PARAÍSO

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Me chamo Oswald, sou um homem idoso. Passo meus dias e noites indo à igreja e me dedicando aos dogmas cristãos, para que possa desfrutar das maravilhas que o paraíso me proporcionará. Festas, garotas, comer do bom e do melhor... mal posso esperar para ir logo para "as cucuias" e aproveitar a felicidade eterna. 

Mary, minha esposa, me acompanha nas missas e nas celebrações cristãs. Ando em uma cadeira de rodas levada por minha amada esposa... Sempre que fecho meus olhos na cama à noite, sinto que finalmente meu corpo e minha alma serão levados à benção do paraíso. Mas a decepção de acordar ainda aqui neste mundo é evidente sempre... Hoje foi um belo dia: dei um beijo de bom dia em minha esposa, ainda adormecida em meu lado na cama e fui para a cozinha fazer um café. Depois do café, me arrumei e fui à igreja; O padre Martin falava sobre o Paraíso e suas maravilhas enquanto os fiéis cantavam música religiosa, foi realmente lindo.

Só que hoje... foi diferente.

Eu estava voltando pra casa quando fui atropelado por um ônibus. Não me lembro de sentir dor ou qualquer outra coisa, só acordei no hospital. Minha família estava ao meu redor: Mary, minha esposa;  Patrick, meu primogênito;  Francis, meu neto predileto... Além de todos os outros filhos e netos presentes naquele quarto de hospital. Eu me via à beira da morte, meus batimentos cardíacos desaceleravam enquanto Mary segurava minha mão.

- Aguenta, vovô... Aguenta firme.

Meu netinho dizia enquanto me abraçava.

Eu estava feliz, estava prestes a receber a maior das bênçãos na vida de um ser humano. Ficar cara a cara com o Deus-Todo-Poderoso e ir ao tão sonhado paraíso. Sinto uma leveza e meus olhos se fecham lentamente;  Eu havia morrido... feliz, temente a Deus e ao lado de minha família.

Não havia nada além de escuridão, não podia me mexer ou fazer nada, apenas ficar parado na mais profunda e total escuridão. Depois de uns minutos que mais pareciam uma eternidade, finalmente senti que podia andar. Eu andava na total escuridão e sem saber para onde ir... Andei até minhas pernas queimarem de tanto andar, e parei para descansar. Andei por umas semanas sem rumo até finalmente ver algo;  Era uma espécie de catedral gótica, o céu se tornara cinzento e o solo lamacento e escuro. Entrei na catedral e vi algo que me fez gelar: haviam centenas de corpos, quase como um holocausto de corpos nus que morreram em sofrimento. O cheiro naquele lugar era insuportável, era um verdadeiro banho de sangue.

Mais a frente, haviam pessoas completamente desfiguradas sendo torturadas... Algumas eram lançadas sem piedade ao fogo, outras sofriam chicotadas flamejantes enquanto choravam e gemiam até suas gargantas não aguentarem mais. Pessoas eram afogadas pela eternidade inteira e seus gritos de desespero ensurdecedores me deixavam completamente atordoado.

O monstro que as torturava, era indescritível. Suas feições de maldade e seu corpo monstruoso me davam arrepios... Tremendo de medo, me dirigi a ele e perguntei:

-Você é o demônio? Onde está Deus?

Ele soltou uma risada que arrepiaria qualquer um só de imaginar. Me espetou com sua lança e me disse:

-Eu... sou... Deus.

De repente a escuridão tomou conta de tudo, não podia me mexer, gritar ou fazer qualquer coisa enquanto sentia objetos pontiagudos furarem a minha pele e o calor das chamas queimarem meu corpo. 

Pois é, talvez a minha concepção de "vida após a morte" fosse completamente diferente do que realmente é...

Histórias que não vão te deixar dormirOnde histórias criam vida. Descubra agora