e naquele dia, a minha vida inteira mudou.
acordei sobre uma cama um pouco desconfortável, num quarto branco e vazio. não entendia o porquê de estar lá, mas minhas manhãs eram sempre as mesmas. então me sento na cama, bocejando. me levanto com dificuldade, me dirigindo ao pequeno espelho naquela sala.
— droga.. — reclamei. não entendia o que havia com meu olho direito. ele era totalmente preto, mas minha pupila era um vermelho escarlate. peguei um tapa olho branco e coloquei sobre meu olho direito, dando um longo suspiro. arrumei um pouco o meu cabelo branco com mechas escuras, e logo abri a porta para sair daquele quarto.
caminhei por um corredor escuro, que dava até a cozinha. e lá estava ela, uma mulher que se dominava a “minha mãe”. não acreditava muito nela porque era bem estranho, nunca vi uma foto minha quando era pequeno, e nem ao menos com ela. por que eu deveria acreditar de que ela era a minha mãe? sempre duvidei dela.
— bom dia, ken. — dizia a moça sentada sobre uma cadeira tomando uma xícara de café, com um sorriso simpático.
— bom dia. — então peguei minha bolsa e me dirigi até a porta, saindo de casa. os raios de sol atrapalhavam um pouco a minha visão e minha pele pálida refletia sobre eles.
já faz um tempo desde que escuto vozes e vejo sombras, mas não entendia o porquê disso acontecer apenas comigo. eu não conseguia dormir direito, então meu semblante cansado era notável, e por baixo dos meus olhos haviam olheiras enormes e escuras. não me importava muito com a minha aparência, achava que isso não ia fazer nenhuma diferença na minha vida.
caminhava até minha escola de ballet. sim, eu faço ballet. durante a minha vida inteira eu sempre quis fazer aulas, mas nunca comentei isso com ninguém por medo de ser julgado. além do mais, eu já sofria bullying na minha infância por ter um “jeito afeminado”, então achava que se contasse sobre isso com alguém, iria piorar tudo de imediato.
me direcionei em frente à porta da escola, suspirando fundo e arrumando minha bolsa em meus ombros. abri a porta, subindo as escadas e entrando na sala.
ao entrar, fui bem recebido. apesar de ser o único garoto na sala, eu gostava de estar lá porque sabia que não seria julgado. enfim, fui até o vestiário e vesti meu uniforme preto, voltando a aquela sala onde ainda estávamos no aquecimento.
a professora comentou com a gente sobre uma apresentação que iríamos fazer, que seria o lago dos cisnes. e eu seria o cisne negro, então eu tinha que ser perfeito.
me alonguei, começando a seguir as instruções da professora, que guiava cada passo meu.
mas então, no espelho, comecei a ver alguns reflexos de sombras, e vozes que gritavam na minha cabeça. todas elas diziam: “você tem que ser perfeito!” “ninguém irá gostar de você assim.” “só te amam quando você é perfeito e impecável!”
a professora simplesmente me soltou, fazendo minhas pernas quebrarem. elas foram para trás, ficando semelhante as pernas de um cisne. meus olhos estavam vermelhos, e penas negras começaram a surgir dos meus braços, sem parar. até formar grandes asas negras.
— eu.. estou.. — dizia eu, enquanto me levantava. minhas pernas já não estavam quebradas, elas estavam belíssimas. todos me olhavam com inveja, e meu ego subiu rapidamente. me sentia tão bem.
eu ouvi uma pancada na minha cabeça e acordei sobre o chão da sala, e todas as alunas estavam em volta de mim. acordei lentamente, percebendo o tapa olho que havia caído do meu rosto, então meu olho direito estava exposto. elas estavam assustadas, e eu fiquei mais ainda. cobri meu olho direito com a minha mão e saí correndo da sala, enquanto elas riam de mim.
eu corria sem parar, com lágrimas rolando em meu rosto. eu tinha que ser perfeito, não? não era isso que mais importava? a perfeição?
cortes começaram a surgir dos meus braços, e formavam a palavra “perfeição”. me perguntei o que estaria acontecendo, mas apenas segui em frente. as gotas de sangue caíam sobre o chão, que foram se tornando um mar imenso de sangue, e aquilo tudo foi cobrindo meu corpo lentamente, até a minha cabeça. não conseguia respirar, entrei em pânico.
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i was perfect - kaneki ken.
Genel Kurguessa história conta a trajetória de Kaneki Ken, um adolescente que era esquizofrênico. mas ele mesmo não sabia disso. foi diagnosticado com essa doença desde que nasceu, mas ninguém nunca contou isso à ele.