O que antes era meu território, perto da mesa de bilhar, de repente, virou território dela.
Eu já tinha jogado muita sinuca por aqui, o Santana, namorado da Karen, era meu parceiro contra os clientes, e a gente não tinha o costume de perder em casa, jogando com quem fosse.
Agora, no entanto, essa autoconfiança tinha ido pro rabo.
― Pode começar, Lindo ― Sofia falou, com uma mão apoiada no vão da mesa, enquanto eu terminava de passar o giz na ponta do taco. ― Quero retribuir a colher de chá que você queria me dar lá na praia... ― Ela tombou a cabeça com um sorriso sarcástico.
Eu sabia que merecia isso, por tê-la subestimado antes, mas não ia admitir.
― Não sabia que era tão rancorosa assim, Müller...
― Não sou, só que nesse caso você merece exceção.
Retribuí o sorriso fechado e, depois de jogar o giz na caixinha do suporte de tacos, fui em direção a ela pra tirar no jokenpô.
Eu estava tão na merda que até nisso perdi: seu papel matou a minha pedra, e não consegui evitar bufar. Cacete... Assim vou perder mais feio que da primeira vez.
Sofia riu baixinho e fez um carinho rápido na minha nuca antes de se concentrar na bola branca alinhada na direção das coloridas. Inclinou-se na mesa como fez antes, porém, dessa vez, não estava pra provocação. Enquanto ela ajeitava a posição do taco, aproveitei e dei um passo pra trás, conferindo as coxas mais expostas e subindo o olhar até a bunda pequena e redondinha, perfeita pras palmas das minhas mãos...
Isso me fez pensar em algo que poderia me ajudar neste jogo.
Mas, de primeira, deixei que ela fizesse sua primeira tacada em paz, e a sinuqueira, numa força certeira, conseguiu matar o um e o cinco, ficando com os números ímpares.
Na hora, ela girou o corpo pra ficar frente a frente comigo:
― Tenho duas perguntas ― ela disse mais animada que se gabando, o que me fez alargar o sorriso.
― Tem.
Como eu esperava, ela nem precisou pensar pra mandar as duas de uma vez:
― Que porra você falou de mim pros seus amigos? E quando foi? ― Sofia até deixou o taco de lado, encostado na mesa, e acrescentou: ― Pode contar tudinho, sem economizar nos detalhes, viu.
Nunca mais vou botar um gole de vodca na boca, principalmente se vier da Paola.
Mas, dias atrás, eu tinha botado e não foi pouco.
Daquela madrugada, os putos nunca se esqueceriam, eu soube disso antes de trazer Sofia pra cá e escutar toda a zoeira interna pra cima de mim... Pelo lado bom, ela não tinha presenciado o meu estado. Não que contar não fizesse disso menos vergonhoso...
Não larguei o taco como ela fez, usei de apoio e distração disfarçada, porque sabia o que viria pela frente. Até por isso tentei atrasar essa história o máximo que pude. Adiantou porra nenhuma.
― No último sábado, eu vim pro Tribos, mas não pra tocar ― comecei a contar e, sem que percebesse, meu tom de voz ficou mais grave, de uma forma que fez Sofia endireitar a postura e diminuir o sorriso. Não era uma história cem por cento engraçada, como tinha parecido... Pelo menos não pra mim. ― Uma amiga da Paola que já tava me substituindo antes tocou com pessoal e... Eu fiquei bebendo com o Japonês no bar. Não vim pra encher a cara, só queria sair um pouco de casa, esvaziar a cabeça, escutar uma música ao vivo... Qualquer coisa que me fizesse parar de pensar em você. ― Por um instante, uma onda de aflição tomou o rosto de Sofia, por um curto instante, porque não deixei que fosse além disso: ― Não era porque a saudade tava foda ou porque eu queria te esquecer... Olha pra mim, Linda ― pedi quando ela desviou os olhos agora sem brilho. Sofia obedeceu pra ver eu me inclinando pra ela. Resolvi deixar o taco de lado também e assegurar, olhando firme nos seus olhos: ― Eu não trocaria o que a gente viveu por nada. E por saber disso que eu tava louco pra te mandar mensagem, pra te ligar, qualquer coisa pra te escutar de novo; só que não podia... Lembra do que falei no sítio? Eu tinha certeza de que era melhor te deixar em paz e esperar que você viesse atrás quando me quisesse de novo.
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Sua loucura (Vol. 2)
RomantikConteúdo: ADULTO (+18) Segundo livro de "Sua loucura".