Era verão, dia de sol, praia e calor de arrancar o couro, certo? É claro não, nós estávamos no meio do mês de Janeiro e até o momento em nenhum dia o sol tinha aparecido, eu ficava triste, todo mundo já viu aqueles filmes de verão que passa na televisão com todas as crianças se divertindo na praia com os pais ou amigos, era injusto que eu não vivesse o mesmo, e então, eu passei todos os dias olhando pela janela esperando que os raios quentes chegassem ao meu rosto, mas nada além de vento frio com cheiro de terra veio, não que importasse muito, eu morava no Brasil e mesmo que algumas das coisas que todo mundo sempre ligava ao meu país fosse a praia, a minha cidade não tinha, mas eu ainda queria o sol e toda a diversão que ele trazia consigo.
Por que as séries não traziam a realidade do verão? Será que era possível se divertir em um verão que mais parecia inverno? Eu não tinha uma resposta, mas estiquei meu braço pela janela e senti as gotas frias da chuva que me fizeram arrepiar quando molharam meus dedos, juntei as mãos em forma de concha e deixei que a água ficasse ali por um tempo antes de separar o dedos e deixa–la escorrer até o chão, eu estava observando o percurso da água até alguém falar atrás de mim, fazendo com que me assustasse.
— Desculpa, meu bem — minha mãe disse com um riso — não queria assusta–la, mas que tal ir assistir algum filme ou ir tomar banho de chuva?
— A água está como gelo mamãe, prefiro ficar aqui — Após isso ela desceu sem dizer mais nada, o que era estranho, era como se esperasse que eu fizesse alguma coisa, será que ela achava que eu estava perdendo oportunidades ou coisa assim?!
Pra falar a verdade não sei quanto tempo passei apenas olhando para o horizonte, mas eu escutei uma música muito conhecida pra mim vinda da sala, então prestei mais atenção até escutar:
— Funerária Santa Luzia, sua morte nossa alegria — Mamãe estava assistindo "Ai que vida", e sem mim! Não dava para acreditar, então corri para sala como um foguete e me joguei no sofá com a cabeça nas pernas de minha mãe, ela tinha sentado já esperando que eu descesse, aquele era um dos meus filmes preferidos, era engraçado e trazia lembranças de uma tia minha, então ela sabia que eu não resistiria. Todo mundo deveria assistir esse filme, é brasileiro e bom, pena que poucos conhecem.
Eu passei o restante de hora ali, recebendo cafuné da minha mãe e assistindo, dando gargalhadas e sentindo dores na barriga, era uma tarde agradável.
Quando o filme acabou, minha mãe levantou, abriu a porta e inspirou fundo, ela me chamou e eu fui, então juntas nós respiramos mais fundo, mais lento, de forma mais relaxada, parecia ser um dos poucos momentos onde eu tinha sentido a natureza de verdade, e nesse instante meu peito se encheu de algo que eu não entendia ainda, mas me fez segurar a mão da mulher que sempre esteve ao meu lado e correr pela chuva, sorrindo. Talvez aquela fosse a forma mais pura de felicidade, e quando nós chutamos a água empoçada e rodamos no meio da rua sem se importar com as outras pessoas, eu senti vontade de chorar.
Eu entendi ali que era não preciso do sol para ser alegre, os verões não precisavam ser como os de filmes para ser perfeito, e a gente só tinha que encontrar a nossa própria perfeição com o que tínhamos na nossa frente. Quem foi o gênio que falou que se chorassemos por ter perdido o pôr do sol, as lágrimas nós impediriam de ver as estrelas, não faço a mínima ideia, mas eu concordo com ele, durante toda a metade dos mês de Janeiro eu tinha reclamado por não ter calor o que não me deixou dançar debaixo da chuva.
Escrito por: Stéfani Soares
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Melhor verão de nossas vidas | Livros de contos
Short StoryVerão (s.m.) É a estação mais quente do ano e quando os dias são mais longos. Quando podemos nos apaixonar da forma ardente que o clima pede. Quando oportunidades se abrem. É quando tudo pode acontecer... Este livro contém contos de diversos autores...