando estou falando com você - sua expressão agora era rígida e agressiva.

-Não me trate como um dos seus Betas, eu sou sua filha, um pouco mais de consideração - respondo seguindo meu caminho. Sinto uma mão apertar meu pulso com firmeza me fazendo parar, me viro e vejo meu pai me observando furioso.

-Pai! - Rafael se aproximou de nós rapidamente.

-Como eu imaginei, seus instintos são mais fortes que o seus sentimentos - o faço me soltar, rapidamente me dirijo ao meu quarto deixando um climão na sala.

Entro batendo a porta e a trancando, me jogo na cara abafando meu grito agoniado.

-Mas, que droga! - soco meu travesseiro.

Passei a noite sozinha com meus pensamentos, ninguém ousou me incomodar.

Na manhã seguinte às seis horas já estou pronta, me arrumei com roupas mais atléticas, desci as escadas e sai de casa sem dar satisfação pra ninguém.

Sigo até o centro numa corrida intensiva, meus pensamentos estão a mil, é muita informação pra um dia só.

Eu realmente esperava que iria receber minha família com muito carinho, que a saudade ia ser maior que tudo. Mas, pelo que Marc disse parece que voltei apesar pra ser mais uma guerreira.

Do que valeu tudo isso então? Fugir anos atrás, me esconder para conseguir viver, pra depois voltar diretamente pra uma guerra.

Argh! Se eu soubesse que toda aquela bajulação era pra me fazer voltar quando fosse preciso, será que os instintos de lobos falam mais alto nessas horas, as relações paternas não contam?

Indignada com tudo isso, é um mundo completamente diferente. Sinto falta do Tae, das meninas...

Lá eu me sentia mais a vontade, parecia mais viva com tudo a minha volta. Cada momento era emocionante, poder viver como uma adolescente normal, poder amar alguém...

Preciso ver o Tae, nem que seja por ligação, sei que não é boa idéia, mas vou tentar estar com eles quando o show acontecer... Nem que eu tenha que fugir do meu pai, preciso terminar o que comecei e dar uma despedida digna a Tae, passamos por muitas coisas juntos e não é justo com ele apenas abandonar assim.

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