I - Don't sit down 'cause i've moved your chair.

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"Morda um raio e me diga qual é o gosto

Lute kung-fu em cima de seus patins

Dance a macarena no covil do Diabo

Mas só não se sente, pois eu movi sua cadeira."

— ARCTIC MONKEYS

A claridade que invadiu o quarto de Liza naquela manhã denunciava duas coisas: mais um dia de verão e seu atraso para o trabalho. Não que ela precisasse estar lá em um horário certeiro, ou bater ponto, ou qualquer uma dessas coisas de quem tem um trabalho formal. Mas, assim como tudo que regia sua vida, aquele era mais um degrau em direção ao seu sonho. E isso, sim, era muito sério.

As lembranças da noite passada não voltaram de imediato assim que se levantou. Talvez porque a dor de cabeça era tão forte que ela só estava preocupada em primeiro acabar com ela. Tomou um banho gelado e uma aspirina que Candice sempre mantinha na gaveta do banheiro, percebendo que já era a terceira vez que acordava naquela condição desde que chegara ao país. Ela nunca foi de beber muito na Califórnia, muito menos no Brasil.

Não olhou as horas até estar totalmente vestida e com os cachos rebeldes devidamente no lugar. Não achava certo realizar todo seu ritual matinal de higiene às pressas, deixaria para correr quando estivesse pronta. Ao olhar o relógio de pulso, viu que não estava tão atrasada assim, ela chegaria com no máximo vinte minutos de atraso.

Reparou no sutiã rosa de Candice pendurado na maçaneta de seu quarto ao sair de casa. E na frente do prédio, uma enorme SUV preta estacionada do outro lado da rua. Yoongi poderia ser mais discreto, pensou ela. Afinal, ele tinha outro carro.

Foi no ônibus que a ordem cronológica dos acontecimentos veio à tona. Ela lembrou da ligação de Jaehyun no dia anterior, o convite para o jantar da equipe. Ela aceitou, afinal, já tinha conhecimento da turnê e já era um pouco familiarizada com os meninos do grupo. Não tanto quanto Candice talvez, que foi convidada diretamente pelos outros membros. Lembrou-se do frio na barriga que sentiu no banco do carona da colega de quarto e do coração disparando ao vê-lo esperando na porta do restaurante reservado. Tudo nele causava as sensações mais inéditas e sufocantes em Liza, de uma forma que ela sempre tinha de dar um jeito de respirar fundo antes de falar qualquer coisa para disfarçar a rouquidão que a tomava.

Eles se sentaram lado a lado, como havia sido desde o primeiro jantar a que ela comparecera. Jaehyun era atencioso, carinhoso, do tipo que não deixava de conversar e rir com os amigos e, ao mesmo tempo, fazia Liza se sentir como se ele estivesse ali só para ela. Era uma sensação boa que ela não lembrava de ter experimentado antes.

Tudo bem que esse comportamento dele em relação havia se intensificado depois de, em um momento de euforia após a performance do NCT no Music Bank tê-los levado ao prêmio da noite, Liza ter tomado a atitude de beijá-lo ao chegar ao camarim. Não foi premeditado, e ela bem que tentou se desculpar pelo feito quase apavorada, mas Jaehyun não a deixou falar por muito tempo antes de ele mesmo repetir a dose, que foi interrompida pela chegada de Candice.

Desde então ele se mostrava daquele jeito: solícito e protetor. Entretanto, nunca mais tiveram outro momento igual, nem ao menos tocaram no assunto. Liza não sabia como lidar com aquilo. Não sabia lidar com romances no geral, já que nunca havia tido um e não era lá seu gênero favorito de histórias. Mas olhando para Candice, sua melhor amiga alta, loira, escultural e a maior especialista na coisa, aquilo não estava indo pelo caminho que ela imaginava. Ela apostou que aquela fosse a cultura coreana, mas Candice – e também Jungkook – não a deixou pensar daquele jeito nem um minuto sequer: alegou que homens eram homens em todo lugar, e de que ele era apenas um homem um pouco mais ocupado do que os outros. Assim como todos do ramo.

Focus of my blur: filme IOnde histórias criam vida. Descubra agora