Capítulo 01 | Eu me lembro

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Apartamento de Pat. Bangkok. 7:30 da manhã.

*

Abro os olhos e me sinto estranho. Caralho, que ressaca... onde estou? Penso, enquanto coloco as mãos na cabeça tentando recobrar a consciência. Rolo na cama, me virando em direção ao lado esquerdo, e me lembro. Respiro fundo para recuperar o fôlego quando me deparo com a imagem perfeita das costas bronzeadas — e imensas — de Pat deitado sem camisa no lado oposto ao meu. Agora eu me lembro, estou aqui com você.

Faz um ano que me mudei para Singapura por conta de uma ótima oportunidade de trabalho. É um contrato de dois anos com uma empresa grande de arquitetura e design de interiores e é tudo muito corrido no meu dia-a-dia. Não conheci muitas pessoas e não saio com frequência, apenas para tomar chá ou café — e às vezes algumas cervejas — sozinho, ou com uns seletos colegas de trabalho, então assim que encontrei uma oportunidade, vim passar um tempo em Bangkok.

Eu sou muito grato pelo que alcancei em tão pouco tempo depois de formado. Eu sou. Mas também, de certa forma, sinto que me cobro muito mais do que devia. Eu o faço, porque quero aproveitar cada oportunidade que minha mãe não pôde, o que me deixa constantemente sobrecarregado.

Eu sinto muita falta de tudo aqui. De minha mãe. De meu pai. De meus amigos. De casa. De Pat. Tenho plena consciência dessas coisas todas que estou abrindo mão agora para realizar meu sonho e me sinto privilegiado demais por ter tanto apoio, de um modo que só poderei retribuir dando o meu melhor em Singapura. E assim, todas as noites perdidas com muito trabalho e saudade de casa — e solidão —, certamente serão recompensadas com algo muito maior que virá na próxima etapa de nossa vida. A minha e de Pat, no caso. Eu vou juntar dinheiro e voltar pra cá de vez, e ninguém vai poder dizer que não podemos namorar. Sim, eu estou vivendo por mim, mas quero mais pra minha vida. Pra nossa vida. E eu não vejo a hora disso acontecer.

Vai ficar tudo bem Pran, por que você pensa tanto?

Suspiro mais uma vez e solto meu braço com força na cama, rompendo o silêncio gritante do quarto. Eu estou deitado olhando para o teto, com a perna esquerda dobrada e a outra esticada. Pat se mexe. Solta um suspiro de sono profundo e vira em minha direção. Ele ainda está dormindo. Seria cruel acordá-lo agora?

Me coloco de lado e decido assisti-lo mais de perto. Percebo um raio do sol invadir o quarto e inundar seu maxilar, enquanto escorre por seus peitos expostos, atravessa o braço repousado em seu abdome, e se debruça em suas pernas fartas. Encosto meu pé no seu. Passeio meu olhar pouco a pouco por seu corpo, desvendando desde as curvas de suas coxas até a entrada angular interrompida por sua cueca. Me demoro no seu perfil suave, que desliza de sua cintura até os braços desacostumados com tanta calma. Desejei seu umbigo e seus pelos ralinhos da barriga. E desenhei com meu olhar, as linhas retas de seu semblante celestial.

Sinto meu coração tilintar com a presente lembrança da falta que isso faz todos os dias. Mal posso acreditar que estou aqui com você. Vê-lo assim, adormecido, dócil, inofensivo, faz eu me confundir em um misto de vontade absurda de tocá-lo, mas também, de jamais encostar, por medo de desmanchar o encanto que essa versão dele causa em mim. E essa imagem, de um Pat inocente — que mais me parece um anjo —, me bagunça ainda mais a cabeça, quando me lembro do dia de ontem e tudo que ele me fez sentir quando nos encontramos escondidos na escola. E só em lembrar do acontecido, uma fisgada surge sob minha cueca, e se transforma num calafrio que percorre todo meu corpo. Acorda, Pat!

* * *

[01] • TANTO •  [ PatPran | BadBuddy ] •  ):)Onde histórias criam vida. Descubra agora