Capítulo 02

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Madara se sentou de frente para Izuna à mesa de chá.

- Bem, meu irmão. Preciso dizer que esta foi uma tarde das mais surpreendentes.

Izuna não podia negar isso. Ele mergulhou a colher no chá e ficou desenhando o número oito na bebida fermentada. O encontro com o Capitão Sejun o tinha deixado com vertigem. Eu vim para me casar com você, ele disse. E, como resposta, o que o garoto disse?

Ele o recusou com seu sarcasmo mordaz? Esfrangalhou o sorriso irônico dele com sua sagacidade? Mandou-o de volta para o pôr do sol jurando nunca mais incomodar um japonês incauto em sua casa? "Rá". Não, é claro que não. Ele só ficou parado ali, imóvel como uma pedra e duas vezes mais estúpido, até que seu irmão voltou trazendo o chá.

Eu vim para me casar com você...

Izuna pôs a culpa na educação que recebeu. Todo ômega cavalheiro era criado para acreditar que essas palavras - quando faladas por um cavalheiro razoavelmente atraente e bem- intencionado - eram sua chave para a felicidade. Casamento, ele aprendeu ao longo de centenas de chás com outros ômegas e mulheres, que esse deveria ser seu desejo, seu objetivo... a verdadeira razão de sua existência.

Essa lição estava tão arraigada que Izuna chegou mesmo a sentir um arrepio imbecil de felicidade quando ele declarou sua intenção absurda. Uma vozinha dentro dele ficava pulando e tentando animá-lo. Você conseguiu! Enfim, um homem quer se casar com você. Sente-se, ele disse à vozinha. E fique quieta (talvez fosse sua ômega pulando de alegria). Ela se recusava a definir seu valor como pessoa com base em um pedido de casamento. Muito menos aquele, que não era um pedido, mas uma ameaça feita por um homem que não era um cavalheiro, não estava bem-intencionado e era atraente em uma escala muito mais que razoável.

- Eu nunca sonhei que isso fosse possível. - Izuna desenhava, sem parar, círculos com sua colher na tigela. De novo e de novo. - Não posso imaginar como foi que aconteceu.

- Eu também estou aturdido, é claro. Essa coisa de voltar dos mortos é um choque e tanto, sem dúvida. Mais que isso, até... - Madara apoiou o queixo no dorso da mão e olhou pela janela para o pátio. - Dê uma olhada nesse homem.

Izuna seguiu o olhar do irmão. O Capitão Sejun estava no centro do gramado dando ordens para o pequeno grupo de soldados sob seu comando. Os homens tinham trazido seus cavalos para dentro dos muros do castelo para receberem comida, água e abrigo durante a noite. Eles manifestaram a intenção de acampar ali depois de cuidar dos animais. Estavam praticamente fixando residência. Bom Deus. Como foi que aquilo tinha acontecido? Do mesmo modo que sempre aconteceu com tudo, Izuna disse para si mesmo... Por culpa dele.

Izuna tinha cometido um erro anos atrás, do mesmo modo que uma criança faz uma bola de neve. Começou com uma coisa pequena, controlável, parecendo inocente. Cabia na palma de sua mão. Então, a bola de neve rolou para longe dele e caiu na encosta de uma montanha. Dali em diante, tudo fugiu ao seu controle. As mentiras ganharam corpo e velocidade, ficando cada vez maiores. E não importava o quanto ele tenha corrido atrás da bola, Izuna nunca conseguiu
alcançá-la.

- E pensar que meu pequeno Izu, com apenas 16 aninhos, agarrou aquele homem glorioso. E eu aqui pensando que você só pegava conchas do mar. - Madara brincava com seu bracelete. - Eu sei que você nos contou muita coisa do seu capitão, mas pensei que estivesse exagerando as qualidades dele. Agora me parece que você foi humilde, na verdade. Se fosse dez anos mais novo, eu iria...

- MADARA, por favor!

- Agora eu entendo por que você não quis se casar com mais ninguém esse tempo todo. Um homem como esse estraga todos os outros para um ômega. Eu sei muito bem como é. Foi o mesmo caso entre mim e o Conde Hashirama. Ah, reviver a primavera em Londres - Ele olhou de novo para Izuna - Você nem tocou no chá.

O Noivo Do CapitãoOnde histórias criam vida. Descubra agora