Parte 6

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Quando os cookies ficaram prontos, Alfred preparou chá e chamou todos para fazer um lanche no jardim. Os cookies estavam uma delícia, Alfred direcionou todo o crédito de seu preparo a Jason, pois a ideia tinha vindo dele desde o início, com muita vergonha, Jason abaixou a cabeça em quanto era elogiado.

Ninguém ficou realmente surpreso quando Alfred dissera que foi Jason quem os preparou. Afinal, Jason era o preferido de Alfred — o que resultava no garoto tendo todo acesso sem nenhuma restrição à cozinha diferente do restante da família —, e o garoto amava cozinhar, então se ele fosse ficar o restante da semana eles passariam o restante dela vendo Alfred mimar Jason.

Mas isso não significaria que eles iriam ignorar o assunto para sempre, ele deveria ser falado. Eles precisavam saber sobre, o que eles sabiam sobre a infância de Jason era muito superficial. Nunca aprofundaram sobre o passado dele, o jeito como Jason ficava toda vez era o suficiente para fazê-los recuar e deixar o assunto de lado. Tiveram consequências? Sim, mas naquele momento eles apenas queriam que o garoto se sentisse confortável com eles e embora alguns tivessem suas suspeitas, a escolha de deixar de lado teve um preço à ser pago.

Após o almoço, Jason correu para a biblioteca na área leste da mansão. Um fato que ele gostava da mansão, as bibliotecas, se fossem procurá-lo levariam um belo tempo para que conseguissem achá-lo, por conta delas serem escondidas. E o tamanho da mansão com certeza influenciava.

Ele estava adiando? Sim, ele fez isso uma vida inteira, qual o problema de continuar fazendo isso em outra? Ele iria em algum momento falar, porém, enquanto ele pudesse adiar, ele iria.

§

Jason estava lendo o exemplar de morro dos ventos uivantes quando sentiu o celular vibrar no bolso. Quando o pegou, viu o contato de Roy brilhar na tela.

“Seja sincero, tá em qual?” Roy perguntou, Jason podia ver o sorriso de lado e o rosto franzido em preocupação apenas pela voz dele.

“Aquela cujo os primeiros raios de sol tocam.” Jason falou soltando um bufo divertido.

“Quê!?”

“ ... ”

“Ah! Leste!” exclamou Roy.

“Tô indo aí.” Roy falou antes de desligar.

Jason soltou um suspiro, claro que eles iriam ligar pra ele. Mas tão rápido? Ele pegou o celular novamente e olhou as horas. Certo.. se eles tentaram.

Não deve ser tão difícil de achar ele. Eles são vigilantes e ele ainda está com um celular!

“Oi...”

Jason olhou pra cima, Roy estava alí, sentiu seus olhos arderem perante o brilho da lâmpada e ele logo desviou o olhar para o livro enquanto Roy se acocava na frente dele.

“Hey Jaybird...” Roy chamou de forma leve enquanto levava a mão esquerda ao rosto do outro, o levantando para olhar para si.

Jason olhou para ele e logo fechou os olhos com força quando desviou o olhar. Roy mantinha a face gentil e cheia de carinho quando pegou o livro das mãos de Jason e o colou de lado puxando o moreno para si logo em seguida.

Roy se sentou no chão quando encostou suas costas na estante de livros e puxou Jason para sí. Jason se ajeitou no colo do outro e escondeu a cara na curvatura do pescoço do ruivo enquanto Roy fazia um cafuné e puxava de leve as madeixas negras para trás.

“Você sabe...” começou Roy enquanto continuava com o carinho nas madeixas negras do outro. “Até os mais fortes choram de vez em quando.” completou apertando Jason em seu abraço e apoiando o queixo na cabeça do outro.

E aquilo, foi o suficiente para Jason saber que eram apenas os dois alí, que seus irmãos e pai não o incomodariam, que era apenas ele e Roy. Mais ninguém. Ele estava seguro, ninguém iria vê-lo apenas Roy e como sempre, Roy nunca iria contar nada daquilo para alguém, ele continuaria alí, com Jason em seus braços enquanto o garoto colocasse tudo que doía em seu peito para fora. Esse era o lance deles, um sendo a âncora do outro, a camomila, um sendo o sol o outro a lua, as vezes trocavam de lugar assim como muitas as vezes que eles também conseguiam criar o próprio eclipse como Kori costumava uma vez dizer.

E Jason chorou, deixou tudo sair, não impediu nada de cair, se sentia como uma criança mas a criança que ele fora nunca teve ninguém que o pegasse no colo e ficasse o balançando enquanto ele chorava, ele tinha que ser forte, pela mãe. Ele precisava garantir o jantar, ele precisava garantir a casa arrumada, ele precisava cuidar da mãe, a criança que ele um dia foi jamais poderia fraquejar, pois uma vez que colocasse para fora ele se tornaria fraco. Ele engolia e seguía a rotina.

Mas ele não era mais uma criança, ele era adulto, e adultos também choram. Roy sempre dizia isso, “Uma hora, tudo ficará tudo bem, mas agora, é hora de colocar para fora. Cada soluço, cada choro, cada grito, seja como uma criança, afinal todos temos uma dentro de nós, deixe-na sair Jaybird, deixe sua criança chorar, deixe-a se sentir livre Jaybird, até os mais fortes choram. Você é um dos mais fortes que eu conheço, e tá tudo bem você chorar.”

E ele colocava todas as palavras não ditas para fora em forma de lágrimas, ele chorava, ele soluçava, ele gritava — mesmo quê seus gritos fossem mudos —, ele chorava como a criança dele em sua vida passada nunca pode. A ilusão de que quando voltasse os traumas da outra vida seriam apagados, a questão é que ele nunca realmente se foi, sempre esteve alí, sua alma foi marcada naquele momento e como uma maldição, seria algo que em todas as vidas ele carregaria.

§

O tempo passou, em algum tempo, que eles não saberiam determinar, Jason parou de chorar, agora Jason estava deitado espremido junto dê Roy com a cabeça na curvatura de seu pescoço, ambos na espreguiçadeira que alí têm. Jason com uma mão traçando as cicatrizes do ruivo por debaixo da blusa e Roy com a cabeça ainda apoiada nas almofadas da espreguiçadeira fazendo carinho na curvatura da cintura de Jason raspando as unhas de leve. E aquele momento teria permanecido somente deles e por longas horas até Roy perceber que Jason aos poucos ia parando de mapear suas cicatrizes por de baixo da peça de roupa e se entregando ao cansaço. Roy pegaria no sono não muito depois enquanto continuaria com o carinho na cintura do outro.

Perfeito não? Isso teria acontecido, se a grande família de Jason não tivesse interferindo com toda sua glória.

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