CAPÍTULO VINTE E UM

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SOFIA

Saindo de casa. Te vejo daqui a pouco, Lindo ― enviei a Téo e nem esperei que ele respondesse: joguei o celular na mochila de couro e corri descer a escada, seguindo uma Júlia impaciente.

Diferente de Ana Lu, que poderia ficar horas tirando e colocando roupas ou demorando a se maquiar, Júlia não se empolgava nem um pouco com arrumação. Ficou pronta em uns vinte minutos, depois de colocar uma camiseta da Vans, shorts e All Star e fazer uma maquiagem prática, a não ser pelo delineador pesado. Enquanto eu me decidia se usava botas ou tênis, mandando fotos a Ana Lu por mensagem, ela deitou na minha cama e ficou jogando um joguinho de palavras. Começou a se estressar quando perguntei pela segunda vez se as minhas roupas combinavam com o Tribos e só respondia bufando enquanto eu fazia cuidadosamente a maquiagem ― nunca tive muita habilidade para fazer os olhos, por isso costumava a demorar um pouquinho neles.

Claro, não era a sua primeira vez no Tribos... Ou a primeira noite em que dormiria na casa do seu namorado...

Não que Téo fosse o meu namorado. Em uma semana inteira, me vendo todos os dias no colégio e até escapando comigo após as aulas, ele não sugeriu nenhuma vez que fosse...

No entanto, hoje em especial, eu tinha decidido não pilhar por conta disso ― uma decisão muito madura considerando o quanto eu reclamei sobre isso a Ana Lu.

Essa parte do meu fim de semana ao lado de Téo seria perfeita em todos os sentidos. Eu conheceria o Tribos noturno, coisa que eu estava ansiosa para fazer desde que fui lá no sábado passado; veria Téo tocar em cima de um palco todo iluminado ao lado dos seus amigos tão talentosos quanto ele; me aliviaria de todas as provas que fiz ontem, cantando dos rocks que eu costumava ouvir apenas por fones de ouvido; me divertiria com o pessoal de lá para depois me divertir debaixo do chuveiro de Téo, onde estaríamos finalmente sozinhos e fáceis um para o outro.

Para que namorar se Téo já era todo meu?

Além disso, tudo estava dando certo demais aqui em casa para que eu me importasse com um detalhe.

Mamãe viajou para Assis, para participar de um evento de Artes na Unesp. Foi hoje cedo e voltaria apenas amanhã à noite. Foi uma decisão de última hora, ontem ela avisou que acompanharia suas alunas de mestrado, que apresentaram seus artigos hoje à tarde. Decidiu dormir uma noite lá para se encontrar com umas antigas colegas, que lecionavam também em faculdade.

Na hora que mamãe nos avisou, o papai estranhou. Quando ela foi para o quarto, ele foi atrás, provavelmente para saber por que ela decidiu para essa viagem em cima da hora. Já eu fui envolvida por uma imensa onda de alívio, maior que qualquer outro receio por ela.

Com mamãe fora, eu sairia sem paranoia de que ela poderia esperar por mim na vaga mais próxima, para me vigiar em segredo. Isso fora a facilidade com que ganhei permissão para dormir na "casa da Júlia". Como o meu pai agora estava sozinho no comando, ele não demorou a negociar comigo que me buscaria na hora do almoço de domingo. Júlia estava no quarto quando pedimos a ele, então foi mais fácil fingir que estava falando a verdade.

Não que a minha consciência estivesse limpa nisso tudo.

Se para mamãe era difícil de mentir, pro meu pai era muito pior porque talvez ele me ouvisse se eu resolvesse ser sincera sobre Téo. Se tivesse certeza de que não contaria a ela, poderia até arriscar... E pelo menos um dos meus pais saberia o que se passa de fato na minha vida.

― É bom fazer o Téo te levar pra minha casa antes do seu pai sonhar que você passou a noite em outro lugar ― Júlia avisou antes de chegarmos à garagem. Papai já nos esperava no carro.

Sua loucura (Vol. 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora