Momento reflexão ✓

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Finalmente o jantar passou silencioso, e subimos para dormir, ambas não falaram mais comigo, estavam em silêncio apenas pensando, preferi não incomoda-las.

Não faço ideia do que farei na manhã seguinte, não quero ficar por perto, talvez por medo de Sangmin vir atrás de mim e eu não botar ninguém perigo, porém não faço ideia também de pra onde irei.

Tae disse que me ligaria na manhã seguinte, porém tenho medo do que ele possa propor, quero continuar perto dele, quero continuar sendo sua amiga, porém muitas coisas me impedem de ser uma pessoa normal agora.

Eu quero muito poder ser aquela adolescente que sonhou com seu ídolo a vida toda, e assim que cresceu, conseguiu conquistar suas coisas, fixar sua carreira e finalmente vir para Coréia conhecer o seu maior ídolo, porém teve alguns empecilhos e agora que está tudo certo, vou ter que abandonar tudo e deixar tudo para trás, talvez eu nunca mais possa voltar para o Brasil, talvez não vejo mais a Luana e muito menos a Amanda, talvez tenho que deixar minha farda para poder seguir com meu serviço na minha própria alcatéia em Portugal....

Quem diria que por causa de uma coisa, eu teria que desistir de toda a vida que conquistei, que eu mesma construi depois de ter fugido do que realmente era.

Já faz tanto tempo que eu não tinha conversado com meu pai, tanto tempo sem notícias da alcatéia, sem me transformar, sem usar meus poderes... Teve momento em que até acreditei que seria uma pessoa normal.

Todo mês a lua cheia me lembrava do Ser horrível que sou, apesar de nunca ter matado ninguém, sou considerada a Besta.

Minha transformação foi muito precoce, geralmente acontece na adolescência, porém comigo aconteceu aos meus 10 anos. Perdi o controle, e acabei saindo igual um cachorro furioso pro meio da cidade, acabei chamando atenção de caçadores que vieram atrás de mim, meu pai tentou me proteger, porém eu já tinha fugido para muito longe na intenção de tentar despistar os caçadores, da minha família e da cidade. Meu pai me encontrou e seguimos fugindo por muito tempo, até que fomos parar em Lisboa onde era considerado um local seguro, meu pai não acreditava que eu pudesse viver ali, ele queria que tivesse uma vida normal, afinal eu não tinha escolhido ser aquilo, fui mandada para morar com minha mãe no Brasil e ela sabe de tudo, porém não dá muita importância, ela me trata de uma forma bem normal.

Muitas coisas as meninas não sabem, afinal preferir manter meu melhor lado para que elas me vissem dessa forma, como se fosse uma boa pessoa, porém acho que não dá para ficar mentindo para a gente mesmo por muito tempo.

Acho que finalmente vou ter que consertar quem sou, deixar tudo que construir no Brasil, deixar todos os meus amigos aqui na Coréia e seguir com a minha antiga vida em Portugal.

Tudo isso já começa a me deixar indignada, porque me sinto como se não tivesse escolha... Affs! Pensa... Pensa...

Já é de madrugada, 5 horas da manhã, não consigo dormir, olho pro teto com os pensamentos a mil, pensando em tudo que posso fazer, porém não encontro muitas outras soluções além de aquela que já define.

Me arrumo e desço para cozinha, em passos lentos para não acordar as meninas, faço café e algumas torradas, depois de tudo pronto me sento no sofá pensativa, olhando para a tela da televisão desligada.

Acabo me assustando com a vibração de meu celular em meu bolso,  assim que vejo são algumas mensagens recebidas de um número desconhecido, assim que abro a conversa, me surge um sorriso imediatamente.

"Oi, ontem à noite eu peguei o seu número com a Somin, espero que não se importe "

" Não consigo dormir, fico pensando em tudo que passamos, foi muito divertido não acha?"

"Estou pensando aonde ir, ou o que poderíamos fazer assim que o sol nascer, tem alguma idéia? Quer que eu te leve em algum lugar?"

Assim que termino de ler as mensagens seguintes, me peguei com um sorriso bobo no rosto, esse Tae é realmente incrível.

Assim que comecei a digitar, meu celular começou a tocar, e era ele me ligando, meus pulmões não funcionaram por alguns segundos devido a surpresa.

Atendi a chamada, porém fiquei em silêncio até que ele começasse a falar.

-Espero que eu não tenha te acordado... Estou muito ansioso... - ele ri de um jeito nervoso.

-É acho que percebi kkk - respondo sorrindo.

-Difícil não notar, não é mesmo? Então espero que tenha lido minhas mensagens antes que eu pudesse te ligar... Não sei o que faremos mais tarde, quer ir a algum lugar específico?

-Não sei, não conheço muito a cidade, talvez você pudesse me mostrar...? - me arrependi imediatamente daquelas palavras, por um momento foi como se todos os meus problemas tivessem sumido.

-Ah, digamos que eu não posso sair no centro da cidade, chama muita atenção, porém acho que tive uma ideia... - ele respondia animado enquanto eu repensava em tudo que poderia falar para ele, mas que merda, por um instante me esqueci do dilema "me afastar por proteção" - Vamos sair junto amanhã, só nós dois, para não chamar muita atenção.

-Tem certeza que quer fazer isso? Talvez seja um pouco perigoso, e se as pessoas te reconhecerem? - reconhecerem ele né, uhum.

-Bom talvez é melhor eu comprar uma peruca, e caprichar no disfarce - rimos juntos. Em seguida começo a comer minha torrada enquanto Tae fazia graça no telefone - Eu quero muito sair com você, os meninos talvez decidam fazer outras coisas, até levarem suas amigas para sair também, porém quero passar um tempo somente com você...

Naquele instante me engasguei, quase que voou café pra toda sala, na ligação Tae estava preocupado, me recuperei o mais rápido que consegui.

-Um momento só... Comigo? - digo com lágrimas de afogamento escorrendo pelo rosto.

-Sim, minha melhor amiga está prestes a ir embora... Então como eu havia dito, quero passar todos os momentos com você e aproveitar cada um deles.

-Você é realmente incrível, não precisava fazer tudo isso por mim.. - graças a Deus que estávamos em ligação, pois certeza que meu rosto está prestes a pegar fogo.

-Quer ir agora? - ele diz rapidamente e em seguida fica mudo esperando minha reação.

- Agora?! - digo surpresa e recebo um "Uhum" - Mas, está de madrugada, não são nem seis horas...

-Não tem muitas pessoas nas ruas... - sua voz por um instante parecia implorar por uma resposta decisiva.

Afasto o celular do rosto e em seguida o abafo em minha perna, respiro fundo.

Essa proposta realmente me pegou de surpresa, sair com o Tae em plena madrugada, que Incrível, porém muito perigoso... Ah meu Jesus!

-Aigooo.... - ouço a voz abafada do Tae ressoar baixinho.

-Tudo bem... - respondo assim que pego o celular novamente, fecho os olhos e me jogo deitada no sofá.

-Okay, me encontra na recepção em dez minutos!

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