Capítulo XXII

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Sofia estava para encontrar com Joana no restaurante quando recebeu a notificação de que Evan tinha deixado que ela o seguisse em seu Instagram pessoal. Na verdade, não tinha deixado ela seguir, tinha deixado Roberta Pinheiro, mas isso era um mero detalhe.

Ridicularizou-o um pouco por ter se deixado enganar por um perfil fake, mas o seu perfil era realmente convincente. Tinha hobbies, seguidores e até um rosto. Ela se empenhara bastante quando o fez, aperfeiçoando o antigo que falhara, há muito tempo. Claro que falhara, entre um dos motivos estava o nome como Gabriele Machado, e qualquer um poderia descobrir que esse era seu nome do meio e sobrenome.

Viu que ele postara um story, mas não era algo que ela pudesse puxar assunto. Só curtiu e foi atrás de investigar o perfil dele. A bio tinha uma citação em francês, uma música da banda Skank e a cidade em que estavam. As fotos poderiam ter detalhes que a interessassem, mas como eram mais de uma por publicação, não teria tempo de analisar todas naquele momento.

Então deixou de lado, no momento, e entrou no restaurante como quem entrava em uma arena: com o corpo tenso e já com um plano de fuga. Joana era uma mulher insistente, e já havia percebido algo de incomum pela forma com que a antiga amiga agira no último encontro.

Então Sofia tinha que se decidir entre dizer a verdade ou elaborar uma mentira convincente, e ela tinha pouco tempo para isso, embora estivesse se empenhando desde o minuto em que a armadilha de Joana a forçara a almoçarem juntas.

— Oi! – Joana a abraçou, animada, demorando alguns segundos para largá-la. – Como você tá? Senta aí.

Sofia colocou a bolsa na cadeira ao lado e sentou.

— Estou bem, um pouco cansada pelo trabalho só – Talvez fosse bom deixar uma abertura semeada para sair se precisasse. – E você?

— Ah, eu tô ótima. – Disse brevemente. – Esse cansaço seu só vai piorar, sabe né? Com a gravidez e tudo. Você não tá mais trabalhando naquele hotel, né? É um trabalho puxado.

— Não... Saí de lá faz tempo, agora estou em uma empresa de eventos – Um garçom chegou e entregou o cardápio para elas, apresentou os pratos e saiu anotando os pedidos.

— Ah, aquela "empresa dos sonhos"? – Joana perguntou com um sorrisinho, e em seguida começou a mexer nos cabelos com o indicador, e Sofia imediatamente lembrou-se do tique que pontuava a ansiedade da mulher – Você queria tanto, tenho certeza que tá fazendo valer a pena.

Sofia deu um risinho.

— Ah, pode ter certeza! Eu adoro a empresa, e meu chefe é o melhor amigo que eu poderia ter.

— Você merecia, pelo tanto que você sofreu naquele hotel você merecia virar santa. Mas então, melhorias no trabalho, com os chefes, namorados...

— É, minha vida está indo para frente finalmente.

— Ah, Sofia! – Joana se exasperou e jogou os braços. Conhecendo a amiga ela poderia se esquivar para sempre com maestria. – Você sabe que consegue me enrolar, mas pra quê? Me conta o que aconteceu! Eu sou curiosa, o que o bonitão aprontou? Ele está indo atrás de se responsabilizar por uma criança, não é isso? É maravilhoso!

— E você acha que eu o quero como pai? – Sofia replicou, e para Joana, que possuía um histórico com o caso, soou como pura ingratidão.

— Por Deus, não tem motivo então?! Tenho certeza, e já posso supor até quem é o outro possível pai. Olhe, sempre odiei o Alex – E o ar se tornou frio –, não que eu imaginasse que ele seria esse tipo de canalha que não assume, mas isso já ficou ridículo! Me desculpe o jeito, mas...

— Não desculpo. – Sofia cortou rudemente, com um tremor na voz. Suas emoções gritaram tão turbulentas que sequer processou dor entre elas. – O Alex nunca faria isso, e não dou a mínima para o quão heroico Evan parece ser pra você, ele não é tudo isso.

Sempre Alex, Joana ficou irritada e revirou os olhos.

— Bem, então o que ele é? – Ela tentou não jogar as próprias mágoas na conversa. Estava testando o papo de não viver no passado, ia mostrar os benefícios para Sofia na prática! – Quer saber? – Suspirou e balançou a cabeça, como se dispensasse o assunto. – A gente nem começou a comer, vamos falando de uns assuntos mais leves.

— Eu não... – Sofia não teve tempo de protestar, pois Joana pegou o celular e continuou a falar:

— Olha sua afilhada, como tá crescidinha – E assim desarmou a amiga, que sempre morrera de amores pela garotinha. Seduziu-a para a conversa e se desenrolaram bem, e Joana aproveitou um momento emotivo de Sofia, quando seus olhos marejavam olhando uma foto antiga, para emendar: – Seu bebê vai ser tão lindo, Sofi, com os pais que tem! Se tiver seu sorriso e sua cabeça, acho que o mundo vai precisar se cuidar.

Sofia riu e revirou os olhos.

— Pelo amor de Deus, que não tenha minha cabeça não. Tô torcendo para vir com mais calma, para o bem dele mesmo.

Bem, aquilo não significava nada! Joana pensou, mas manteve o sorriso pequeno.

— Realmente sua cabeça vai a mil, toda vez. Ah, Sofi, eu sempre torci muito por você, pra Deus te tirar essa ansiedade e acalmar seu coração – Tocou a mão da amiga, carinhosamente. – É muita bagagem, eu sempre percebia que você sofria demais. Agora mesmo, eu aposto que você já fez planos até para o casamento dessa criança!

Sofia riu baixinho, e tirou a mão da mesa, rejeitando o afeto de Joana.

— É, só estou esperando para ver se vou comprar vestido ou terno.

A mulher suspirou e encostou o rosto sobre a mão, apoiada a mesa.

— Ah é, você ainda não sabe o sexo da criança, né? Se forem fazer o exame com a gente, já aproveitamos e fazemos o ultrassom com um descontão.

— Ah, sim, obrigada – Sofia preferiu fingir procurar um garçom, achou-o e fez sinal para se aproximar. – Estamos avaliando antes, Evan quem vai pagar então...

— Fiquei sabendo que ele gostou do lugar – Joana informou satisfeita – Bastante, inclusive, mas falou para Katia que a decisão era com você. Um fofo, eu diria.

— Diria sim – Sofia disse com azedume, e o garçom perguntou a ela o que queria, enquanto um cumim retirava o prato que já estava desocupado. – Obrigada. – Agradeceu quando saíram, e acrescentou para Joana: – Pode poupar os elogios para Evan, se quiser.

— E por quê, Sofia? Pelo que vi ele é o único possível pai que está se manifestando para te ajudar, e onde estão os outros?

— Não é da sua conta onde estão, eu não quero falar disso. Joana, depois de anos o que você quer é sinceramente ficar discutindo por uma coisa tão idiota? Eu quero e vou ter esse bebê sozinha, já está tudo bem planejado como você bem disse!

— Planejado não quer dizer certo.

— E o que é que é certo nessa vida? – Sofia replicou bruscamente, com a paciência zerada e sentindo um pico depressivo e raivoso apoderar-se dela. – Nada, nada é! Mas pelo menos eu quero, eu planejei, e eu dou conta! Para algumas coisas isso é suficiente...

— Para criar um filho?

Sofia deu uma risada embargada, com os olhos marejando.

— Meu Deus, você tinha menos que isso! Eu só... só – E o ar lhe faltou, pôs a mão no coração disparado e levantou-se. – Já volto.

Foi ao banheiro, respirou tão fundo quando podia e esperou se acalmar antes de voltar para a mesa e anunciar que estava indo.

— Sofia, me desculpe – Joana tentou pedir que a amiga se senta-se, mas a mulher cruzou os braços decidida. – Fiquei preocupada, espere aqui mais um pouco, por favor...

— Conversamos outra hora Joana, meu horário de almoço está acabando e eu não vou desperdiçar mais tempo nesse assunto.

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⏰ Última atualização: Sep 04 ⏰

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