0.9 Custe o que custar.
Quando mamãe me acordou na manhã de um sábado dizendo que já havia me mandado minha agenda de compromissos das próximas duas semanas, eu sabia que eu ficaria cansado a partir daquela única ação.
Quando eu peguei meu celular e chequei todos meus compromissos nos próximos dias e vi algo de diferente do usual, quase gritei sem saber se foi de alivio ou frustração.
Minha primeira consulta com o psicólogo estava marcada para quinta-feira, um dia antes da primeira competição do mês de agosto e uma semana antes de setembro começar. Provavelmente por eu ser menor de idade minha mãe me acompanharia e contaria para o psicólogo como minha infância se passou e tudo que vem acontecido comigo ou que ela simplesmente nota diferença.
E depois eu teria de ficar sozinho com ele e com certeza ele perguntaria sobre meus pensamentos em relação a competição que aconteceria no dia seguinte. Provavelmente eu vou dizer três palavras e em seguida me calar com a garganta fervendo de lágrimas e esperar que ele adivinha o que se passa na minha cabeça.
Bem, pelo menos com a minha mãe é desse jeito que funciona. Se ele não tiver o poder de ler minha mente, infelizmente não vou poder mais comparecer na terapia e mamãe vai ter pago uma sessão inteira atoa.
— Que dia é sua primeira sessão?
— Quinta, um dia antes da primeira competição de agosto — Coloquei a chamada em viva voz e voltei a resolver algumas questões de química. — Olha como eu sou um cara sortudo.
— Toda vez que você reclama de fazer terapia uma fada morre — Soltei um riso pelo nariz. Sunoo pareceu escutar. — Vai rindo mesmo seu privilegiado. Você tem é sorte de seus pais te apoiarem.
— Me forçar a conversar com um estranho por uma hora inteira é dar apoio? Eles poderiam me dar um ingresso pro show do Black Pink que seria equivalente a quatro horas de terapia e seria um tempo e dinheiro muito bem gasto.
— Quatro horas onde, meu filho? As monas tem trinta e duas músicas. No máximo umas duas horas de show. Isso se a Lisa não fizer mil covers pra aumentar a duração né.
— Porra, você é fã ou hater?
— Sou Kim Sunoo — Gargalhei quase me distraindo dos exercícios. — Que é uma mistura dos dois, caso você não saiba.
— Beleza, são duas horas de show, mas isso não muda o fato de que faria mais efeito do que me abrir pra alguém que mal conheço.
— Aham, com certeza faria, confia. No máximo você ia ficar alienado na Jennie dançando o break dance de solo e esquecer dos problemas da vida por tempo indeterminado.
— E não é esse o objetivo da terapia?
— Já pensou um psicólogo passar anos estudando a mente humana pra chegar um adolescente do século vinte e um e dizer que o objetivo da terapia é ficar alienado em algo que não seja os problemas da vida?
— Já pensou, mano?
— "Mano" é o meu tataravô enterrado! — Ri. — Se liga no que eu to te falando, Sunghoon. Aproveita que seus pais estão te dando apoio e cai de cabeça na terapia mesmo que demore anos pra você formar uma frase sem chorar.
— Você é tão carinhoso. Consigo até sentir suas mãos acariciando as minhas costas. — Ironizei.
— Se eu estivesse aí estaria te dando uns chutes nas costas só pra você aceitar a terapia.
— Tão carinhoso... — Segurei um leve suspiro.
Não me chateei realmente por Sunoo falar tão rudemente, mas sim pelo meu orgulho ter sido machucado pelas verdades que ele disse. Eu realmente tenho sorte de meus pais estarem me apoiando e deveria me aproveitar disso antes que eles mudem de ideia, mas passar a vida toda escondendo meus problemas das pessoas que me criaram pra quando quase atingir a idade adulta ter de frequentar um profissional da saúde mental para aprender a lidar com os traumas que isso causou...
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Como Gelo, Sunghoon... (JAKEHOON)
Teen FictionSunghoon não imaginaria que sua vida se transformaria tão repentinamente com a presença de alguém novo. Sim Jake era um rapaz transferido da Austrália, o rapaz quieto e gentil não precisou fazer o mínimo de esforço para chamar atenção do galanteado...