CAPÍTULO 13

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                                       •Lizzie•

   Após um curto tempo sinto o veículo militar parando, seco minhas lágrimas imediatamente tentando me acalmar, sei que ainda não cheguei no campo pois é muito mais longe que isso e meu pensamento se confirma quando vejo uma pequena casa de uma vila próxima ao castelo, vejo uma mulher abraçar um rapaz que com certeza é da minha idade, ela me lembra Ad me abraçando e chorando, e o rapaz me lembra eu mesma, segurando a mãe e as lágrimas enquanto a abraça forte, eu não quero vê aquela cena então abaixo a cabeça. Sinto o veículo se mexer um pouco e olho um pouco para o lado vendo agora o rapaz subindo no veículo, vejo ele me olhar estranho, deve está se perguntando por que uma garota como eu estava ali, mas eu não ligo para aquilo, reparo mais em suas roupas, são parecidas com as minhas de antes, sujas, velhas, gastas. Mas logo volto a olhar o chão e percebo que o rapaz sentou na minha frente, quando o veículo volta a se movimentar ouço o som do motor e os gritos da mãe do rapaz querendo seu filho de volta, aquilo arde meu coração e penso em minha mãe no lugar daquela mulher.

   A viagem continua, o veículo para, vejo um rapaz abraçando os pais pela última vez, o rapaz entra no veículo, me olha estranho e se senta longe de mim. Isso acontece a viagem toda e mesmo com o veículo ficando meio cheio nenhum deles decide se sentar o meu lado, não sei por que, talvez por ser uma garota? Não, todos os homens iriam ficar perto de uma garota como eu, ainda mas vendo que está rodeada por outros garotos. Então percebo, é minha roupa, a minha camisa têm o símbolo do castelo e dá para perceber o tecido dela, devem pensar que sou alguma guarda real, agradeço mentalmente a Ad por ter pensando nisso, estou mas tranquila sabendo que o nome do rei tá servindo para algo além de matar todos do reino. Aproveito que todos estão longe e me encosto mas no canto do veículo pegando o diário de meu pai, começo ao ler mas acabo nem prestando atenção, durmo assim que leio apenas um parágrafo.

   Ficar neste lugar vai me deixar louco, os generais gritam o dia todo, o treinamento é como se eu ficasse o dia todo limpando o celeiro com uma escova de dente, está frio e os cobertores são finos, o cheiro é horrível, o banheiro é horrível, mas o pior de tudo é que estou sem minha esposa e minha filha ao meu lado...

   Acordo com um homem gritando para todos sairem do veículo, e com o movimento de todos os rapazes pulando dele, guardo o diário do meu pai e pego minhas mala e logo olho em volta, tudo aqui é rodeado por uma densa floresta e a várias cabanas de madeira para todo lado, além de ver de longe uma pista cheia de obstáculos ao longe, engulo seco enquanto desço do veículo e tento manter a cabeça erguida. Sou mais treinada do que todos os rapazes daqui juntos, e tenho o rei e a princesa do meu lado, então não será tão ruim, pelo menos eu espero que não seja, viver dois anos no castelo tem que servir para algo além de saber quais garfos usar, pelo menos a postura servia de algo eu acho.

   O homem que tinha mandando a gente descer nós leva até o centro do campo, onde vejo uma fogueira apagada mas várias armas e roupas pelo chão, meu pai tinha razão, o cheiro era horrível, não sei se são os rapazes e eu não estou mas acostumada com o cheiro da fazenda, ou se é o mato e o lugar em que estamos, sinceramente acho que os dois têm cheiro de lama. Meus pensamentos são cortados por uma voz grossa de um homem, não consigo o ver bem, ele estava na nossa frente mas tinha muitos rapazes maiores do que eu na minha frente.

   - Sejam bem-vindos ao campo de treinamento, aqui vocês iram treinar para entrar para a guerra até completarem 19 anos...

   Eu reviro os olhos, ele fala como se aquilo fosse um passeio, e como se a gente já não soubesse o que estavamos fazendo aqui, não sei quem era aquele cara mas já não gostava nada dele.

   - Soube que hoje entrou uma garota para nosso campo, pode aparecer senhorita Lizzie?

   Eu congelo, não sabia que iriam me chamar desse jeito, todos os rapazes me olham e os que estão em minha frente abrem espaço para mim, assim que vejo o homem que estava me chamando congelo ainda mais, era nada menos que um dos generais do Rei William, general Louis, já ganhou tantas medalhas que acho que nem todas estão em seu peito, ele não é famoso por ser ser gentil, eu já o vi algumas vezes nas reuniões do rei, ele sempre ficava em um canto sério, só o seu olhar já me fazia estremecer. Louis me olha de cima abaixo e sorri de um jeito arrogante, ele dá alguns passos em minha direção com a postura reta e olha no fundo os meus olhos, eu mordo meus lábios e prendo a respiração e acabo tendo que erguer a cabeça para o olhar, seu rosto é cheio de cicatrizes mas seus olhos seriam um belo verde se eu não soubesse quão ruim aquela homem era.

   - Estou falando com você Lizzie, o gato comeu sua língua? Aqui não é lugar para garotinhas medrosas sabia? É uma pena eu não poder te fazer da meia volta garotinha, se não já teria jogado você na floresta para os lobos comerem.

    Ele fala e eu sinto um bafo horroso da boca dele, odeio ser chamada de garotinha medrosa, então respiro fundo e o olho nós olhos com mais arrogância que posso.

   - Não sou uma garotinha medrosa e sabe muito bem disso general Louis, e é realmente uma pena não poder me jogar na floresta, mas vai me jogar para a guerra daqui um tempo então não vejo muita diferença.

   O General sorri ainda mais, mas não vejo nenhuma traço de gentileza nele, ele me puxa pelo pulso e me deixa de frente para os rapazes, logo segura firme em meus ombros e me sinto carregando uma pedra enorme neles.

   - Rapazes, essa é a Lizzie, ficou um bom tempo treinando no reino então ela é melhor que vocês, espero que passem uma garotinha enquanto treinam. Mas agora peguem uma arma e uma roupa, você Lizzie pegue apenas uma arma já que pelo visto já estava bem uniformizada.

   Qualquer um falaria que ele falou tudo aquilo para mostrar quão boa eu sou, mas eu sei que não é, ele quer cutucar a onça, quer fazer os rapazes me odiarem por eu parecer do castelo e por ter mais experiência mesmo sendo uma "garotinha", e quer me fazer ficar com raiva por ele está agindo daquele jeito, ele quer que eu exploda na frente de todos para me matar logo de uma vez mas não irei cair nessa tão fácil desse jeito. Me solto de suas enormes mãos e vou até onde as armas estão, vejo todos pegando armas grandes e que mas parecem potentes, eu pego uma das mas pequenas e algumas balas, vejo alguns garotos sorrindo me vendo pegar uma arma pequena mas não ligo para aquilo.

   - Agora peguem suas malas, irei mostrar onde iram dormir, então me sigam. - Fala o general Louis.

   Louis leva a gente para uma cabena de madeira que na minha visão parece ser a mais velha e a mais acabada, assim que ele abre a porta vejo várias triliches por todo o quarto, então percebo que terei que dormir com todos aqueles rapazes, recuo um pouco pensando nessa ideia, dormir com o Ed era uma coisa, eu gosto dele, confio nele e talvez até o ame, mas aqueles rapazes, eu nem sabia o nome deles. O general percebe meu espanto e sorri me olhando, ele vai até mim e coloca a mão em minhas costas me levando até uma das camas.

   - Não se preocupe senhorita Lizzie, garanto que vai se dá muito bem com seus colegas de quarto não fique tão tensa. Mas devo avisar que têm apenas um banheiro aqui.

   Eu fico ainda mais assustada com aquilo, o olho tentando controlar minha respiração para não pirar de vez antes mesmo de ficar um dia no campo. Louis se afasta de mim enquanto os rapazes vão para as camas onde querem ficar, alguns brigam pelas camas altas mas eu apenas sento em uma dela para que ninguém pegue a minha, além disso não quero dormir no alto.

   - Se arrumem, e logo quero todos apostos na área de treinamento. - Fala o general saindo da cabana.

   Um rapaz senta em minha frente, assim que vejo seu rosto lembro que ele foi o primeiro rapaz a entrar no veículo, eu desvio o olhar dele e começo a ver todos os rapazes tirando a roupa para colocar as roupas camufladas, coro fortemente e olho o chão tentando me concentrar em outra coisas.

   - Lizzie né?... Me chamo Erick... - Fala o rapaz na minha frente.

   Eu o olho bem na hora que ele se levanta tirando a camisa dele, então logo volto a olhar o chão assentindo com a cabeça, engulo seco e me levanto colocando a arma que peguei em minha cintura.

   - Prazer Erick... Te vejo depois.

   Saiu da cabana de cabeça baixa, aquilo só tinha começado e eu já queria ir embora, pelo menos acho que tinha feito um amigo e que daqui alguns meses Ed iria vim para cá, mas ainda sim era assustador saber que iria ficar com tantos rapazes e que era o alvo principal de um dos generais do rei. Mas respirei fundo e fiquei com a postura reta tentando não parecer que estou abalada com aquilo, vou indo em direção a área de treinamento que tinha visto antes devagar, além disso não queria ficar sozinha nem com o general muito menos com vários rapazes se trocando no mesmo lugar que eu.

Tudo acaba em guerra [Finalizado]Onde histórias criam vida. Descubra agora