CAPÍTULO 11

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Como era possível um ser com milhares de anos se acovardar numa situação simples como aquela? Mneme sentia-se covarde porque, naqueles breves segundos entre pergunta e resposta, desejara com todo o seu íntimo que Druig respondesse que não, ele não tinha um minuto! Contudo, óbvio que, assim como quase tudo, as coisas não aconteceram da forma como havia desejado.

Então, como alguém prestes a enfrentar a forca, ela se dirigiu lentamente às cadeiras, sentando-se em uma e apontando para outra, convidando-o a ocupá-la.

Druig conseguia perceber sua tensão: no jeito robótico com que se movia, nas tentativas fracassadas de tentar endireitar a postura afim de passar alguma ideia de segurança e, acima de tudo, na forma com que Mneme evitava olhá-lo nos olhos. Por isso, ele sabia que, o que quer que ela estivesse prestes a dizer, não se tratava de algo simples. Portanto, deixou que ela tomasse o tempo necessário. Não interferiu em nada, não disse uma palavra sequer. Somente sentou-se e esperou. Se dependesse dele, ela teria todo o tempo que quisesse.

Mneme, por sua vez, percebeu o que ele fazia e não podia evitar se sentir agradecida. Veja bem, coisas como sentimentos estavam numa categoria de desconforto muito grande para ela, tratavam-se de coisas não tão pequenas às quais ela não se sentia confortável em trazer à tona. Era encantador acompanhar e assistir os sentimentos de outros. Ver a evolução do amor entre Daina e Valkin ou o de Ceyote e Helios havia sido muito bonito, mas ela não acreditava que aquilo era para si. Não depois de Eros, ao menos. Quando se tratava de amigos, o amor parecia fácil. Parecia certo. Porém, quando falávamos de amor romântico eram outros quinhentos, visto que a única forma em que ele havia sido vivenciado por ela, mostrara-se como algo falso, feio e manipulador.

Por outro lado, acabara de descobrir que havia vivido algo parecido em sua longa existência, mas que, por sua vez, havia sido roubada de si e do homem sentado ao seu lado.

Em resumo, o amor romântico não era fácil para ela. Disso ela tinha certeza.

- Druig, eu... – hesita. – Há algo que preciso contar.

- Sobre a missão? – ele pergunta, na tentativa de ajudar a quebrar a tensão.

Mneme consegue refrear o impulso de responder afirmativamente, de inventar alguma desculpa inescrupulosa para sair daquela situação... Mas não tinha o direito de negar a ele o que era seu. Aquela parte de sua própria história que lhe foi tirada. Ela também tinha certeza disso.

- Não. – responde, por fim. – Quando afirmei que Daina havia ocultado algumas informações sobre nossas histórias, como um grupo, falei a verdade, mas não toda ela. Bom, há alguns tópicos um tanto quanto sensíveis que não pude compartilhar com os outros.

- Mas vai compartilhá-los comigo? – Ele parecia estar fervendo com a dúvida. – Posso perguntar o motivo?

- O motivo é que o que tenho a dizer não diz respeito a nenhum deles, mas a você. – Mneme responde. – A nós dois, na verdade.

Aquela última frase gera um efeito em Druig que ele não esperava. Não é bem surpresa, mas o mais puro nervosismo. Ele sente uma sensação estranha nas mãos e sabe que, caso fosse humano, seria um indicativo de que suava pela expectativa.

- Nós dois? – pergunta, a voz falhando.

Mneme desvia o olhar para cima, como se estivesse tentando pedir ajuda aos céus para continuar aquela conversa e, depois de respirar fundo, retoma a palavra: - Posso ser completamente sincera? – Ele acena, ao passo que ela prossegue: - Não sei se você compartilha dessa sensação, mas desde que chegaram pude sentir algo diferente com relação a vocês. Alguma parte de mim parecia conhecer vocês. Reagir a vocês! No início, achei que pudesse estar relacionado a estar em contato com meus semelhantes, mas era uma explicação muito simplista e que acabava por não fazer muito sentido. Já tinha encontrado com outros, mas nunca sentira algo do tipo. – Mneme para durante alguns segundos, recuperando o fôlego. – Mas confesso que o que me deixava mais incomodada era o fato de reagir mais ativamente quando se tratava de você. E não digo somente em termos de sensação, mas em como eu consegui me abrir com você, estar confortável em sua companhia. Não tinha ideia se isso se tratava de uma impressão ou alguma memória residual, mas me sentia... familiar a você. E as lembranças de Daina meio que confirmaram isso. Tivemos... uma ligação mais especial. Mais... íntima. Entende o que quero dizer?

OMPHALIC | DruigOnde histórias criam vida. Descubra agora