Capítulo 8

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O bipe ritmado deixa meus nervos em estado de alerta constante, não posso evitar o medo de que de uma hora para outra ele mude para um som estridente e alarmante que vai me roubar tudo.
Há menos de um dia eu achava que as coisas tinham degringolado, não fazia ideia de que estaria sentada em uma cadeira dura esperando Gael acordar, sem ter ideia do que tinha acontecido. Do outro lado da cama do hospital, sentado em um pequeno sofá, Ethan olha para uma parede com o rosto tenso. Ele mal se mexe, mas morde a parte de dentro da boca discretamente.
Decido finalmente perguntar, antes que Eric volte.

— Ethan, por favor...

Ele me olha surpreso, como se eu tivesse gritado dentro de uma igreja, depois se ajeita no assento.

— Ceci, me perdoa... Foi tudo muito rápido.
Ele baixa mais o tom de voz, como se tivesse medo de atrapalhar o descanso de Gael.
— Eu voltei do banheiro e o bar estava parecendo um ringue...

— Como vocês foram parar num bar?? - Controlo a voz, mas percebo que agora estou furiosa. — Você só tinha que checar se ele estava bem! Simples assim.

— Eu sei, mas quando mandei mensagem pro Gael, ele já estava no bar.
Ethan para de falar e olha para Gael. Essa imagem, Gael imóvel e pálido, com fios e sondas pelo corpo, voltaria a me perseguir em pesadelos por muitos anos, uma ameaça e um lembrete. Ethan passa a mão pelo cabelo e continua.
— Quando cheguei lá, ele já tinha bebido todas, não dava pra conversar. Eu tentei convencer ele a ir embora, mas não consegui, então fiquei com ele. A gente bebeu um pouco, ele desabafou e eu achei que era o momento certo de pedir pra irmos embora de novo. Gael concordou, eu disse que ia fazer xixi antes de ir e ele ficou me esperando, mas quando voltei estava a maior confusão, uma gritaria, metade do bar estava do lado de fora, olhando pra onde o cara tinha fugido e Gael estava no chão. Disseram que um cara puxou briga com ele, os dois caíram no soco e o filho da puta tinha uma faca.

Passei a manga da camisa no rosto para enxugar as lágrimas, mas não conseguia parar de chorar. Ethan veio até mim e me abraçou pelos ombros, fazendo carinho no meu cabelo.

— O médico disse que ele vai acordar logo. Vai dar tudo certo.

Estou engasgada com o choro e não digo nada, nem conseguiria se tentasse. Na minha cabeça o único pensamento que tenho é que Gael podia ter morrido e cada vez que essa possibilidade martela entre meus olhos, sinto uma fraqueza pelo corpo e mais um soluço abre caminho em meio às lágrimas.
Bem nessa hora, Eric entra no quarto. Ele traz uma bolsa de viagem para Gael e fala ao telefone. Ethan se afasta e volta para o sofá e eu olho para a bolsa, não consigo tirar os olhos dela. E se...

Eric desliga e me questiona com um olhar. Eu balanço a cabeça. Nada.

— Ainda tá cedo.

Eu concordo e ele sai do quarto, percebo que suas mãos estão tremendo.

—-

Acordo com a sensação de um toque no meu cabelo, mas demoro a me situar e depois me lembro que ainda estou no hospital, tombada pelo jet lag. Meu pescoço dói, pois dormi sentada na cadeira com a cabeça apoiada na cama onde Gael ainda dormia, sedado. O quarto está banhado em luz artificial, mas lá fora já é noite.

— Bom dia, vida.

Eu sorrio antes mesmo de levantar a cabeça. De uma vez só, sinto meu eu voltando ao meu corpo como quando se está em um elevador em um prédio muito alto e precisamos de um segundo para nos ajustar ao movimento.

— Boa noite, bela adormecida.

Gael me olha com os olhos semicerrados, mas divertidos. Eu pego a mão que ele mantinha no meu cabelo e a beijo com carinho. Quero me jogar nele, apertá-lo nos meus braços e nunca mais soltar, mas seu rosto me diz que ele está sentindo dor.

Você, ele, nós | Barry Keoghan + Andrew Garfield fanficOnde histórias criam vida. Descubra agora