Capítulo XII

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Sofia respirou fundo ao ver Evan entrar na cafeteria. Convidara-o no dia anterior e já estava arrependida, pensando nas inúmeras falhas possíveis que poderiam ocorrer durante a conversa e em como aquele lugar era perto de onde morava. Seu rosto, porém, não demonstrava nada além de um simples tédio, que se transformou e desdém quando ele a cumprimentou.

— Ah, finalmente – Ela respondeu com frieza. – Além de me atormentar e me deixa esperando, que maravilha!

Evan cruzou os braços sobre a mesa e olhou para o relógio de pulso.

— São duas em ponto. – Replicou com uma vibração de divertimento na voz. – Seu mau-humor é pela gravidez, ou eu tive a sorte de te conhecer num bom dia?

— Era um bom dia até te conhecer. – Ela retorquiu secamente, com os olhos faiscantes se contrastando ao cruzar com os dele, que possuíam uma calma e bondade que deviam ser infinitas.

— Claro, você me odiou tanto que foi pro motel comigo. – O rosto dela ficou vermelho de cólera, e incapaz de se conter Evan deu um sorrisinho malicioso.

— Você é um... – Sofia quis voar no pescoço dele por um momento, lembrando-se perfeitamente daquela noite, horrorizada por pensar que Evan podia ter tantos detalhes dela quanto ela tinha dele. Corada até à alma, ela conteve os xingamentos que quase saíram aos borbotões. – Ah, por Deus! Eu só fui com você porque estava entediada e com o padrão baixo por causa do meu ex...

— Coisa que não te impediu de... – Evan calou a si mesmo, ação que o salvou de ter os olhos arrancados pelas unhas da mulher a sua frente, mas ela soube o que ele ia dizer mesmo assim e fez uma careta. – Tá, certo. Sinto muito pela sua horrível decisão de sair comigo. Esse seu ex sabe da sua gravidez? Vai querer fazer o teste também?

Sofia cerrou os dentes, sem saber qual seria a melhor resposta. Comprimiu os lábios e fez ares de impaciência, gesticulando com a mão.

— O que isso te importa? – E inflamou-se de repente: – Sério, Evan, por que é que você não esquece essa história? Não muda nada na sua vida...

— O fato de eu ter um filho? – Ele ajuntou, interrompendo-a.

Não é seu filho! – Ela sibilou por entre os dentes. – Só está perdendo tempo. No fim minha gravidez vai voltar a ser insignificante pra você, porque você não tem nada a ver com isso!

Mon Dieu, como você é teimosa!

— E você é o quê? – Ela retrucou, mais irritada do que ele. – Se não estivesse naquela fila estaria seguindo a vida, bem pleno, e não estaria me enchendo o saco...

— Mas eu estava, e que bom, porque eu posso ser pai e você não se daria ao trabalho de me informar. E se eu for, aceito as suas condições, mas vou querer ver ele.

— Se eu acreditasse que você é o pai, informaria sim, por mais canalha que você seja. – Revirou os olhos e soltou o ar com aborrecimento. – Sinceramente, esse assunto está cansativo. Pare de discutir e só se atenha ao que eu vou dizer. Sendo o pai ou não, isso nunca te interessou, não é? Você só queria transar, eu também, perdemos contato "acidentalmente", que pena! Estou grávida, e por sorte eu tenho estabilidade financeira e posso cuidar do meu bebê sem ajuda de ninguém, e eu realmente gosto dele e não me incomodo em ser mãe. Vê? Não preciso de nenhum cavaleiro nobre com senso de honra e dever pra cima de mim, grata, mas só vai estar me atrapalhando! Eu não gosto de você, não gosto da sua namorada e estou pouco me lixando para o seu dinheiro. Pode continuar sua vida de solteiro, porque além de tudo acho que você não entende que um filho vai exigir muito mais do que o auxílio que você pretende dar.

Evan apenas a olhou, com uma expressão impassível enquanto a estudava. Concordava apenas na parte de que aquilo estava cansativo, mas precisava muito ter certeza do quanto estava envolvido ali. Então se ajeitou e chamou uma funcionária, que estava parada perto deles esperando que parassem de discutir.

— Ahn... Boa tarde! Posso ajudá-los? – Era nova ali, por que ficara responsável por atender justamente um casal tendo DR? Suas mãos tremiam ligeiramente, mas acalmou-se ao ouvir o cumprimento suave do homem.

— Vou pedir chá gelado, quer alguma coisa? – Sofia odiou que Evan não tivesse aceitado os seus argumentos, e ficou ainda mais enraivecida por ele ter pedido o que ela ia pedir. Respondeu com um bem seco "não", e virou a cara enquanto ele conversava com a garçonete, que tomara coragem para oferecer uma empada, que era a favorita dela, para que ele provasse. Ele aceitou a sugestão e a garota saiu. – Então.

— O quê?

— Vamos mudar de assunto um pouco. – Ele sugeriu, e Sofia teve ímpetos de chorar de frustração. Evan era decepcionante, ninguém deveria ter paciência assim. – Ei, que foi? – Perguntou preocupado, vendo que ela soltara um lamento e pressionara a ponte do nariz para reter as lágrimas. De repente ele já estava ao lado dela, segurando-lhe os braços para fazê-la se voltar para si. – Sofia...

— Me solta – Ela não foi brusca, queria ter sido; sua voz foi abafada. Evan atendeu ao pedido logo, mas manteve a preocupação no olhar. – Quer falar do quê? Não tenho o menor interesse em saber de você.

Ele soltou um risinho.

— Eu quero, só quando eu quis te procurar que percebi que não sabia nada. Você ficou me bombardeando com perguntas e eu nem tive a ideia de fazer o mesmo. Mesmo que saber seu tipo sanguíneo não fosse ajudar muito... – Franziu um pouco as sobrancelhas. – Você perguntou isso? Nem tenho certeza, mas ficou na minha cabeça que sim.

Ela o olhou sem divertimento.

— É uma pergunta bem estranha, como é que você esquece se fiz ou não?

— Eu gostaria de ter mais nitidez naquela noite, mas quando volto a única coisa que é clara é você. – Sofia gostaria que seu olhar não deixasse tão claro o que se lembrava dela, mas nas íris escuras tinha um brilho tão vivo e ardente que a fez sentir que estava nua na frente dele outra vez, e aquilo era estressante. – Só sei que suas perguntas eram definitivamente interessantes.

Ela fez um biquinho e se afastou dele.

— Humpf, que é que você quer saber? – Pareceu entediada, mas sua cabeça trabalhava incessantemente para um modo de voltar à questão da paternidade para poder chutá-lo de sua vida. Na realidade só a ultima parte importava, fosse como fosse.

— Idade, pra começar.

Ela revirou os olhos. Brincaria se fosse outra pessoa, mas com Evan só serviam respostas secas.

— Vinte e seis, e você?

— Trinta e um. O que você faz?

— Sou acompanhante de luxo.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Ah, é? Quanto você cobra?

— Vá à merda! – Ele riu por vê-la se exaltar tão rápido, e ela ficou irritada porque não queria que o homem se sentisse à vontade a ponto de brincar. – Pelo amor de Deus, como você é insuportável! – Levantou-se e ele segurou-a pelo pulso. – Me solta, já cansei de ficar perto de você e tenho mais o que fazer! Meu Deus, não acredito que troquei minha aula pra olhar pra sua cara!

— Você é muito temperamental, Sofia, respira fundo e conta até dez – Evan disse em tom de brincadeira, mas ela teve ganas de matá-lo por isso.

Só queria ter um filho sozinha! Por que aquele idiota não sumia?

— Se você não estiver estirado no chão quando chegar no dez, vou me irritar mais ainda – Respondeu friamente, puxando o braço e pegando a bolsa. – Se é que é possível! Tchau.

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