Aguardado Herói das lendas ou não, ninguém é bem-vindo ao surgir seminu, desesperado e, muito provavelmente, esbanjando uma aparência fora do comum para o lugar, mesmo ele sendo criado pela sua própria mente. Então, consciente de tal fato com base em suas próprias vivencias durante a juventude, Cody hesitou ao dar o primeiro passo rumo ao vilarejo, optando por avaliar o perímetro de trás de um largo tronco.
Para a sua infelicidade a vila está enfestada de criaturas similares a que ele encontrou na floresta, todas com as suas grandes orelhas saindo dos cabelos escuros ou extremamente brancos e compridos, assim como as garras, diferentes das vestimentas dos seres esguios que, aparentemente, não gostam de vestir muito bem, preferindo usar trajes compostos de peças que aos olhos do Cody mais parecem trapos e retalhos, mas que no momento virão a calhar.
Rodando a vila procurando pelo alvo perfeito, Cody finalmente nota que o seu trabalho será um pouco mais difícil do que imaginou. Talvez seja por conta da casa na árvore que tanto desejou na infância, mas não pode ter devido aos riscos, ou a sua mente simplesmente deseja sacanear com ele ao lhe apresentar para as diversas tocas feitas dentro dos enormes troncos ocos das árvores que não conseguiram crescer tanto ou ter folhagem como aquelas que vivem dentro da floresta, porém, elas compensam em sua capacidade de alocar seres vivos dentro delas.
As árvores ocas circundam a clareira, uma ou outra ultrapassando os limites da vizinhança. Próximo do seu esconderijo, Cody avista uma das tocas e através dos buracos nas laterais simulando janelas naturais, ele alegrou-se ao não avistar ninguém. Sorrateiramente, o Herói avança entre as árvores comuns até se aproximar da toca, onde parou e voltou a olhar para o centro da clareira vendo as criaturas lá reunidas, graças a tal movimento cauteloso, Cody se deu conta de que a vila enfestada que imaginou a primeiro momento, se trata apenas de um amontoado de pelo menos vinte – ou um pouco mais de orelhudos.
Finalmente algum refresco; ele comemorou e então, saltou por entre uma janela rolando para dentro sob a luz esverdeada de uma lamparina posicionada ao centro da toca. Em cada oposto a sacos de dormir e paralelo ao buraco de entrada, há alguns objetos organizados; um baú mediano, algumas combucas de barro vazias e um jarro. Sem pestanejar, Cody abre o baú avistando algumas roupas guardadas deixando-o a ponderar por alguns segundos se deve ficar aliviado ou não pelos trapos...
— Sinto por não poder lhe fornece nada melhor.
A voz cansada ecoa pela toca congelando os movimentos do Cody, que por um segundo, desejou ter ficado com o garoto de olhos azuis e a criatura que desaparece e reaparece com comentários inconvenientes. Acorda, acorda, acorda...; ele implora enquanto respira fundo tomando coragem para só então se virar.
— Não precisamos criar nenhuma confusão. — O Herói afirma, erguendo as mãos.
É uma criatura como as outras, mas essa parece mais cansada tendo as pontas das orelhas acinzentadas e com rugas mais aparentes, embora, sejam difíceis de notar caso não preste atenção. A expressão, assim como a voz é abatida, os ombros caídos e cobertos pela cabeleira branca. Ela continua a encarar a lamparina mesmo quando o Cody volta a falar:
— Só preciso de algumas roupas.
— Eu notei. Fique à vontade, as roupas do meu neto vão servir em você. — Ela alegou, engolindo em seco ao desviar o olhar para um dos sacos de dormir.
— Se você diz...
O murmúrio do Cody não fez diferença para a senhora, e pela maneira como ela caminhou até o suposto saco de dormir do neto para ajeitar detalhes que apenas os seus olhos nublados conseguem ver. Ela pouco se importa com a presença do Cody. Ainda cauteloso ele rapidamente pegou uma muda de roupas que estava empilhada junto com outra sobre o baú que atraiu a atenção do Cody por conta da necessidade da senhora de tê-lo escondido.
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Raeken - A Lenda de Uma Chímera
Fiksi PenggemarHá muito tempo atrás, antes até mesmo de eu chegar neste mundo, os mares se tornaram revoltos e rios passaram a secar dia após dia. O céu fora domado por enormes nuvens repletas dos mais furiosos relâmpagos que substituem a luz dos astros. O vento p...