O ar quente soprou de seus pulmões, em uma bufada impaciente que denunciava sua frustração pelo que acontecera anteriormente
Seu plano fora um completo desastre.
Era de seu conhecimento, é claro, que saqueadores, mafiosos e vendedores ilegais apareciam no bar de seu meio-irmão. Nunca se importara, de verdade, em dividir taças ou até algumas risadas com alguns deles, mas sabia que, eventualmente, teria de usar isso ao seu favor.
Pelo trabalho.
Por mais que, olhando a primeira vista, não parecesse, Kaeya levava seu trabalho muito à sério. Passava noites (e as vezes até dias) com os olhos colados em papéis, escrevendo e revisando casos, virando e revirando-se na cama, pensando em soluções para os problemas da cidade. Seu esforço era tanto, que, uma isolada vez, chegara a desmaiar (O que rendeu belas broncas de Jean e Amber, que se preocupavam com o esforço excessivo colega). E isso fez com que o levasse a tentar realizar o plano.
Entraria no bar normalmente após tomar a poção, beberia com alguns deles até que ficassem bêbados e tiraria algumas informações deles. Simples e rápido.
Seria, se a poção não tivesse falhado completamente.
Não sabia dizer se tinha feito de propósito ou não, e odiava duvidar das capacidades de Albedo de lhe fazer algo gentil, mas algo não estava certo naquela poção.
Decidiu não o culpar, por hora. Não que ele não tendesse a fazer isso, mas Kaeya tinha uma pequena esperança de que, lá no fundo Albedo não o odiava tanto assim.
Havia algo no alquimista que, desde que haviam se conhecido, despertava um interesse peculiar no capitão da cavalaria. Não sabia dizer se era culpa dos pálidos fios que caiam tão charmosamente por seu rosto, se era a natureza inteligente e racional que, naquele ponto, era tão rara em Mondstadt, se era o frio e o silêncio que traziam à figura um ar misterioso, ou se era o olhar julgador que sempre lhe era direcionada, no começo da relação.
A verdade é que, para Kaeya, Albedo era um desafio. Um desafio que, com o tempo, foi descobrindo, desvendando e, por fim, conquistando. Os fios pálidos não caiam mais em seu rosto, pois, agora, eram sempre presos pela presilha que o capitão havia lhe presenteado. A natureza inteligente e racional, agora não parecia tão complexa, tal qual o frio e silêncio, que foram substituídos pelo calor: Da fogueira que o alquimista possuía em sua casa, pelos goles de café que dividiam, ou por conversas irônicas como as de mais cedo.
Pensou como, no começo, o sentimento pelo colega era completamente carnal. Mentiria se dissesse que não queria ver aquele rostinho sereno ser completamente bagunçado, que não queria ouvir aquela voz tão mansa sussurrar os pedidos mais indecentes em seu ouvido, enquanto o toque quente se espalhava por sua pele. Mentiria mais ainda se dissesse que não imaginava isso, ainda hoje, mas de uma maneira um pouco mais romântica do que anos atrás.
Balançou a cabeça, tentando espantar aqueles pensamentos impuros que insistiam em entrar em sua cabeça. Não deveria, jamais, pensar em seu colega de trabalho de tal maneira. Além disso, ainda estava meio frustrado por seu plano ter dado errado. Terrivelmente errado.
Começou a beber, tranquilamente andando com o planejado. Até que, em um momento, após o quinto copo, se sentiu levemente alterado. E isso não devia acontecer.
Kaeya parou imediatamente com a desculpa de que iria descansar após um trabalho pesado, saindo rapidamente do bar e indo até sua casa tentar tirar o álcool do corpo. Ainda teria de levar a Klee até a casa de Albedo, e não seria nada legal que a afilhada o visse daquele jeito.
Deitou-se um pouco na cama após tomar um banho (e alguns pensamentos impuros) e se vestir, e não tardou em cochilar.
Do seu jeito ou não, ele cobraria Albedo mais tarde.
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Poção do amor; Kaebedo
RomanceDois súbitos desejos que se misturaram e acabariam por se tornar somente um: a explicação de um certo alquimista mal organizado sobre o porquê das poções não funcionarem.