CAPITULO 1

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Coração indomável

VINTE E OITO ANOS ATRÁS ..

Silvana

O povo todo estava aqui no enterro do filho do fazendeiro mais temido dessa cidadezinha abandonada esquecida por Deus, as velhas fofoqueiras se vestiam de preto se fingindo de puras e santas com rosários nas mãos chorando com lagrimas falsas ao redor da madrinha, que desde que recebeu a notícia que seu único filho caiu do cavalo e morreu ela esta assim como se não houvesse mais motivo para viver nesse mundo.

Ela pega um punhado de terra nas mãos e começa a jogar no buraco o povo todo se aproxima quase a sufocando, uns com amor pelo menino e pela madrinha que ao contrário do marido tem o coração bondoso demais. Já outros estão aqui pela fofoca mesmo.

Enquanto o povo lamenta e chora as veias fofoqueira começam a sussurrar pelas minhas costas, falando das minhas coxas grossas e meus seios que são grandes num vestido curto desse, falam do meu cabelo cor de fogo e que minha mãe deveria ser uma pecadora por ter morrido no parto.

Olho para elas dando um sorriso ,as olhando de cima embaixo abro minha boca para responder mas quando eu vejo o garanhão negro e Santiago montado em cima dele eu me calo ,sua imagem autoritária faz todas se calarem seu olhar é intimidador ,ele da uma olhada nessa gente toda com desprezo ,todos se afastam para que ele passe ,mas ele não faz nem parece que é o filho dele que está sendo enterrado ali seu único herdeiro ,já que a madrinha esta velha e não pode dar mais filhos a ele .

E todos sabemos que ele se casou com a madrinha não foi por amor, estava de olho nas terras dela e no que essa união traria para ele, mas existe uma terra que ele mais deseja é a terra que faz divisa com o riacho e a fazenda dele, se chama Riacho Doce o avô da madrinha que logo também vai para o inferno ou céu não sei, é o dono daquelas terras e não abre mão.

Santiago Ferraz dá a volta com seu cavalo negro e vai embora, eu olho para a madrinha que quando vê o marido indo embora fica arrasada .

- Vamos madrinha.

Me aproximo pegando em seu braço para que ela se segure me mim, enquanto ela vai andando ela vai recebendo do povo as condolências, os olhares de piedade e compaixão, e esse povo todo chorando vai andando até a fazenda.

As santas da cidade não perdem tempo fazem questão de seguir na frente com seus vestidos pretos e seus coques bem apertados em suas cabeças.

- Ainda bem que ela tem uma menina igual a você.

Uma delas diz olhando para mim, mas sorrio com falsidade.

- Agora mesmo falava do tamanho dos meus peitos.

Ela me olha escandalizada levando a mão na boca, as outras parecendo urubus se juntam a ela me olhando com raiva e desprezo.

Assim que chegamos na fazenda acompanhei a madrinha até o quarto dela, olhei para a sua fiel cozinheira que esta parada na porta chorando também ,enquanto o casarão vai se  enchendo de gente.

-Va trazer uma sopa pra sua patroa não fica parada aí não.

Ela me olha de cima embaixo, sua pele morena, seus cabelos lisos e olhos de quem sabe de muita coisa, ela leva a mão na cintura me encarando com desagrado.

- A patroa quer uma sopinha de mandioca.

- Não minha querida eu não quero nada, só a morte para tirar esse vazio de meu peito.

A cozinheira corre e abraça a madrinha e as duas choram .

- Fala isso não dona Judite o que esse mundo vai ser sem uma pessoa como a senhora.

Coração Indomável 15/10 SERÁ RETIRADAOnde histórias criam vida. Descubra agora