dissonance' ⁘ jikook

⁘ vinte e dois: apaixonado

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Ⱏ Onze meses depois.

Sobre a escrivaninha no quarto de Jimin, estava seu notebook, junto de alguns cadernos, livros, blocos de anotações, agendas. Também havia na parede, um mural com avisos e lembretes bem organizados e no cantinho, um porta retratos com uma montagem que Jimin havia feito de seu pai e amigos próximos.

Uma música tocava baixinho no notebook e ele endireitou a postura na cadeira, esticando os braços para se alongar um pouco. Era quase meia noite, mas entre o curso que estava fazendo e o trabalho de meio período, não lhe restava muito tempo para estudar, de modo que se aproveitava de cada minuto.

Enquanto se espreguiçava um sorriso lhe veio ao rosto, ao que a introdução da música, chamou sua atenção e passou a cantarolar.

"I'm doing good, I'm on some new shit
Been saying yes instead of no
I thought I saw you at the bus stop, I didn't though
I hit the ground running each night
I hit the Sunday matinée
You know, the greatest films of all time were never made"

Ele sorriu mais e puxou o caderno para perto, apanhando uma caneta e se inclinando para a folha, mas antes de começar, cantou os próximos versos.

"But we were something, don't you think so?
Roaring twenties, tossing pennies in the pool
And if my wishes came true
It would've been you
In my defense, I have none
For never leaving well enough alone
But it would've been fun
If you would've been the one"

Com uma respiração profunda, começou a escrever.

Querido, Jun.

É quase meia noite e de repente você veio a minha mente, quando essa música começou. Você pode morrer de curiosidade, eu nunca vou te dizer que música é. Mas, já que ela chamou minha atenção e me interrompeu no meio dos estudos, acho que é justo contar porque me decidi por uma carta dessa vez. Você sabe, se bilhetes são retrôs, cartas são tipo, vintage chique. Sinta-se honrado.
Eu sei que a gente continua se falando todos os dias, nem que seja só um "bom dia", "como você está?", mas agora estou pensando que talvez tenham coisas que não caibam em uma mensagem, ou mesmo em uma ligação, talvez, algumas coisas, ou alguns sentimentos, só possam ser transmitidos por papel e caneta, ou talvez eu só esteja enlouquecendo depois de estudar tanto.
Jun, eu quero te dizer que você estava certo, uma paixão, nem sempre é algo que acontece à primeira vista, ou que vem rapidamente. Quando você me disse aquilo, eu fiquei pensando e querendo muito que você estivesse certo e acho que agora entendo melhor. Às vezes, o amor vem primeiro que a paixão e às vezes, perseverar te ajuda a perceber que está apaixonado e eu sinceramente, acho que finalmente estou. Eu ainda não acho que tenho o dom para isso, mas eu me sinto tão bem agora quando vou a aula, quando aprendo alguma técnica nova, quando ajudo meu pai com alguma coisa no restaurante. Sinceramente, em algum ponto, eu realmente pensei que não prestava para nada, que não tinha aptidão para fazer nada, nem para fazer algo que eu pensei que gostasse muito. Mas aqui estou eu, dez meses depois, debruçado sobre uma pilha de material, estudando até quando vou ao banheiro. Dá para acreditar? Ok, você já me disse que não acredita e eu ainda estou te devendo provas, embora eu continue achando que isso quebre completamente o protocolo das amizades, pois ele diz que se deve confiar plenamente.
O mesmo não se pode dizer sobre a minha vida amorosa, ela continua sendo um desastre, vou te contar aqui, em primeira mão (mesmo que a gente vá se falar antes dessa carta chegar), que terminei ontem com aquele idiota. Eu vou desistir, Jun. Eu juro! De hoje em diante, serei como você e apenas terei ficadas descompromissadas e desinteressadas. Vou me comprometer com a minha profissão e me tornar aquelas pessoas aficionadas que vivem para o trabalho. O meu pai pode me treinar e eu vou ser um carrasco na cozinha, descontando tudo em cima dos cozinheiros menos experientes. Guarde esta carta para a posteridade.
Ah! Eu vi uma coisa dias atrás, fiquei pensando se te falava ou não e como mensagens de texto tem como apagar e essa carta, uma vez enviada, não tenho como voltar atrás, vou dizer, pois acho que será algo positivo. Lembra como você me contou da última vez que desabafou, que estava se sentindo mal, que estava sendo difícil e pesado? Que tinha voltado a doer, como fazia tempo que não doía? Bem, foi do nada, mas uns dias depois eu estava saindo do curso e decidi fazer um caminho diferente até a estação e sim, ainda estamos nessa de evitar andar de carro sempre que possível, enfim! Eu estava indo para lá e passei por esse jardim, tinha uma senhora cuidando das flores e você, como bom intrometido que é, veio a minha mente. Então eu perguntei a ela que flores eram e ela me disse que eram Frésias. Não me pergunte porquê, mas fiquei com isso na cabeça. Quando cheguei em casa, fiz uma pesquisa sobre essa flor e descobri que o significado dela é "calma e essência da amizade". Vou te mandar uma foto que imprimi dessas flores e sinceramente, acho que você deveria ponderar tatuar ela, junto da sua família. Acho que ela ficaria bem ai, junto das outras, representando a Soeun. É uma ideia.
Queria perguntar se você tem tentado cumprir aquela promessa, mas como você já me pediu para não falar sobre isso, vou me esforçar. Olha lá, os sacrifícios que faço por você.
Enfim, eu sei que é bobagem estar fazendo isso, mas me deu vontade e eu não sou muito bom em me privar das minhas vontades. Ainda quero muito te visitar, embora infelizmente as coisas estejam muito corridas e ainda não sei quando vou poder, como sei que para você é o mesmo, vou continuar torcendo para que você consiga se manter bem, sem a minha inestimável companhia.
Até mais, Jun. Não se esqueça que eu te amo e que vou estar sempre aqui para te ouvir, quando tudo estiver difícil demais de suportar. Obrigado por sempre fazer o mesmo por mim e por odiar todos os otários que aparecem no meu caminho e se oferecer para gastar seu réu primário. Confesso que às vezes fico tentado em aceitar, apenas porque assim, você teria que vir até mim.