Love potion - 4 de 6

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      Apertou a borda do lápis, traçando com cuidado o pequeno bloco de notas branco, com pequenas estrelas amareladas bordadas em sua capa de couro marrom.

      Era fato que, para Albedo, desenhar era um meio muito eficaz de acalmar a confusão e a cacofonia de seus pensamentos. As vezes, nas temidas noites que o sono não o alcançava e não conseguia dormir, Albedo pegava seu fiel bloco de notas e calmamente passava horas desenhando coisas quaisquer; como símbolos alquimicos, pessoas conhecidas, paisagens, plantas e animais etc

      Era como uma pseudoterapia. Sua mente se acalmava do turbilhão de pensamentos, se concentrava em uma só atividade e se tornava limpa, pura.
     
      E era engraçado pensar que, no mundo, existiam somente três coisas — Além da já citada — que paravam completamente a mente do alquimista.

1. Remédios; que produzia apartir da alquimia, e as vezes comprava os já comercializados, por praticidade.

2. Klee; que amava tanto que não conseguia tirar os olhos dela, quando estavam juntos. Queria protegê-la e cuidar dela a todo momento.

E, surpreendentemente:

3. Kaeya.

      Não é que Albedo tivesse algum tipo de apreço especial pelo capitão, não. Na verdade, suspeitava que o único motivo para Kaeya lhe causar esse efeito fosse a rotina que tinham juntos.

      Todo dia trabalhavam juntos. Todo dia Kaeya vinha até sua sala para lhe trazer uma xícara de café e contar alguma fofoca que havia ouvido por ai. Todo dia tinha de lidar com as provocações infantis. Todo dia Kaeya vinha até ele para checar se estava se alimentando e hidratando corretamente.

      Seu cérebro havia se acostumado com a presença de Alberich e, por isso, sabia que estava em segurança perto do mesmo, podendo assim descansar e deixar todas as preocupações de lado. Kaeya era sua lembrança constante de que também era vivo.

      O loiro afastou o bloco de notas, a fim de facilitar observar melhor o desenho. Olhou para o pedaço de papel em suas mãos, levemente sorrindo orgulhoso pelos desenhos que acabara de fazer.

      Uma ninhada de andorinhas, deitadas em um campo florido, sob um céu limpo e dormindo pacificamente.

      Albedo gostava de se auto-orgulhar.

      Levou as mãos até o elástico em seu cabelo, responsável por prender alguns de seus fios, e puxou-o. Albedo foi até o pequeno guarda roupas e observou aqueles pedaços de pano, analisando mentalmente se alguma daquelas roupas era confortável o suficiente para passar a noite. Afinal, pela primeira vez em muito tempo poderia dormir calmo, por conta da presença de dois dos seu três calmantes.

      Puxou, do meio dos panos, uma roupa que julgou ser confortável, e foi em direção ao banheiro. Ligou a torneira na temperatura mais quente possível e não tardou em entrar na banheira, escondendo-se do frio externo. O alquimista podia jurar que, se não soubesse que Klee e Kaeya estavam vindo até sua casa, dormiria alí mesmo na banheira quente e confortável. Mas infelizmente não era o caso.

      Depois de longos minutos submerso na água quente, o loiro tomou coragem para levantar-se e começar a se aprontar. Se vestiu, escovou os dentes, escovou os cabelos e preparou a cama dos dois visitantes.

      E, da porta, foram escutadas leves batidas baixas, sinalizando que uma criança fora a responsável por isso. Albedo sabia: eles haviam chegado.

      E então, calmamente, andou até a porta de madeira boa e a destrancou, puxando a maçaneta para dentro. Sem conseguir ver quem era (não que houvesse necessidade), Albedo sentiu um peso cair sobre si, abraçando o pequeno corpo de quem ele sabia ser Klee.

— Albedo!!! — A fina voz de infantil gritou, enquanto pulava em direção ao alquimista.

— Olá, Klee. Como vai, princesinha? — Perguntou de maneira carinhosa, ainda abraçando a  "irmã".

— Eu tava com saudades, Bedo! Você devia descer mais a montanha, guardei tantas coisas para explodir com você... — A criança disse, se soltando do abraço, meio tristonha, para analisar o sorriso doce que Albedo estampava apenas pra ela.

— Oh, Klee, eu adoraria explodir coisas com você. - O de olhos azuis disse, com o coração apertado. — Mas eu já te expliquei, não? Eu trabalho muito, muito mesmo...

— É, mas não vale. - A figura pequena inflou as bochechas e cruzou os braços, irritada. — Se tem tempo para trabalhar, tem tempo para brincar comigo!

      E Albedo riu com aquilo. Klee era terrivelmente fofa.

— Racionalmente, é verdade... — Fez um cafuné nos fios loiros. — Prometo tentar descer mais vezes, certo? — O alquimista dobrou seu dedinho, a fim de convence-la a fazer uma promessa de dedinho. O que foi rapidamente atendido, cruzando os dedinhos de tamanhos ridiculamente diferentes.

      Ainda no meio deste ato, Albedo ouviu alguém falsamente tossir, chamando sua atenção.

      Era Kaeya, claro.

— Oi pra você também, Kaeya. — O loiro disse, se levantando do chão que anteriormente estava agachado, ignorando Klee, que correu para dentro da casa, e encarou a figura mais alta.

— Então ela ganha um abraço e uma promessa, mas eu ganho só um oi? Você é injusto, Albedo. — Reclamou falsamente o azulado, cruzando os braços pra também encarar o loiro.

— Posso fazer uma promessa com você também, se quiser.

— E qual promessa você tem em mente, príncipe? — Kaeya disse, sorrindo ladino.

— Prometo que um dia tiro esse sorriso maldito da sua cara.  — Albedo disse, provocando mais uma vez o capitão.

      Kaeya riu. Genuinamente, riu. Desviou o olhar e deu uma risada gostosa, apenas para voltar a olhar Albedo, com um olhar que não aparentava ser provocativo. Na verdade, o capitão estava o olhando com puro carinho.

— Oi, Bedo. - O capitão iniciou a conversa novamente, sorrindo amoroso para o alquimista, que não conseguiu conter o impulso de devolver o mesmo sorriso. — Senti sua falta.

— Oi, Kaeya. — Revirou os olhos. — Nos vimos ontem.

— Tempo demais.

      Os dois então encerraram os olhares ali, saindo do transe esquisito. Foram em direção ao quarto em que suspeitavam que Klee estivesse, preocupados com qualquer coisa que a garota pudesse fazer.

      Surpreenderam-se quando encontraram as pequenas mãos travessas, mexendo nos jogos de mesa que o loiro guardava apenas para jogar com ela, com Kaeya e, as vezes, com Sucrose (quando a garota conseguia vencer sua timidez.)

      E o maior medo de Albedo se concretizou.

— Vamos jogar! — A voz animada pediu.

      Seria mesmo uma longa noite.

Poção do amor; KaebedoOnde histórias criam vida. Descubra agora