"Eu preciso conseguir; porque ele precisa que eu consiga; e porque eu preciso que ele consiga."
*
Quando os japoneses consertam objetos quebrados, eles têm o costume de exaltar o dano, preenchendo as rachaduras com uma mistura feita com laca e pó de ouro. Eles acreditam que, quando algo já sofreu danos, e tem, portanto, uma história, torna-se mais belo. Chamam essa técnica de 'Kintsugi' ou 'Kintsukuroi '— 'emenda de ouro' ou 'reparo com ouro'. Eu quebro, me reparo e continuo inteiro. E Pat me ama. Me ama, não apesar das minhas — nossas — rachaduras. Mas sim, por causa delas. E eu me sinto o mais lindo e precioso vaso de porcelana em suas mãos neste momento. Seu 'thai-kintsugi'.
Ele me cuida, agora, como se eu tivesse acabado de passar por algum reparo, ou como se me emendasse com todo ouro que possui. Pat se levanta, sai do box, e eu acompanho seus movimentos, enquanto toda água escorre por meu rosto. Ele volta com uma esponja que nunca foi usada, me coloca de pé e continua me dando banho. Eu consigo me dar banho sozinho. Mas não quero. Estou quebrado, me repare.
— Eu não quero sentir isso, Pat.
Ele coloca sua palma da mão esquerda — que está sem sabão — no meu rosto. Eu aninho. Então, me dá beijos nos olhos, passando seu dedo polegar em seguida tirando o excesso das lágrimas. Está tudo bem, está tudo bem, ele diz, com a voz mais calma que já ouvi sair de sua boca. Encaro seu olhar. Ainda o vejo turvo através da água — do chuveiro e dos meus olhos, que doem. Em minha cabeça, escuto nossa música — Our Song. Pat é amor. Pat é tanto.
Seguro seu rosto com minhas duas mãos e o trago para perto. Nossos lábios se encostam delicadamente. Deixo minha língua adentrar sua boca pouco a pouco, e ele me entrega a sua em retorno. Nossos olhos estão fechados. Estamos sob a água quente do chuveiro, que afoga e leva meu pranto, junto com toda a desgraça que pesa nossa história e a expulsa de tudo que construímos juntos nos últimos anos. Eu não quero mais ter que ser essa fortaleza. Pat também não, eu sei que não, porque sinto em nosso beijo, o gosto das lágrimas que ainda escorrem dos seus olhos.
Pat continua passando a esponja pelas minhas costas, agora um pouco mais forte, e me aperta como se eu fosse desaparecer a qualquer momento. Ei, eu estou aqui, está tudo bem, eu digo, agora, tentando trazê-lo de volta.
Nos enxaguamos. Saímos do banheiro enrolados em nossas toalhas. Mãos dadas. Sentimos muito. Sentimos tudo. Estamos deitados, abraçados, colocando tudo pra fora. Queremos aproveitar cada hora, minuto e segundo que temos, como se fosse o fim dos tempos.
— Eu te amo, Pat. — Deposito um beijo em sua testa, com meu corpo pesando sobre o seu.
— Você é a razão de tudo, Pran. — Ele me beija.
— Eu sou melhor com você. Eu sou mais feliz com você. — Digo, com um sorriso nos lábios, porque eu sei que ele pensa o mesmo.
— Eu sempre vou querer o melhor pra você. O mundo precisa de você. — Eu tenho tanta sorte.
— Você é o mundo todo, Pat.
Nos beijamos, agora, como duas chamas que se encontram, se penetram, e que desviam, fugindo e lutando contra qualquer vento que lhes tente apagar.
Eu me livro das toalhas que separam meu corpo do seu, expondo todas nossas rachaduras, nossos reparos, nossos medos, nossas vontades. Meu Kintsugi. Pat me olha, enquanto lágrimas lhe escorrem o rosto — assim como eu, e me deixo desaguar sobre ele. Ao encostar minha cintura em sua cintura, o sinto enrijecer — assim como eu.
Começo a me mover como onda em cima de seu corpo molhado de banho e de pranto, e o vejo se permitir ser levado por mim. Ele rebola sob meu corpo, deslizando nossos membros, que agora estão quentes e pulsantes. Pat nos conecta em um beijo demorado — profundo e profano —, e enquanto acaricia meu rosto com um toque gentil, abre suas pernas e as enlaça em minha cintura. Estamos muito, muito excitados. E emotivos. E chorões. E molhados, mas agora, não mais de água ou lágrima. É de tesão, e saudade — que jamais passará. E tomara mesmo que não passe.
Peço consentimento com o olhar, e ele assente com a cabeça, passando seus braços pelo meu pescoço. O penetro inteiro, deslizando com facilidade, e ele geme baixo em meu ouvido. Ele se acostumou com a noite passada, pensei. Suas pernas folgam em minha cintura, caindo sobre a cama, largadas e disponíveis para meu comando. Me ergo em sua frente, sem sair de dentro dele. Uma confiança inesperada se apossa de meu corpo ao sentir sua entrada me apertar, fazendo mudar nossa expressão inconsolável, para uma de vencedor em meu cenho — e algo provocante surge no seu.
— Você nunca... está satisfeito. — Pat diz, cínico e ofegante, em meio as investidas diretas e constantes que faço nele, enquanto empurro seus joelhos abertos contra a cama
— Muito pelo contrário, Pat — digo, e meto de vez me deixando lá — é que eu sempre quero mais.
Com Pat eu me permito ser todas essas coisas que não tenho coragem de dizer. E dizer todas aquelas que não tenho coragem de fazer. E fazer de nós tudo aquilo que sempre quis ser. É sua voz que me guia de volta pra casa onde quer que eu esteja. Eu conseguiria sem você Pat, mas eu não quero. Seria tão solitário, e eu sei, porque pra mim, todo aquele período que fiquei longe dele, também foi. Solitário e deprimente. E nem todos os anos que seguiram, foram ou serão capazes de fazer esquecer, mas a cada dia que estou com ele, sinto doer menos.
Não vamos mais viver sob aqueles termos que criamos. Eu não quero mais, Pat. Eu trouxe um licor pra seu pai, e você vai dar pra ele hoje. Não precisa dizer que é um presente meu, mas ele vai saber. Você vai entrar no meu quarto de novo, mas não precisa ser discreto, eu quero que você não seja. Não precisamos contar nada pra eles, eles já sabem. Vamos ser os mesmos que somos aqui.
Vamos ser, Pat.
Porque tudo que me lembro quando estou aqui, deslizando dentro de você, é feliz. Tudo que sou quando te vejo assim, tão perto, chamando meu nome, é feliz. E quanto te sinto molhar, e me molhar, enquanto me desfaço vulnerável dentro e fora de você, e você, dentro e fora de mim, é, enfim, o que a vida realmente quer dizer.
E não dói. Nada dói, e quando dói, é bom. Porque é você.
* * *
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[01] • TANTO • [ PatPran | BadBuddy ] • ):)
Romance[+18] • Sobre amor, delicadeza e afeto. É tudo muito. E eles são tanto. • Saga BadBuddyUniverse por MariJoopter [00] • V O C Ê • (Postado) | Leitura Independente [01] • T A N T O • (Esse aqui) [02] • Q U A S E • (Postado) [03] • B R E V E • (Posta...
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