CAPÍTULO VINTE E SETE (parte 2)

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Logo depois que me encontrei com Jefferson na praça de alimentação do shopping, pedi que mamãe me buscasse.

Júlia disse que pegaria um Uber até ao apartamento do Caio, e Ana Lu encontraria a tia Leyla no cinema, o que foi melhor do que oferecer carona a elas. Eu não estava no clima de fingir que nada estava entre mim e a minha mãe, na verdade, era bem o contrário: eu estava puta e queria estourar com ela como nunca antes.

Simplesmente não entrava na minha cabeça que ela me tirou de Coppélia e das aulas de ballet sem dizer nada! Eu quase deixei de ir à excursão porque, para mamãe, o ballet tinha que vir em primeiro lugar... Porra, ela autorizou que um professor do Rio fosse ao residencial para me ver, na sua ânsia de me fazer dar certo como bailarina! E agora isso?!

Bufei no momento em que vi o seu carro chegando ao acostamento do Morumbi e me preparei para jogar a mochila nos bancos de trás, antes de me sentar ao seu lado. Passou pela minha cabeça que seria melhor deixar para conversar só quando chegássemos em casa, só que logo depois pensei foda-se. Eu estava nervosa demais para esperar, já tinha ficado quieta por muito tempo: a hora era agora, sendo certa ou não.

Mamãe enfim parou o carro, as janelas abertas, um sorriso e oi descontraídos. Não retribuí. Abri depressa a porta de trás, joguei a mochila sem nenhum cuidado, bati a porta, abri a da frente.

Bati com mais força que antes.

― Como assim você decidiu me tirar do ballet? ― soltei logo ao botar os olhos nela.

Ela não esperava por algo além de um oi, tudo bem, então a sua surpresa com a minha pergunta foi grande. Os seus lábios finos e bem desenhados, como eram os de Lara, se descolaram um do outro. Ela não deu partida no carro, apesar de não puxar o freio de mão.

― A Nina falou com você? ― em vez de responder, ela fez outra pergunta por cima da minha.

Isso fez com que eu bufasse baixinho: eu não queria que fosse ela quem ditasse essa conversa. No entanto, acabei esclarecendo com o tom de voz resistente:

― Encontrei o Jefferson. Ele me disse que tô fora de Coppélia e das aulas.

Era a primeira vez que eu pegava o papel principal no repertório da escola e a única chance que eu tinha de olheiros de diferentes lugares me perceberem. Eu não estava mais tão nova para uma bailarina, o papel de Swanilda era um dos bons e eu não tinha como saber se ano que vem, depois de me formar no colégio, tudo seria como antes... Sair dessa apresentação era uma sabotagem.

Eu não sabia dizer se mamãe não esperava que, uma hora ou outra, eu fosse me dar conta do que estava acontecendo, mas sua expressão dizia que não esperava por isso agora. Ela suspirou e desviou o olhar para o retrovisor do carro.

― Não posso ficar parada aqui... ― falou, tirando o carro do acostamento para dar a vez a outro. ― Coloque o cinto que a gente conversa quando chegar em casa.

Quando chegar em casa? Cerrei o olhar, desacreditada.

― Não vou mais esperar a sua boa vontade de falar a verdade pra mim ― soltei a primeira resposta que me veio à cabeça. Ela saiu depressa e grosseira, e quase me arrependi por ela... Porém, eu também acabava arrependida das coisas que nunca dizia à minha mãe, então se o resultado era o mesmo, melhor botar para fora. 

Por um momento, ela tirou os olhos da rua e me olhou de volta, ferida. ― Eu não menti pra você, Sofia.

― Não. Você tomou uma decisão no meu lugar e não me disse nada... Mas eu já devia estar acostumada com isso, né?

Percebendo que eu estava mais que afiada e nada feliz com o meu tom, mamãe decidiu ficar no estacionamento do shopping e parar o carro na primeira vaga livre que encontrou, de deficiente. Ao mesmo tempo que gostei da atenção, um tremor passou pelo meu peito quando ela puxou o freio de mão e desligou o carro. Nós conversaríamos mesmo.

Sua loucura (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora