Pingas caíam torrencialmente do céu completamente nublado, formando poças grandes ao longo do passeio de terra que ía dar à escola. Ektos não gostava da chuva assim tanto e desviava-se das poças sempre que podia. Por momentos, a chuva caíu com tanta força que parecia que caíam setas no chão. Como o percurso ainda era longo, decidiu ir pelo caminho mais curto a correr e abrigar-se no templo de Éola, onde rezou, como era de boa educação fazer até para o mais inocente dos visitantes. Éola é a deusa da sorte e uma deusa com um culto rígido. Representada normalmente com um ramo de trigo na mão, a deusa ocupa um altar em todas as casas, incluindo a de Ektos. Além disso, Éola era a deusa favorita da irmã Iúlia, o que lembrou Ektos de rezar á deusa para seu bem.
Em Elski, assim como em Altra e Gale, existem 3 deuses principais: Éola, deusa da sorte, fortuna e da esperança, esbelta e extremamente linda. A ela o povo recorria quando não via uma luz no escuro; Aferseu, deus da guerra, da metalurgia e da força, de barba grande, segurava um machado numa mão e um escudo noutra, sendo também muito forte. Este recebia as preces e rituais do povo antes de guerras; e, por último, Lertwin, ou "irmão esquecido", deus do Paraíso, descanso e dos mortos. A ele o povo atribuiu o poder de conseguir controlar as formigas, estas encarregues de levar os destroços do corpo do falecido para o submundo, onde se volta a juntar para viver no Paraíso. Lertwin era o mais desconectado dos irmãos, mas não desgostava deles. Ele tinha um olho vermelho e o outro branco e andava sempre com a sua capa com capuz.
Também existia o chamado deus Prapo, protetor da agicultura, e Alka, deusa da sabedoria e da sorte na guerra, mais acreditada pelas mulheres.Entretanto a chuva havia abrandado e Ektos despachou-se a chegar á escola, mesmo sabendo que tinha bastante tempo. Na verdade, queria chegar mais cedo para falar com o seu melhor amigo. Ektos levantou-se depois de rezar, deixando cair um dos seus pergaminhos no chão. Enquanto se agachava para o ir buscar, ouviu passos largos e altos, não mais do que a voz que se seguiu:
-IMPOSSÍVEL, Capitão Bart! IMPOSSÍVEL! - não eram berros mas ouvia-se claramente a voz de uma mulher, com um tom de fúria. - Não vai conseguir tirar o rei Gonza do poder hoje.
Ektos deixou-se ficar agachado a pensar no que ia fazer e no que estava a ouvir. Parecia informação bastante confidencial. "Se eu me levantar agora de certeza que morro pelo que acabei de ouvir... Matar o rei Gonza?! Tem sido uma época próspera para Elski..."
-Já ninguém investe no templo, Irmã Willspie! É a única certeza para garantir a religião! Este mês pode ser o seu último para si antes do templo ruir em dívidas...
Um silêncio sucedeu-se. O templo estava agora em total silêncio, á exceção da água que caía das mãos da estátua de Éola. O domínio do som da água rapidamente foi substituído pela voz da devota.
- ESTÁ BEM!... Mas se falhar, Capitão, SE FALHAR, a cidade inteira vai procurar o informador e as luzes vão estar atentas a movimentos da alta sociedade. Esta vai ser a sua única chance em anos... talvez até na sua vida! - a Irmã Willpie entregou um pergaminho ao Capitão Bart, que este abriu ali. - Faça-a valer! Leva aí o mapa do castelo. Não me desaponte...
Nesse momento, entrava um velho cego no templo, que ouviu a conversa. A longos passos, que o cego apenas ouviu e deduziu não serem muito alegres, decidiu virar-se e tentar correr. Como previsto, isto apenas piorou as coisas pois agora o cego não iria ver, muito menos ouvir. Caíu morto no chão, morto com uma espada pelas costas. E ali estava o Capitão Bart, bastava olhar para trás para encontrar mais um imprevisto, aquele pequeno rapaz que assistia a tudo, traumatizado pelo que vira, ainda mais pois conhecia o pobre velho, pela idade e carinho que o povo tinha, mas a sua cabeça passou por rezar aos deuses que o Capitão Bart não o vi-se. Nem a Éola nem qualquer outro deus o ajudou, pois, na esperança de encontrar mais imperfeições no cenário, o Capitão Bart olhou, encontrou, focou, e partiu para o assassinato, mas o rapaz era mais rápido, fugindo com avanço a porta do templo.
Muitas vezes gritou "Assassino!", mas muitas vezes foi ignorado pela multidão que se afastava para abrir caminho ao alarido de ambos. Um cenário, lamentavelmente, famoso por estas debandadas. O Capitão Bart também não parecia satisfeito e, com os olhos flamejantes e uma face demoníaca, perseguia o rapaz. Ektos, ágil, aproveitou para usar esse dom, pelo menos pelo momento para subir aos telhados e viu a chance perfeita por cima de umas caixas de galinhas acessíveis a subir. Nesse momento, começou a correr ainda mais, para ganhar mais tempo ao saltar, salto este que foi bem sucedido e deu origem a outro salto para chegar ao telhado. A partir dali de cima, o mundo era diferente, sem paredes que o parasse.
O rapaz correu e saltou como quis, olhou para trás, mas o facto do Capitão Bart ser corpolento não o permitiu subir aos telhados com a agilidade de Ektos, parecendo ser agora o fim da perseguição. Enquanto olhava para trás, não ciente do espaço á sua frente, esbarrou-se contra as costas de outra pessoa.