Cap. 34: Não há mais luz do sol

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Uma vez sonhei que mil pássaros me levavam em suas asas para conhecer o mundo. Eu me sentia segura, acolhida e livre entre aquelas asas. O vento passeava pelo meu cabelo e o sol acariciava meu rosto, as minhas roupas eram as nuvens macias de um dia agradável e durante a noite eu adorava as estrelas. 

Sempre desejei voltar para aquele sonho, ter aquelas sensações mais uma vez. Em muitas noites esse era o desejo das minhas orações, e eu estou começando acreditar que minhas preces foram atendidas.

Estar casada (verdadeiramente casada) era como voltar para aqueles pássaros. Bill era meu sol, minhas nuvens, o meu vento, minhas estrelas, ele era aquela sensação. Meu novo Bill, meu novo marido era assim. Deus, eu aparento está sendo uma mulher tão exagerada e é tão incompatível com os pesadelos que eu tinha quando me casei. 

Em meus pensamentos íntimos, gosto de afirmar que tivemos um romance reverso. 

A maioria dos casamentos ao meu redor se iniciavam com felicidade, sonhos e esperanças. Logo chegavam as discussões, então o medo, a solidão dentro de uma casa cheia, a frieza e a desconfiança, quando menos esperavam eram pessoas estranhas dividindo uma vida.

A amargura vivia em meu coração quando imaginava que nem pude ter o direito de ter as desilusões de um matrimônio, havia pulado etapas e já odiava meu marido. Não seria certo dizer que sou uma pessoa sortuda por ter trocado essas cartas do jogo, posso dizer que fiz minha própria sorte no fim das contas. Que aos poucos, que com intenção ou não, fui capaz de quebrar aquela casca de homem que o meu marido vivia e pude conhecê-lo de verdade, ter um casamento de verdade. 

Ainda havia medos, existia meus segredos e minhas precauções. Se Bill fingiu para tantos que era uma boa pessoa, por que não seria um mentiroso para mim? Porém, o que ele tinha a ganhar dessa vez, eu sou a sua esposa, tão vulnerável em seus braços e ele poderia me quebrar tão facilmente, e não o fez.

E se realmente for um dos seus truques crueis, eu não queria ser informada da verdade. Queria me afogar mais um pouco nesse sonho, permitir que nessa casa possa existir uma felicidade entre seus corredores, quartos, jardins e salas. Por semanas e semanas estávamos espalhando essa felicidade onde repousamos. Por que não aceitar essa deliciosa ilusão?

Depois de uma adorável festa de chá com amigas de longa data, com fofocas das novidades triviais da cidade e premonições errôneas sobre banalidades, fiz uma rápida visita ao mercado da cidade. Fui atingida por recordações das minhas fugas sórdidas, por um mau hábito, passei em frente do meu antigo ponto de encontro com Heiko, aparentava estar vazio há tempos. Talvez ele tenha voltado para a Europa, ou encontrado outra mulher para se divertir, ou simplesmente voltando a viver com a prima.

Ele sentiu minha falta por quanto tempo? Eu seria uma amante que ele sempre guardaria em suas memórias? Ele pensava em mim antes de adormecer?

Não sei, pouco me importa. 

Para mim ele não fazia diferença mais, uma pedra no meio do caminho.

Se eu pudesse voltar atrás e trocar todos aqueles meses desperdiçados por horas com meu marido, eu o faria. Dizem que todos os erros nos trazem conhecimento e sabedoria, mas do que eles me servem agora?

Todo o real conhecimento sobre prazer eu tinha em minha própria mansão, apenas demorei para me abrir a ele. Ter abraçado ao meu marido pôs o fim em momentos desconfortáveis para longas horas de ternura. Santo Deus, estamos assim há poucos meses e já é tudo tão bom. Eu gostaria que tudo ainda fosse bom antes dela aparecer.

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⏰ Última atualização: Nov 26, 2023 ⏰

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