Sonhos

Aceito esse fardo

-Camila.... Camila... Camila...?

-Será que ela está viva?

-O coração dela ainda está batendo... Ajudem Rafael! Eu cuido dela.

Meu corpo latejava, meus dedos tremem muito, meus pulmões ardem.

-Eu vou cuidar de você.

-Tae...? - murmuro.

-Esta tudo bem, eu estou aqui, vou cuidar de você - ouço uma voz sussurrar em meu ouvido.

Sinto mãos me pegarem no colo, uma pele quente e confortável tocava em meu rosto. Sinto me mover, porém não tenho controle sobre meu corpo.

Consegui ver algumas coisas bem borradas, vi uma mesa, pessoas, grama... E por fim uma cama com lençóis azuis.

-Prontinho... - sinto ser colocada em uma superfície fofa - Vamos limpar esses ferimentos.

Sinto mãos deslizarem pelos meus ombros fazendo minha roupa escorregarem, em um minuto me senti sem camisa, quis reclamar ou agir de alguma forma, mas me faltou força.

-Não... - consegui pronunciar.

-Esta tudo bem, eu não vou fazer nada com você - sinto uma mão acariciar meu rosto e depois tocar em minha testa - Você ainda está quente, precisamos amenizar isso.

Em segundos senti algo úmido tocar minha pele com delicadeza, deslizava pelos meus braços e rosto. Seu toque era gentil e macio, me fez lembrar de Tae.

-Desculpe... - tive que dizer - Eu não deveria ter vindo embora, deveria ter ficado... Com você.

-Ham... Acha mesmo? Seu povo precisa de você.

-Mas, eu preciso viver a minha própria vida e não o que os outros querem que eu seja - respondo, aos poucos minha visão foi ganhando foco.

-Sabe, eu te acho incrível, daria uma ótima alfa - me viro e vejo Marc sorrindo para mim.

-Marc...? - digo e ele se afasta um pouco.

-Oh, está acordada? - ele tira o pano úmido de minha testa e me observa com atenção.

Minha visão focou de repente, até mesmo a luz do quarto me incomodou, me sentei rapidamente e vi Marc segurar meu braço, com um desequilíbrio momentâneo quase caí.

-Não se esforce muito.. Tome - ainda me segurando ele pega um copo d'água encima de uma mesinha, aceito tentando segurar o copo com firmeza.

-O que houve? - digo bebendo um pouco d'água.

-Ham, você acabou de voltar da luta com Rafael, estão se recuperando... - não senti tanta firmeza em suas palavras.

-Uou, quer dizer que eu consegui mesmo me tranformar? - questiono ansiosa e vejo Marc concorda lentamente - Faz sentido, acredito que devo ter perdido a consciência - devolvo o copo na mesa.

-Bom, vou ter que te dar meus parabéns, você realmente é um lobo muito lindo e habilidosa - ele sorri, me deitei novamente na cama para recuperar mais a noção das coisas.

-E aí, eu ganhei? - meu coração acelerou.

-Digamos que sim, você deu um show e tanto - Marc parecia confuso, como quem estava orgulhoso porém preocupado - Tenho dó de Rafael, você o deixou bem machucado...

-Oh não, onde ele está? - tento me levantar, porém escuto um estralo forte vim do meu joelho.

-Wow! Espera! - ele me segura pelos ombros me impedindo de levantar - Como pode ver não foi só ele quem se machucar, precisa esperar um tempo até seus ossos se colarem novamente.

Me deitei novamente, meu coração ficou pesado, se realmente me transformei e machuquei o Rafa, ele deve estar um regasso.

-Bom, é isso, já fiz tudo que podia - Marc se levanta guardando alguns equipamentos de primeiros socorros - Imobilizei vários ossos fraturados, seu processo de cura é rápido, em algumas horas vai ficar boa.

-Ham, obrigada Marc - digo e ele sorri, o vejo se dirigir até a porta - Marc! Poderia me fazer companhia até eu ficar melhor?

Ele pareceu surpreso com a minha proposta, mas concordou, não é que eu não queira ficar sozinha, mas preciso saber tudo que aconteceu enquanto me transformei.

-Beba um pouco mais de água, perdeu muito sangue - diz ele voltando a se sentar ao meu lado.

Olhei ao redor e parecia uma enfermaria, porém vazia, estávamos só. A batida do coração de Marc soava forte em meus ouvidos, senti sua tensão quase como se fosse minha.

-Por que está nervoso? Preocupado com alguma coisa? - questiono olhando diretamente em seus olhos.

-Só preocupado com você...

-Comigo? Hoje mais cedo estava me dando uma surra de lança - sorri e ele descontraiu um pouco.

-Ah para, a gente estava treinando, nem bati tão forte assim...

-Eu que senti - digo e ele sorri mais uma vez desviando o olhar - Marc... Rafael está muito machucado?

-Alguns ossos quebrados, nada que vá mata-lo - ele se levanta e vai até um armário, vi que pegou alguns comprimidos - Você até que se controlou bem, podia ter arrancado algum membro dele, sorte que não fez..

-Droga! - cerro os dentes - Isso está me parecendo mais uma rinha de cães, errado demais.

-De lobos na verdade, confesso que deu pra sentir o orgulho surgindo em Ravaner, ele pareceu satisfeito e vê-la lutar - Marc me dá alguns comprimidos.

-Ah que psicopata, ver dois irmãos brigando com qual finalidade?? - digo começando a ficar indignada.

-Bom, pelo menos agora ele sabe que você está apta para se tornar a alfa...

-Sinto muito - me sento colocando o comprimido de lado - Mas, até o momento ninguém perguntou minha opinião sobre isso, e eu não quero lutar essa guerra.

-Talvez precise - Marc ameaça me segurar assim que levanto, recuei meu braço o impedindo - Sabe, não é questão de salvar só a nossa alcatéia, é sobre salvar toda a nossa espécie.

-Ainda não me parece um motivo bom pra arriscar meu pescoço... - digo caminhando até a porta, meus passos eram pesados, afinal meu corpo todo dói.

-Sabe, eu vou me arriscar, e entrar de cabeça nisso - Marc mexeu nos cabelos enquanto me observava afastar - Vou lutar por todas as alcatéias, e por você... Quero ser livre, e quero que seja também.

-Livre... - paro em frente a porta - Se a gente ganhar essa guerra pode me confirma que vamos ser livres? Que vou poder viver minha vida como eu bem entender?

-Bom, essa é a intenção - ele se levanta e se aproxima, lentamente tira minhas mãos da maçaneta da porta - Lobos  precisam ser livres, nós também...

-Se ganharmos, eu posso voltar para o Brasil..? E para Seul? - meus olhos chega encheram de água. Marc concordou - Okay, me convenceu.

-Então... você aceita? - Marc pareceu surpreso - Guerrear com a gente?

-Não só isso, como também liderar vocês, quando a casa cair, eu sei exatamente atrás de quem ir - digo determinada.

-Quem?

-Sangmin.