Como foi o seu primeiro beijo?
Romântico? Constrangedor? Confuso? Nojento? Ou prefere guardar essa memória até o seu túmulo?
Meu primeiro beijo foi aos quinze anos. Eu li sobre beijos nos livros que o tio Ford escondia na biblioteca, foi muito fácil encontrar. Quanto mais lia sobre as donzelas que conheciam cavaleiros gentis e trocavam cartas com flertes tão poéticos, e então, ao fim do livro, seus lábios se tocavam com timidez e eram felizes para sempre. O beijo do amor verdadeiro. O beijo que quebrava maldições. O beijo que fazia os sapos se tornarem príncipes. A ideia de um romance enchia meu coração de sonhos.
O nome dele era Mermando. Era um visitante em Gravity Falls, tinha um longo cabelo e seu sotaque era tão adorável que era como o canto das sereias. Minutos antes de sua partida, tivemos nosso primeiro beijo à beira de um lago, muito romântico! Dou sorrisos bobos com as lembranças daquele dia, do nosso nervosismo e a esperança juvenil que éramos almas gêmeas. Sinto falta do tempo que tinha fé em amores como aquele dos livros do tio Ford.
Mas lembrando bem, anos depois encontrei livros do tio Stan que descreviam muito mais que beijos. Só que isso é história para outro dia.
Arrependimento é uma palavra muito forte para descrever meus sentimentos em relação a eu ter beijado o loiro satânico, entretanto, não posso dizer que foi a minha decisão mais sensata. Eu estava com os pensamentos embaraçosos pela bebida e ambiente que me encontrava, se estivesse sóbria e em ambiente mais decente essa não seria minha atitude naquela hora.
O silêncio no retorno à casa de nosso anfitrião confirmou a estranheza mútua pelo meu ato inesperado. Eu estava entre querer quebrá-lo e dizer que foi um erro, nunca mais deve ser repetido, e outra parte de mim queria que aquele silêncio durasse tempo o suficiente para que essa memória fosse afogada no mar do tempo. Dois caminhos arriscados.
Fui recebida por Emily com uma xícara de chá e ajuda para vestir minhas roupas de dormir. Iria concentrar meus pensamentos em adormecer com rapidez e ter sonhos felizes, porém Satã envia seu servo para interromper meus planos:
-Eu posso dormir ao seu lado?
Era uma piada de mal gosto?
-Não. - disse de forma franca. - Disse ontem a noite que não precisava, então creio que essa noite também não lhe seja necessário isso.
-Eu sei o que disse, mas…
-Mas? Bem, se não preciso dormir, eu preciso. Uma boa noite.
Apago a vela ao lado da cama e esse homem sem modos reacende essa luz, frustrando o meu objetivo de ter paz.
-Mabel, não seja infantil. - ele se aproxima mais da cama. - É uma cama muito espaçosa, estará sendo egoísta se não dividir esse aconchegante lugar com seu marido que sempre te deu o melhor lugar para repousar. - sem mais nenhum juízo, ele deita próximo aos meus pés, poderia chutar seu rosto.
-Você está sendo infantil. - recuo meu corpo o máximo que consigo. - Se quiser mesmo dormir, vá atrás de um quarto ou deite no sofá que tem aqui. Minha bondade te permite isso.
-Sua bondade? - ele solta uma risada irônica. - Não me conte piadas tão tarde da noite, vamos acordar as pessoas. Agora seja uma boa menina e afaste para a esquerda, quero ficar com o melhor lado da cama.
Nem sonhando ele vai ganhar essa.
Rapidamente me viro para o suposto "melhor lado da cama", se vou ter que dividir, vou dar para ele o "pior lado da cama".
-Você quer lutar? Então vamos lutar.
Se eu contasse esse acontecimento a mim mesma tempos passados, não teria me dado crédito. Ele pulou em mim, literalmente, como um gato pula em seu dono. E Deus, como ele é pesado para um homem tão magro!
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Seja uma boa menina (Mabill)
Historical FictionNo fim do século XIX, na cidade de Gravity Falls, Mabel Pines vivia com seu irmão e tios uma vida tranquila e perfeita. A moça jovem, alegre, bonita e apaixonada pela vida precisa lidar com um enorme problema. Nascida em uma família rica, nunca acho...