Capítulo 02 | Somos os mesmos

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15 horas antes.

*

Cheguei na reunião de 10 anos da escola bastante estressado. Porra, Pat, UM ANO de espera e não consegue acertar o aeroporto que eu vou pousar? Respirei fundo. Duas vezes. Três. Ok. Caminhando pelos corredores, avistei uma porta com a placa "guarda-volumes". Era um espaço pequeno, um pouco maior que uma cabine de banheiro. E vazio. Deixei minhas malas lá. Aparentemente ninguém sabe que esse lugar existe. Ao me aproximar da quadra de esportes, comecei a ouvir os ruídos abafados das pessoas conversando. Assim que entrei, um dos ex-colegas — que honestamente não lembro o nome, só sei que é do grupinho rebelde do Pat —, gritou:

— Olha, seu antigo inimigo acabou de chegar.

E lá estava ele. Pat. Incrivelmente bonito com uma blusa preta que eu só conhecia por foto. E de repente, senti toda aquela raiva que me impregnava, ir embora — boa parte dela, pelo menos. Eu ainda queria enforcar ele, claro, mas até esse pensamento me fez fisgar dentro da calça. Calma, Pran, se controla.

Eu combinei anteriormente com o Pat, que seria melhor continuarmos fingindo que somos inimigos para os amigos da escola também. Para a notícia vazar dali e chegar em nossas famílias seria num piscar de olhos, e nessas duas semanas de folga que tirei no trabalho, eu só queria saber de paz e do Pat. Meu inacreditavelmente atraente namorado.

Preciso parar de olhar pra você.

O que achei que seria fácil, se tornou uma tortura. Nem eu nem Pat conseguíamos desviar o olhar. Eu o olhava de longe e em silêncio — mas na verdade eu estava dizendo a ele todas as coisas que ele já me disse por telefone, durante várias e várias noites em que eu estava sozinho em meu apartamento em Singapura, e ele sozinho no seu em Bangkok —, e ele me retribuía com olhos marejados de saudade ou de desejo. Talvez os dois. Tomara que seja os dois. Ele o fazia como se conseguisse ouvir o que eu estava planejando fazer com ele. Eu gostei daquilo.

Voltei a conversar com meus antigos amigos, me sentindo um pouco mal por não conseguir dar tanta atenção e eles perceberam. Estou cansado da viagem, menti. Eu namoro o Pat a mais de quatro anos, e faz um ano que não o vejo, e estou querendo ir abraçá-lo imediatamente, foi o que eu quis dizer.

Será que posso? Preciso abraçar você, Pat, pensei, enquanto o encarava mais uma vez e sentia uma pontada sob minha calça novamente. Parece que a reunião de 10 anos havia me regressado a adolescência.

Vi que Pat foi buscar suco na mesa do buffet e fui atrás. Devagar, para não parecer intencional. Cheguei na mesa. Vi Pat engolir seco. Eu estou morrendo de saudade de você, quis dizer, mas tudo que consegui foi ficar parado, trêmulo, ofegante, e ele também. Nós nos olhamos por longos e intermináveis segundos. Somos os mesmos. Chan rak ter, eu te amo, Pat. E sei que você também.

Quando senti que ele ia consegui falar, diferente de mim, que desaprendi imediatamente o ato da conversação assim que me aproximei dele, um de nossos amigos em comum apareceu nos avisando que já estava na hora de nossa apresentação. Olhei pra ele como quem dizia, te vejo depois, daquela forma que ninguém mais vai poder te ver.

Nossa música ecoou na quadra ao som de minha voz e ritmada pela sua bateria. Naquele momento me permiti olhar pra ele. Sorrir pra ele.

Estamos no palco e eu estou confessando pra todo mundo que não quero ser seu amigo, Pat; que não, não somos inimigos; que você me faz sentir borboletas aqui dentro. Sim, mesmo depois de mais de quatro anos, você ainda faz.

Confessando que eu não consigo não sorrir ao te olhar, mas que eu sempre tive medo de ser despedaçado por você, e que eu nunca, nunca estarei pronto para te perder. E queria dizer mais ainda que tudo que estamos vivendo valeu e valerá a pena pra sempre em minha vida. Por que, você se lembra, Pat? O amor, pra mim, é você.

Descemos do palco risonhos, renovados e energéticos. Eu e Pat nos admirávamos de longe e aquilo estava me deixando extremamente excitado. Todo o restante de pessoas na quadra estava rindo e conversando e uma música havia começado a tocar, os convidando para o centro do ambiente para dançar. Ainda olhando para Pat, caminhei de costas — e com as mãos nos bolsos da calça, porque elas estavam trêmulas e eu não sabia mais o que fazer com elas — em direção a porta da quadra insinuando um convite e ele entendeu.

* * *

[01] • TANTO •  [ PatPran | BadBuddy ] •  ):)Onde histórias criam vida. Descubra agora