TRINTA E QUATRO - LÚCIFER/GRACE

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LÚCIFER

Estávamos todos agindo como máquinas. Nossos corpos se moviam em centésimos de segundos, incansáveis, como se fôssemos invencíveis. 
Queria poder chegar perto dela, sentir sua pele mais uma vez, o calor do seu abraço, seus olhos castanhos e brilhantes me olhando como quem diz "aí está você, te esperei por tanto tempo".
Mas era impossível. Os seres do inferno sumiam e nasciam com uma velocidade espantosa e mesmo eu, sendo o mais poderoso e todos estando ali, esgotando tudo o que eu tinha durante dias mal conseguia contê-los.

Me aproximava de Miguel aos poucos, queria conseguir convencê-lo de parar com essa loucura e nos guiar até Zalmoxis, se isso realmente fosse verdade.

Juntando uma porção de poder e força, segurei firmemente minha espada de aço negro e cortei o ar, levando com o movimento inúmeros demônios e criaturas mais inferiores. Como chegamos a esse caos? Até os vermes do inferno estavam ali, qual era o objetivo disso tudo?

O caminho até Miguel ficara livre e quando seus olhos encontraram os meus, ele sorriu. De forma carnal e vingativa, um sorriso que nunca presenciei em todos os meus muitos anos.

Avancei em sua direção e ele correu de encontro à mim, com fogo em seus olhos e um brilho intenso emanando de si. Isso seria uma catástrofe cósmica. 

Nossas armas se tocaram e um grande trovão ribombou no céu, estremecendo nossos corpos e provocando um grande impacto. Todo o exército caiu com nossa força e levaram alguns segundo para se recompor e voltar a lutar.

- Lúcifer! Não faça isso! - a voz de Grace estava cada vez mais próxima e eu não queria que ela se aproximasse.

- É a única forma! - respondi e lutando contra todo meu coração, concentrei minhas trevas a nossa volta e nada de fora poderia entrar. Éramos eu e Miguel. 

GRACE
Eu estava esgotada. Minha energia se concentrava toda em manter meu poder perto de mim, ferindo ou desintegrando demônios. Alguns eram poderosos demais e ao tocarem no que eu emanava, se distanciavam e desapareciam, como se buscassem forças em algum lugar, logo depois voltavam atacando novamente. O suor escorria em minha nuca e eu sentia cada nervo do meu corpo pedir socorro.

- Lúcifer, não, por favor! Não faz isso! Não faz isso! - um desespero gritante se apossara do meu corpo e eu batia inutilmente contra as paredes de escuridão sólida. Eram frias como aço e provocavam arrepios involuntários em todo meu corpo.

Enquanto tentava sem sucesso atravessar e impedi-lo de suicidar-se, alguns seres aproveitaram o momento de distração para atacar. Minha lança se materializava, acertava dois e sumia para que eu pudesse concentrar o poder em minhas mãos. Mas as trevas nem se mexiam. 

Um ser sem rosto e forma eminente me acerta e minha visão fica turva.

DROGA! NÃO!

Enquanto tentava e buscava forças para levantar, via uma armadura se aproximando. Phillip, papai.

Suas flechas atingiam com agilidade e velocidade aos seres a minha volta. Sua parte angelical que lhe sobrara era excepcionalmente incrível.

- Pai! Ele... - tento engolir o choro e o desespero, mas é quase impossível.

- Eu sei, querida, eu sei. Mas aqui não é lugar para se dar por vencida - ele gira rapidamente e abate três. - Vamos, levante-se, aqui não é lugar para morrer.

E quando me esforcei a agarrar o braço que tanto já me dera colo, que tanto me fora lar e proteção, quando me segurei em sua pele algo aconteceu. O som de algo se quebrando permanentemente preencheu todo o caos da guerra, forçando um silêncio aterrador goela abaixo. Sangue por toda parte manchava meus olhos e dedos e o corpo de Phillip caiu, morto, inerte,  ao lado do meu. Sua cabeça fora arrancada.

Empousa me olhou de cima, toda ferida, segurando a cabeça dele que ainda tinha um leve sorriso nos lábios, sorrindo e disse:

- Vida longa a Lilith.


A Graça de Lúcifer - Leticia Rovaris (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora