Parte 8 - Seul por outros olhos

350 44 444
                                    

- Você está me dizendo que seu trabalho é passar os dias procurando por artistas e encontrando lugares para fazer exposições?

Jimin tinha colocado uma roupa toda preta - porque era a única cor que existia em seu armário - para aparentar minimamente arrumado. Quando ele não sabia o que vestir, sempre optava por preto. Todo mundo ficava bonito com aquela cor. Antes de sair, Taehyung tinha lhe dado um cachecol marrom, o que fez parecer com que Jimin fosse, de fato, alguém importante que sabia falar sobre arte. Taehyung estava com o cabelo bagunçado e uma roupa em tons terrosos, como sempre.

Eles tinham acordado cedo porque Taehyung passaria o dia visitando galerias. Essa era a primeira que os dois visitavam naquela manhã.

- Mais ou menos isso.

- Você não conhece todas as galerias de Seul?

- Sempre há novas galerias em Seul - ele sorriu.

Os dois estavam de mãos dadas. Jimin estava tenso, porque raramente demonstrava afeto em público, nem sequer com a própria irmã. Tinha medo dos olhares, tinha pavor de ser percebido por desconhecidos.

- E o que estamos procurando, exatamente?

- Uma galeria que tenha a melhor iluminação, alguma que consiga transparecer uma ligação com a natureza e a luz artificial.

- Parece um pouco subjetivo.

- Não tanto. A gente vai saber quando encontrá-la - ele andava de um lado para o outro, observando as janelas. Abaixava-se e esticava-se para ver as obras de vários ângulos para saber se a luz funcionava. Não que Jimin soubesse o que significava uma luz funcionando, mas ele parecia saber o que estava procurando.

- Aqui tem uma iluminação boa.

- Não é só isso... Precisa ter uma conexão com a área externa. Você já ouviu falar da Lina Bo Bardi?

- Eu acho que seria melhor você só assumir que eu nunca ouvi falar das pessoas que você cita, porque as chances são de que eu nunca tenha ouvido falar.

- Ela era uma arquiteta. Meio modernista, mas também um pouco tradicional. Ela fez o Museu de Arte de São Paulo, o Masp. Enfim, todos os projetos dela são de concreto, mas ela consegue mostrar uma certa conexão com a natureza, com a luz natural, mesmo em meio à metrópole. É a mesma sensação de comprar uma casa próxima ao rio Han. Você ainda está ao redor do concreto, ao redor de grandes prédios e construções, mas ao seu lado tem uma natureza confortável, um lugar que você pode olhar e se sentir conectado com sua versão mais natural.

- Acho bonito quando você falar de um jeito inteligente.

- Você entendeu?.

- Um pouco... Então você está procurando um lugar para expor um artista?

- Exato. Meu artista tem muito disso que eu acabei de falar, é uma mistura de concreto com natureza, se é que faz sentido para você.

- E onde você achou esse artista? Tipo, como se ganha dinheiro com isso?

- Meu trabalho é encontrar artistas. Bem, eu vou para algumas exposições com vários artistas e, se tiver algo que me interessa, eu entro em contato. Às vezes eu estou no meio da rua e vejo uma obra, às vezes eu estou no Instagram e encontro um perfil que me interessa. Então eu faço uma proposta, eu encontro o lugar e exponho.

- As pessoas contratam você?

- Contratam, se quiserem. Mas eu gosto de encontrar novos artistas, é a melhor parte do meu trabalho. Tem aquela tensão de que talvez eu saia um pouco mais pobre do trabalho porque ninguém vai comprar as obras, mas também tem aquele sentimento de que talvez eu ganhe muito dinheiro.

Uma noite de casamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora