Love potion - 2 de 6

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      As pálpebras, pesadas e relativamente secas, abriram-se para revelar algo que odiavam: A luz do sol, clara e intensa brilhado através de sua janela.

      Albedo soube que o dia havia começado oficialmente quando, inconfortavelmente, ouviu batidas suaves e gentis ecoarem da porta de seu chalé.

      Albedo mal conseguira fechar os olhos aquela noite, como tipicamente acontecia.

      Alguns diriam que o conhecimento é uma bênção. Mas, como pra toda bênção havia uma maldição, aquela era a maldição que os inúmeros e infinitos conhecimentos de Albedo lhe trouxeram: insônia. Para ganhar algo, você precisa perder algo; Troca equivalente, a primeira e mais importante lei da alquimia.

      A mente do alquimista estava sempre funcionando, buscando respostas em meio às informações que já possuía, mesmo inconscientemente. E, por isso, na maioria das noites, não conseguia sequer fechar os olhos sem enxergar um enorme quadro negro, só esperando para ser preenchido com cálculos e possíveis experimentos que o loiro havia imaginado durante o dia.

      O que lhe rendia belas olheiras profundas e um olhar exausto.

      Albedo, a contra gosto, levantou-se do sofá macio, quente e confortável, levemente emburrado por ter tido seu precioso sono (ou algo próximo disso) interrompido, e foi até a porta de madeira nobre. Mesmo sem saber sua identidade, Albedo se permitiu amaldiçoar a figura atrás da porta.

      Girou a maçaneta dourada com uma cara de quem nunca havia visto o sol e logo pôde identificar os longos fios azuis, junto do típico tapa-olho. Não vestia seus trajes casuais. Ao invés disso, um grosso casaco, de um tom azul escuro levemente mais verde que seus cabelos e detalhes dourados, o substituía. Era Kaeya.

— Uau. — Exclamou, subindo as sobrancelhas em genuína surpresa. — Você tá acabado.

— Suas capacidades de observação me impressionam, capitão. — Albedo ironizou, já virando as costas para voltar para seu tão querido sofá.

      Não havia necessidade de tanta formalidade entre os dois. Kaeya conhecia sua casa com a palma de sua mão, cada canto empoeirado, cada rachadura, cada camada de tinta sobreposta uma sobre a outra. Odiava admitir mas, às vezes, quando Albedo estava muito exausto para realizar tantos trabalhos ao mesmo tempo, Kaeya o ajudava bastante a cuidar de si mesmo. Pelo menos uma vez no mês, o homem batia em sua porta segurando as mãos de Klee e o ajudava até mesmo nas tarefas mais básicas. Cozinhar, limpar, organizar suas coisas, cortar lenha. Kaeya fazia de tudo de bom grado, sem cobrar nada. Era realmente grato ao amigo.

— Fico lisonjeado. Vou anotar na minha lista de qualidades. — Informou, adentrando a casa quente e bem confortável sem cerimônias.

— Desde quando tem uma lista dessas?

— Desde agora. — Sorriu. — Mas então, eu vou direto ao ponto: como vai a poção que eu te pedi?

— Terminei ontem a noite. Tá ali no armário. — disse curto e objetivo, apontando o dedo para o armário grande cheio de frascos brilhantes de diversos formatos diferentes.

— Tente ser mais específico, senhor da alquimia. Em que lugar do armário, exatamente? — Analisou o móvel de cima a baixo, procurando algo que se assemelhasse a uma poção, notando que esse era o conteúdo de 90% do armário.

— Esquerda inferior. — Disse o alquimista, se enfiando no meio das cobertas, o que fez com o que sua voz saísse levemente abafada no fim. — Eu rotulei para você, cuidado para não pegar o errado.

— Você duvida demais das minhas capacidades, Bedo. — Chamou o apelido enquanto agachado em frente ao armário. — Não sou analfabeto.

      Albedo não se deu o trabalho de responder, e apenas soltou alguns murmúrios sem nexo algum que denunciavam seu cansaço.

      Se afogou ainda mais na coberta quentinha, a fim de se esconder da baixa temperatura do ar. O dia estava excessivamente frio naquele manhã, o que fazia o loiro buscar desesperadamente por contato de coisas quentes. Fechou os olhos, tentando cair no sono de novo. Mas ouviu, baixinho, o azulado levantando-se e indo silenciosamente até porta. Albedo quase achou fofo a jeito que o capitão tomou todo o cuidado do mundo apenas pra não fazer barulho e incomodar o sono do anfitrião. Muito quase.

      Ouviu a maçaneta girar, e sentiu a luz se apagando, mesmo com os olhos fechados. Kaeya estava mesmo preocupado com o sono do mais baixo.

— Ah, claro, eu já ia me esquecendo: Klee está com saudades de você. Está extremamente desanimada e não quer brincar de mais nada. Quando puder, vá ver ela, Bedo. — Kaeya disse, mais baixo do que estava falando a poucos minutos atrás.

      Sentiu a culpa tomar sua consciência, fazendo o núcleo de seu corpo se apertar. Estava tão ocupado com seu trabalho que havia esquecido de dar atenção à pessoa que mais amava no mundo. Que tipo de cuidador estava sendo?

— Kaeya. — O loiro se levantou, assim que ouviu o nome da garota ser citado. — Avise que vou buscá-la mais tarde, por favor.

— Não sei se está em boas condições para cuidar dela sozinho. — Provocou o capitão. — Além disso, como vai descer a montanha? Você está claramente doente demais para isso.

      Albedo sabia o que o azulado queria ouvir, e saber disso apenas o deixava com mais vontade de não dizer.

— Não estou doente, não fico doente. — O loiro contrapôs. — Mas se está tão preocupado assim, pode trazê-la. A casa é de vocês também, de qualquer modo.

— Ouvir você dizer isso é como música pros meus ouvidos, sabia? — Sorriu convencido.

— Sabia, sim. Você é estranho. — Alfinetou.

— Olha quem fala. Parece que saiu de um filme de terror.

— Espero que eu ao menos seja o carinha inteligente. — Comentou sarcástico, deitando de novo como num sinal não verbal de que queria cessar com as provocações.

— Tá mais pro monstro.

      Albedo, com toda a sua agilidade, agarrou uma das almofadas do sofá que dormia e jogou em direção ao capitão, ofendido. Para seu azar, Kaeya o conhecia bem demais. As mãos não falharam em agarrar o objeto, sorrindo ladino para o alquimista.

— Previsível. — Jogou o pequeno travesseiro de volta no sofá, bem nos pés do móvel. — Enfim, eu volto quando acabar o expediente, vê se não morre até lá.

— Vai trabalhar de uma vez. — Resmungou.

      O azulado soltou um suspiro pesado assim que fechou a porta e pisou na neve fofa fora da casa do alquimista. Estar ao lado de Albedo realmente mexia com ele.

Poção do amor; KaebedoOnde histórias criam vida. Descubra agora