Princesa Temporária

Capítulo 1

Seis anos atrás

S/n congelou quando ouviu alguém tentando abrir a porta.

Ela estava ali.

Cada músculo transformou-se em pedra, cada nervo energizou-se como um cabo de alta tensão. Então a porta bateu com um baque intenso, seguido pelo ruído de passos frenéticos, abalando-lhe o equilíbrio com a força de um terremoto.

Não houve um alerta de seus seguranças. Ou campainha anunciando sua chegada. Ela era a única pessoa a quem ela permitira a entrada irrestrita e dera as chaves de seu apartamento.

Mas concedera mais do que acesso ao seu espaço pessoal. Dera-lhe domínio sobre suas prioridades e paixões. Ela fora a única mulher que S/n amara e confiara.

E tudo não passara de uma mentira.

A lança enterrada em suas entranhas se torceu. Raiva. Principalmente de si mesma.

Mesmo após ter obtido a prova de sua traição, agarrara-se à crença de que tudo poderia ser explicado. Ela a tinha completamente em seu poder.

Isso por si só já deveria tê-la alertado de que algo estava errado. Confiar não fazia parte de sua natureza. Jamais permitira que alguém chegasse tão perto ou se tornasse tão importante. Como princesa da Casa de El, sempre desconfiava das intenções das pessoas. Após se tornar a estrela ascendente das pesquisas no concorrido campo de energias alternativas, acreditava que qualquer esperança de ter um relacionamento verdadeiro acabara.

Até ela aparecer. Hailee.

Desde o primeiro momento, se vira envolvida pela atração que só se potencializou com o passar do tempo. Desde a primeira conversa, afundara em um poço de afinidade, o mais profundo que ela já conhecera. O modo como se entrosavam era simplesmente mágico. Ela lhe estimulava as emoções, satisfazia todas as suas necessidades, físicas, intelectuais e espirituais.

Mas S/n fora apenas um meio para atingir um fim, um fim que ela alcançara.

Após a primeira tempestade de agonia que quase a destruiu, a lógica falou mais alto. Buscar vingança só teria agravado os danos. Então decidiu deixar a dor consumi-la, em vez de dar a Hailee mais que o que ela já havia lhe arrancado. E se afastara dela sem dizer uma palavra.

Não que ela aceitasse sua partida tão facilmente.

As insistentes mensagens haviam passado de preocupadas a histéricas. A cada uma que ouvia seu coração quase explodia, primeiro com a necessidade de acalmá-la, depois com fúria por se deixar levar por aquela encenação mais uma vez. Em seguida, veio a última mensagem Uma simulação de partir o coração, de uma mulher transtornada, temendo pela segurança da sua amada.

Só poderia haver uma razão por trás de toda aquela persistência desesperada.

Seu plano ainda não devia estar concluído. Mesmo que Hailee desconfiasse que sua partida estivesse relacionada ao fato de S/n suspeitar dela, parecia disposta a arriscar tudo para se aproximar dela de novo, para tê-la em suas mãos e alcançar a oportunidade de terminar o que começara.

Então a deixou descobrir que S/n havia retornado.

Mas, embora tivesse planejado aquele confronto, S/n não se sentia preparada. Nem para vê-la nem para decidir como agir.

Não deveria ter lhe dado à chance de invadir sua vida novamente.

— S/n!

Uma criatura pálida, que mal lembrava a mulher vibrante que se tornara senhora de seu corpo e seu coração, adentrou o seu quarto.