CAPÍTULO 6

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*TW: talvez algumas pessoas se sintam um pouco engatilhadas com algumas falas ou situações nesse capítulo. Não tem nada explícito, mas algumas frases podem ser sensíveis à alguém (sobre relacionamentos abusivos e abusos).*

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Dor.

Tudo o que conseguia sentir era dor.

A recobrada de consciência de Mneme veio acompanhada das consequências da luta. Antes de perceber qualquer coisa ao seu redor, conseguia sentir as dores no abdômen, decorridas do corte profundo deixado por um dos Deviantes, mas pior ainda era o estado de seu corpo como um todo. Seus músculos estavam retesados, tensos e imensamente doloridos. Acreditava ser em decorrência da queda. E que queda...

Até mesmo o ato de abrir os olhos, uma tarefa teoricamente simples, necessitava de uma energia surreal para ser feita. E, para alguém cujo poder principal consistia na manipulação de percepções, a dela parecia estar totalmente avulsa a tudo. Não tinha noção de quanto tempo demorou para raciocinar que estava em seu quarto, deitada na cama e com Eros sentado, perdido na inconsciência, na cadeira ao seu lado.

Em outros tempos, onde ela podia – e conseguia, na verdade – se movimentar livremente, não hesitaria em contestar a presença dele ali, mas aquele não era o momento. E, mesmo que a contragosto, sentira o receio dele durante a luta. Receio esse não dos Deviantes, mas um receio por ela.

Aquilo trazia a sua memória períodos em que eles eram amigos. Não parceiros de luta, não ex-namorados, mas verdadeiramente amigos.

Era uma pena que uma relação desse tipo não era mais possível entre os dois. Ela nem conseguia estar ao lado dele sem sentir raiva. Uma raiva não pautada no ódio, mas no desapontamento.

- Eros. – ela chamou baixinho, se assustando com a fragilidade presente em sua voz.

Ele abriu os olhos lentamente e a fitou. – Como está se sentindo?

- Mal. – ela faz um esforço para se sentar, mas as dores a impedem. Olha para o homem ao seu lado com um pedido de ajuda nos olhos que logo é compreendido por ele. Eros se levanta e, servindo de apoio para as costas de Mneme, a auxilia na tentativa de sentar. – O que aconteceu depois que apaguei?

- Bom, você destroçou os Deviantes. – Eros esclarece, voltando ao seu lugar. – Todos entraram em colapso, foram simplesmente caindo um a um. Você ficou apagada durante dois dias, mas sua atuação foi... – ele parecia lutar com as palavras. – Formidável. Já a vi lutando, usando seu poder diversas vezes, mas nunca desse jeito.

- Aconteceu muita coisa desde que foi embora. – ela diz, meio atestando um fato, meio alfinetando.

- Desde que fui exilado, você quer dizer. – ele rebate.

- Foi exilado por manipular um dos nossos para satisfazer seus próprios desejos. Não vamos fingir que Daina o exilou porque quis. – a força com que ela joga as palavras fazem com que sua garganta, já dolorida, conteste ainda mais. Eros percebe e oferta um copo d'água que ela prontamente aceita.

Depois de alguns minutos de silêncio, o Eterno diz: - Por falar em Daina, ela aguarda somente a sua recuperação para realizar uma audiência aberta para julgar o culpado pelo ataque.

- O culpado? Achei que os Deviantes tinham "entrado em colapso". Ainda estão vivos?

- Os Deviantes entraram na cidade com a ajuda de alguém. – ele afirma.

- Quem? – Mneme questiona, mas percebe que Starfox luta consigo, analisando se deve ou não explanar a situação. – Quem os ajudou, Eros?

O homem toma um fôlego profundo.

OMPHALIC | DruigOnde histórias criam vida. Descubra agora