Mais um capítulo para a nação pedresa e, mesmo que curtinho, é decisivo e muito especial!!
BOA LEITURA!!______________________________________S2_______________________________________
A decepção é um sentimento que coroe a alma daquele que deposita algum tipo de confiança em outro indivíduo. Mistura-se a mágoa, com uma colher de tristeza e uma pitada de ódio, e assim temos a receita para uma pessoa desiludida.
Pedro confiou em Teresa como esperava que ela também o fizesse. Apesar de esconder certas coisas fundamentais de sua vida, ele sentiu-se enganado, não apenas por ela ter mentido, "eu perguntei e ela negou", mas por ter aceitado o convite de outro rapaz em seu lugar. Ciúmes.
- [...] Pedro? O que faz aqui? – ela estava, visivelmente, nervosa.
- Eu? Eu que vos pergunto, senhorita! – era perceptível o seu descontentamento; ele queria desafogar- se em lágrimas, porém não naquele momento. – Há semanas que vos peço... – pausou e suspirou. – Non, não posso fazer nada se a senhorita abomina minha companhia! – ele iria se retirar se não tivesse sido impedido.
- Pedro, pare com isso, per favore! As coisas não são como você pensa... eu nunca abominei sua presença, pelo contrário! – falou em um tom levemente desesperador e logo se aproximou, sussurrando – Labirinto de camélias, ao entardecer, sí? – o olhar que direcionou a ele não poderia ser negado.
- Vá bene, Teresa. – findou ríspido, mirando o rosto do sujeito que acompanhara sua amiga com fúria.
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Aquele dia parecia mais escuro do que o costumeiro; as nuvens pesadas e o frio ar invernal deixavam o ambiente mais tenso. Pedro cumpriu o combinado com a italiana e partiu para o escuso jardim de D. Amélia de Castella; ela já o esperava, mas não sentada no banco de madeira, e sim no tronco de uma velha árvore caída, lendo o livro que ele lhe havia dado.
O jovem aproximou-se e pareceu que ela sabia de sua vinda. Para falar a verdade, Teresa sentiu que Pedro a entenderia, que estaria disposto a escutá-la, porque, no fundo, apesar do pouco tempo de convivência, era como se suas vidas já houvessem se cruzado em outros tempos. Era uma amizade pura.
- Estou aqui, senhorita Infanta. – o rapaz falou já sentado no pedaço de madeira arranjado entre os arbustos floridos.
- Primeiramente, PARE de me chamar assim! Prefiro que meu futuro marido me trate dessa maneira do que você. – a menina estava apreensiva com as atitudes do herdeiro de Calábria.
- E o afortunado seria o seu acompanhante do museu? – era nítido o olhar ciumento dele mesmo não o mirando.
- Dio Santo, está com ciúmes... de mim?
- Teresa, por favor, não mude o rumo da conversa! Estou chateado por você ter recusado meus convites para se encontrar com um... qualquer. – respondeu com desdém ao se lembrar do dito cujo. – Você me disse uma vez que eu sou, ou pelo menos era, o seu melhor amigo, o único!
- E ainda é, sempre será! Nunca encontrei alguém tão especial como você, que entende tudo o que sinto porque sente o mesmo! – suspirou pesadamente. – Pedro, aquele homem não é um pretendente. – ela mirou o fundo dos olhos azuis do moço. – É um professor! – suas orbes se arregalaram em indagação.
- Como disse?
- Eu pretendia te contar, em algum momento... – a última parte da frase foi quase inaudível. – Meu pai jamais permitiu que eu frequentasse uma universidade, disse que preciso me preparar somente para o matrimônio – o Bragança pigarreou – Aí, Pedro! Sabes muito bem das minhas paixões, principalmente pela história, arte e...
- E arqueologia! – Tudo começava a fazer sentido e o arrependimento bateu ao se dar conta de como havia sido injusto com ela.
- Sim! – desviou o olhar para baixo – Então, é isso: aos domingos, tenho permissão para estudar no Museu Nacional em seu horário de fechamento. E aquele moço... – enfatizou a palavra - ... é Il senhore Bellini, professor de história da Universidade de Parma. Não sei como nunca o vistes?!
- Não me recordo! Bom... então você nunca aceitou sair aos domingos porque estuda no museu da cidade? – sua face era indescritível.
- Sei que o que deve estar pensando, porque é a mesma coisa que mio papa pensa.
- Isso, senhorita Infanta... é a coisa mais incrível que já ouvi! – ele sorria para ela feito criança. – Você é realmente corajosa, e brilhante. – segurou as mãos da jovem que estavam apoiadas em seu livro de astronomia. – Peço que me perdoe, por favor. Jamais a julgaria, cara Teresa! Muito menos por algo tão enriquecedor como isto.
- Ah, Pedro... – ela o abraçou emocionada. Estava demasiado contenta com a reação do amigo e isto a instigou a apertá-lo da forma mais afetuosa possível. – Grazie mille! – as lágrimas de felicidade corriam por suas bochechas.
O abraço estendeu-se por bons minutos que pareciam a mais bela eternidade. Teresa chorava calmamente nos braços de Pedro, enquanto ele, após um momento de vergonha posta a ruborização, a entrelaçou pela cintura, tranquilizando-a ainda mais. Permitiu-se também passar as mãos pelos sedosos cabelos negros que cheiravam a jasmim, repetindo que ela sempre poderia confiar nele.
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Domingos, chuvosos ou ensolarados, foram ressignificados; Pedro agora acompanhava Teresa em suas idas ao museu, por vezes aprendendo, por vezes ensinando, mesmo que ainda sentisse pontadas de ciúmes do professor que auxiliava a italiana. Eles aproveitavam as manhãs intercambiando experiências, ele conhecendo mais e mais sobre arqueologia e ela, sobre astronomia; a herdeira de Zaragoza adorava o falatório do amigo acerca dos corpos celestes, sobre o quão vasto era o universo e as estrelas que o compunha.
Para o futuro duque, saber através de Teresa sobre as escavações de Herculano, as riquezas das pirâmides egípcias ou sobre os segredos das pinturas medievais era como ouvir a mais bela melodia da natureza.
- Mais um domingo de aventuras passadas, cara Teresa! – falou Pedro enquanto paravam em frente ao palacete de Castella. – Eu nunca pensei aprender tanto em tão pouco tempo.
- Io também non! Estes passeios são realmente construtores. – Mesmo em cima dos cavalos, o casal de jovens estava tão próximo que sentiam as respirações mútuas e descompassadas.
Eles miravam seus lábios com certa ânsia, pois ambos os olhares foram mudando com o passar dos dias. Onde antes havia apenas cumplicidade, agora habitava sentimentos que nenhum dos dois tinha sentido antes; o coração disparava quando as horas passavam e o encontro ao entardecer se aproximava; os orbes brilhavam, o sorriso se apresentava e a pele se arrepiava ao simples toque.
- Creio que seja melhor entrar! Mios pap... – pigarreou com erro – mios tios devem estar me aguardando para o chá rotineiro. – ela se aproximou um pouco mais, sentindo o corpo do rapaz tremer e depositou, inocentemente, um beijo casto em sua maçã, trazendo para sua face o vermelho mais intenso que conseguira. – Obrigada, Pedro... Per tutto! – Teresa puxou as rédeas de seu garanhão guiando-o para dentro dos grandes portões, deixando também o moço extasiado com a mão pousada na região do melhor beijo que já recebera em toda a sua vida.
Ao fundo de tudo, duas meninas curiosas observavam a despedida da irmã com o conhecido desconhecido. Elas cochichavam e riam do quão meloso era o romance da mais velha, que sequer dava um beijo de verdade em seu prometido. Teresa, ao passar pelo corredor que levava aos aposentos da família recebeu o olhar desconfiado das jovens, que pareciam mais risonhas que de costume.
- E então? O que mias sorellas estão bisbilhotando desta vez? – tirou o chapéu e pôs as mãos na cintura marcada.
- Acalme-se, Tina! – usou um apelido carinhoso para dissimular. – Não fazíamos nada demais. – afirmou Isabella.
- Exato! Só estávamos decidindo a cor de nossos vestidos para comparecer em seu casamento! [...]
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Camélias de Amélia - PEDRESA
FanfictieUm lindo labirinto de camélias e dois jovens nobres italianos que nunca se viram, mas se conhecerão da maneira mais pura e verdadeira para que, posteriormente, vivam uma vida inusitada em cada sentido pessoal. *Autoria própria