As más línguas a chamavam de outra coisa, mas Liza se auto intitulava econômica. Ela guardara boa parte de todo o seu dinheiro a vida toda, de todos os míseros bicos até os trabalhos assalariados. Foi assim que havia conseguido sair do Brasil e assim que chegou à Coreia. Mas aquele não era seu destino final, e, portanto, ela não retiraria dinheiro de sua poupança tão bem cuidada para obter coisas "supérfluas e desnecessárias" como ela costumava dizer.
Mas depois de sair do campus naquele final de tarde do meio da semana, ela começou a levar bem a sério toda a insistência ao redor para que ela comprasse um celular novo. Não ter um smartphone na era digital poderia causar consequências no mínimo incômodas e estranhas, como ter Jeon Jungkook estacionado do outro lado da rua, tentando se esconder por trás de um óculos escuro e boné.
Ela não o viu imediatamente, mas ouviu a buzina que ressoou pelo pátio inteiro. Ela olhou diretamente para ele, e, em seguida, para os lados. Todos ao redor estavam tão confusos quanto ela, o que significou que aquela convocação só poderia ter ido para uma pessoa.
Ela praticamente correu até a porta do motorista, tentando disfarçar sua irritação.
— O que você está fazendo? — perguntou entredentes, com um sorriso amarelo. Ele estava dirigindo sua Mercedes Benz magnífica. Céus, esses idols não sabiam disfarçar? As pessoas reparavam!
— Entra no carro. — ele também parecia irritado.
— 'Tá maluco?!
— Vou ficar se você não entrar agora.
Ela revirou os olhos e lembrou-se do quanto ele poderia ser teimoso, até mais do que ela. E uma cena entre dois teimosos não poderia rolar ali e nem agora, não depois que duas pessoas cochichando em conjunto começavam a observá-los por mais tempo e uma delas apontou o dedo descaradamente para Jungkook.
Ela correu e abriu a porta do carona, colocando o cinto de segurança enquanto ele arrancava dali.
— Será que é pedir demais que você compre a porra de um telefone? — ele disse antes de virar a primeira esquina, jogando os óculos escuros em algum lugar do carro.
— Eu já tenho um telefone.
— Eu digo um telefone desse século, de preferência um que você consiga atender ou ler mensagens. Você entende a forma básica de comunicação entre as pessoas?
— E você entende o risco que acabou de correr aparecendo desse jeito?! Afinal, o que você quer, Jeon?
Ele bufou e fez uma curva fechada em uma rua estreita, saindo logo em seguida em uma avenida de mão dupla e, depois de quatro minutos, estacionou a algumas quadras do prédio de Liza, em uma ruazinha sem movimento que ela nunca havia reparado.
Sem mais delongas, ele sacou o telefone do bolso e jogou-o no colo de Liza, respirando fundo.
— Quero que você me diga sinceramente: você sabia disso?
A página aberta no celular mostrava uma matéria datada recentemente de algum site de fofocas internacional, e a foto de capa fez com que Liza abrisse a boca em choque. Ela reconheceu o cabelo comprido de Ali, as curvas no biquíni estampado, as tatuagens espalhadas pelo braço. Mas ver uma foto de Ali curtindo um dia de sol nas Maldivas em um iate não chocava ninguém.
Mas uma foto em que ela beijava um cara alto e musculoso era, sim, um fato chocante.
Liza olhou para Jungkook, que mesmo apagado pela escuridão que se formava lá fora, ainda tinha uma expressão furiosa claramente visível.
— Isso é verdade? — Liza perguntou em um fio de voz e ele juntou as sobrancelhas — Quer dizer, pode ser uma montagem. Você como ninguém sabe que não se pode acreditar em tudo que postam na internet.
— Liza, quem me dera se isso fosse uma montagem. Isso saiu em absolutamente todas as páginas da internet e eu fiquei maluco, cheguei a desrespeitar o maldito tempo que ela me pediu e liguei para ela, mas pelo visto ela deve ter jogado o telefone fora, ou simplesmente me ignorou! — ele suspirou, encostando a cabeça no banco e olhando para frente. — Esse papo de tempo não passou de uma bobagem.
— Jungkook, também não é assim...
— Então o que é?! Olha para essa foto e me diz se ela ainda está apenas querendo que toda a poeira abaixe para voltar, se ainda tá tão mal que não consegue nem falar comigo...
Liza olhou a matéria mais uma vez enquanto Jungkook olhava para as paredes lá fora. Ela entendia de fofocas e fotos forjadas, e realmente aquela não estava parecendo nada falsa.
— Jungkook, eu não sabia. Ela não falou nada comigo, eu juro... — ela suspirou, de repente sentindo a necessidade de se explicar. Não era para menos: aquele era exatamente o acordo que haviam firmado.
— Isso não importa agora. — ele grunhiu, pegando o celular de volta. — Essa foi a melhor forma que ela encontrou para me dizer que acabou, não é? — ele deu uma risada seca, sem graça. — Só... Acabou.
Ela não sabia o que dizer, então eles permaneceram assim, em silêncio, por pelo menos um minuto inteiro. Ela procurava algo para falar, qualquer coisa, torcendo para que ele não chorasse.
— Olha... Talvez seja muito cedo para você tirar essas conclusões, vocês precisam conversar primeiro, ouvir o lado dela...
— Eu realmente não quero ouvir nada dela, Liza. — ele a cortou, colocando as duas mãos no volante. — Seja qual for a explicação. Mas tudo bem, isso também foi culpa minha. Fui muito idiota por pensar que eu poderia ter um relacionamento de verdade, que eu e Ali poderíamos enfrentar o mundo e que eu poderia abrir a droga do meu coração para alguém.
— Você não precisa desistir dessa parte da sua vida por causa de uma decepção, Jungkook. Sabe, vocês se gostam, por que...
— Claro que eu gosto dela! Me diz, isso 'tá adiantando de alguma coisa? Isso só... Dói. Sei lá. — ele balançou a cabeça. — É algo que eu não desejo para o meu pior inimigo.
Ele olhou para ela de canto assim que disse a frase.
Liza novamente não sabia o que dizer. Não sabia confortar as pessoas porque nunca recebeu tal atitude — a não ser de Candice, que ela achava exageradas demais. Ela nunca teve tempo para remoer sentimentos e decepções, ainda mais quando as infringiram nela. Não achava digno sofrer pela atitude de terceiros, apenas por suas próprias. Pensando assim, era fácil se levantar e voltar a lutar no outro dia.
Mas vendo Jungkook ali, claramente sofrendo e se contendo para não começar a chorar, ela teve uma sensação estranha de querer, pelo menos, dar-lhe um abraço. Era assim que ela via nos filmes. Mas os coreanos não gostavam muito daquele tipo de toque, então ela imediatamente se encolheu.
— Vou tentar falar com ela e entender a situação. — disse ela depois de mais um minuto de silêncio.
— Você não precisa...
— É o mínimo que eu posso fazer. Eu te garanti que ela estava em uma viagem sabática sozinha, então você entende que eu também 'tô surpresa com essa bendita foto e naturalmente espero alguma explicação.
— Tá, claro... Faz o que achar melhor. — ele deu de ombros, cabisbaixo. — Eu preciso voltar, eles estão me esperando na empresa.
— Tudo bem. — ela assentiu, desatando o cinto de segurança. — Ah, só mais uma coisa... Até que eu fale com ela, por favor, não faça absolutamente nada. Não usa a sua incrível capacidade de piorar as coisas. — ele apenas balançou a cabeça, não encontrando o ânimo para dar uma mera risada.
Liza saiu do carro, olhando para os lados para se encontrar no local desconhecido. A entrada da rua se abria perfeitamente para o caminho para o seu prédio. Antes de caminhar até ele, ela deu uma última olhada pela janela onde Jungkook já estava com os óculos escuros de novo.
— Mais uma coisa. — ela disse, levantando os pés para ficar visível. — Nunca mais apareça no campus.
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Focus of my blur: filme I
FanfictionComo se já não bastassem os problemas triviais da vida, ela acaba irritando um idol famoso sem querer. Isso pode ser resolvido com um acordo amigável ou com uma medida mais impopular?