Capítulo 7

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S/n era a clássica cientista distraída, envolvida em suas pesquisas. Agora era como se todo o seu ser estivesse em sintonia com o dela, o que só aprofundou a sua confusão.

— Vou esperar enquanto você veste algo adequado para a ocasião. Se demorar mais um pouco, eu mesma posso despi-la. Lembro-me em detalhes bem vívidos de como você gostava quando eu fazia isso.

O olhar ávido de S/n deixava claro que ela cumpriria a ameaça ao menor sinal de resistência. Ela não podia arriscar, já que acabaria suplicando-lhe para não parar de despi-la.

Resmungando, caminhou apressada para o seu quarto, com a risada de S/n ecoando por trás de suas costas, enviando sua temperatura para a zona de perigo.

Meia hora mais tarde, saiu do quarto, usando o mesmo terninho que vestira quando fora lhe pedir emprego, seis anos antes, e encontrou-o rondando sua sala de estar como uma pantera enjaulada.

Antes que ela pudesse dizer algo, Hailee se antecipou.

— No caso de você achar que esta roupa não está adequada, ficará difícil. É a única roupa que disponho para uma ocasião especial. Está convidado a ir verificar.

— É uma roupa para uma ocasião especial, de fato. Mas um pouco... nostálgica — disse ela, deixando evidente que ainda se recordava. — Mas temos que tomar providências quanto às suas deficiências de guarda-roupa. Esse corpo incomparável deve usar apenas as melhores criações. Os mestres do mundo da moda vão se digladiar pela chance de ter a exclusividade sobre sua beleza única.

— Ah... Alura finalmente levou vc no psicólogo e você já foi diagnosticada com transtorno de personalidade múltipla? Corpo incomparável? Beleza única?

S/n eliminou a distância entre eles.

— Se eu nunca disse que a acho de tirar o fôlego, preciso ser punida. Em minha defesa, pensei que tivesse deixado isso bem claro.

— Sim, antes de mostrar o caminho da porta e me dizer todos aqueles absurdos.

— Eu menti.

— Mentiu? — perguntou ela confusa.

— Com todos os dentes que tenho na boca.

— Por quê?

— Não quero falar sobre os motivos. Mas nada do que eu disse era verdade. Vamos deixar assim mesmo.

— E para o inferno com o que eu quero. Mas, afinal, está conseguindo o que você quer, não importa o que eu deseje ou o quanto me custe. Por que continuo esperando alguma coisa diferente? Devo ser louca mesmo.

S/n parecia esconder algo impulsivo. Uma elaboração de suas declarações enigmáticas?

Mas ela precisava de algo. Qualquer coisa. Se o que ela lhe dissera, as palavras que estilhaçaram sua psique todos aqueles anos atrás, eram mentiras, por que as dissera? Para afastá-la? Teria sido tão pegajosa a ponto de assustá-la?

Não. Não havia desculpa para o que ela lhe fizera. E agora estava fazendo ainda pior. Privando-a da estabilidade de odiá-la, da certeza do motivo pelo qual a odiava.

— Vamos jantar primeiro — anunciou ela

Hailee a deixou ajudá-la com o casaco, afastando-se quando os braços dela começaram a envolvê-la.

— Não está preocupada em deixar os talheres ao meu alcance?

S/n lhe lançou um olhar indulgente que a feriu e a confundiu mais que qualquer outra coisa.

— Vou correr o risco.

— Você realmente espera que eu coma depois de... Tudo isso?

— Pedirei para que sirvam o jantar apenas quando você estiver com fome. Até lá, também espero que o seu apetite por comida supere o de me furar os olhos com um garfo.

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