Sorvete de Chocolate Branco

O Tal Sorvete

— O que vocês querem na minha casa tão tarde, palermas? — Tzuyu deixou ambas as garotas entrarem enquanto, sonolenta, caminhava para dentro de casa já cansada do que quer que tivesse trago elas ali.

Chou já havia escovado os dentes, estava até mesmo com seu pijama, pronta para dormir e acordar cedo no dia seguinte para o trabalho. Claro, antes disso ela ainda ficaria algum tempo acordada apenas olhando pela internet a fora. Parecia um plano perfeito, porém, um plano que foi estragado por aquelas duas.

Tzuyu, no jeitinho amoroso que era, quando viu o celular tocando e o número de Jeongyeon no visor, certamente deixaria tocando até que a ligação caísse. Mas Jeongyeon, conhecendo há anos aquele costume amigável da Chou, mandou antes uma mensagem escrita "assunto urgente", então, não teve escapatória alguma. Foi obrigada a atender, e agora, teve que abrir a porta para elas.

Chaeyoung foi quem passou primeiro em passos fortes, seguida por Jeongyeon, que tirou os sapatos e entrou também.

— Chaeyoung é uma ladra, Tzuyu.

— Oh não, que coisa, chamem a polícia. — ela fingia entusiasmo ao se jogar no sofá. — Agora, adeus. Hasta la vista, amores.

Jeongyeon se esparramou no sofá junto com Tzuyu. E também por ser o lugar que Chaeyoung não estava, por já ter se deitado no chão mesmo.

— Eu sou a ladra, Yoo Jeongyeon? — ela retribuiu, revoltada da vida. — Você viu como ela estava na minha desde o primeiro momento. Ela veio sorrindo para mim, e trouxe mensagem do seu pai pra quem? Você lembra?

Jeongyeon revirou os olhos.

— A mensagem era do meu pai, Chaeyoung, não dela.

— Do que infernos vocês estão falando?

Tzuyu ficou de cara feia. Por que mesmo deixou de dormir no horário certo? Agora poderia estar no décimo soninho se não fosse por culpa das idiotas que chamava de amigas. Mas, como não tinha mais volta, se estava na chuva, iria se molhar de uma vez.

— Vou passar um café pra nós. Por deus, vocês são insuportáveis. — Tzuyu murmurava em seu caminho até a cozinha. — Mas então, alguém pretende me contar sobre o que aconteceu, dupla dinâmica?

Chaeyoung tirou a jaqueta de couro e deixou pelo cantinho da sala. Jeongyeon já foi seguindo Tzuyu até a cozinha porque sabia que Chou sempre tinha bolinhos de caramelo. Embora tivessem comido bem, não iriam negar um café feito na hora e um lanche gostoso.

— Acontece que Jeongyeon é a fura olho da história. Minha melhor amiga, Tzu, enfiou um espetinho no meu olho.

Chaeyoung cruzou os braços com raiva. Jeongyeon teve que se segurar de verdade para não rir, ela ficava bonitinha daquele jeito, tipo um tigrinho emburrado.

— Não me digam que estamos falando de um sorvete de chocolate branco.

Ambas as amigas suspiraram com a terrível lembrança, quase se sentiram outra vez no ensino fundamental. Enquanto Tzuyu misturava o pó de café na água, riu alto.

— É definitivamente isso! Que saco, vocês são mesmo esquisitas, garotas.

— Não compare a nossa situação atual com a história do chocolate branco, por favor. — Jeongyeon murmurou emburrada.

— Não somos mais duas criancinhas que queriam um sorvete de chocolate branco enquanto a loja só tinha um pra vender. Eu queria, Jeong queria, mas eles só tinham um. Foi o pior dia da minha vida porque...

— Eu tomei o sorvete. — Tzuyu riu sozinha, até que percebeu o olhar de suas amigas sobre ela. Parecia realmente aquele dia, onde ela ficou hiper feliz com seu sorvetinho e aquelas duas olhando pra ela como se fosse algum tipo de vilã ou coisa parecida. — Então, quem furou o olho de quem e o que aconteceu?

Um suspiro veio de ambas as partes.

— Eu e Chaeyoung nos encontramos com um anjo. Linda, Tzuyu, ela tem aqueles olhinhos sorridentes.

— O sorrisinho gengival, não esqueça disso.

— Ah, e o jeitinho de andar! — Jeongyeon suspirou como se coraçõezinhos estivessem borbulhando em sua cabeça. — Ela é linda. Estou apaixonada.

— Eu que estou apaixonada.

E então antes da discussão começar, Tzuyu já tinha servido três xícaras de café para elas. Chaeyoung gostava de adoçar com mel porque era meio louca das ideias, já Jeongyeon usava adoçante. Tzuyu gostava dele amargo, porque segundo Chaeyoung, não havia nada mais amargo do que a alma de Chou. Um trocadilho ridículo, ela diria.

— Beleza, então é um sorvete de chocolate branco. Vocês duas querem.

Chaeyoung e Jeongyeon se olharam, talvez pudesse fazer um pouquinho de sentido mesmo.

— Já pensaram em ser um trisal?

Tzuyu não sabia que deveria ter evitado aquela questão. Ouviu som de nojo e caretas vindo das duas.

— Eu amo você, Jeongyeon, não me entenda mal. — Chaeyoung ainda tinha a cara feia. Se sentou de novo no chão enquanto a xícara esquentava suas mãos. — Você é linda, aliás, sabe alta e gostosa. Mas, eu não tenho sentimentos românticos por você. Eu te amo, amo nossos momentos de carinho mas...

— Eu sinto o mesmo. — Yoo se apressou em dizer, antes que Chaeyoung ficasse ainda mais urgente em suas palavras. — Quer dizer, é a Chaeng! Ela é linda, engraçada, inteligente. É quem eu mais amo, mas, não desse jeito.

— E o que eu tenho a ver com isso? — Tzuyu tinha a voz entediada no meio daquelas duas, que a olharam feio. — Certo, então, já que não rola trisal, vocês precisam se organizar antes que a Tzuyu chegue.

— Eh?

Tzuyu respirou fundo.

— Eu tomei o sorvete de vocês, lembram? Na história original. Alguém pode pegar a tal garota e chamar ela pra sair, entenderam? Se ela tem que ficar com alguém, não seria melhor que fosse com uma de vocês? Até porque, se gostam dela, o melhor está nas mãos de vocês.

— Poderíamos as duas chamar ela pra sair, então quem ela gostasse mais, seria a pessoa dela. A outra deve se comprometer em... deixar de desejar o sorvete de chocolate branco. — Chaeyoung determinou o acordo, onde Jeongyeon ficou pensativa.

Yoo saiu de onde estava, então sentou de frente para Chaeyoung, pegando a mão dela para acariciar. Era um costume que tinha desde sempre.

— Promete que o que quer que isso der, não irá interferir em nós? Não acho que consigo viver em um mundo sem você, bobinha.

Chaeyoung riu, entrando no abraço de Jeongyeon.

— Você nunca vai se livrar de mim, Yoo Jeongyeon.

— Certo, certo. Pra fora da minha casa, agora, tenho trabalho cedo amanhã. — Tzuyu ia se levantando, mas sabia que elas não iriam embora.

Era sempre assim, afinal. Teve que procurar roupas para elas e arrumar um canto para dormirem. Ficaram fofocando por mais um tempo, até que as três dormiram.

Agora, se iniciava o projeto Conquistar Mina. Jeongyeon e Chaeyoung estavam ansiosas para isto.