Fotos não tiradas

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Minha querida Dama da noite,
Fotos, só tiramos uma foto, sempre quis tirar mais, mas quem faria?
Eu começo a pensar, nós mal olhamos uma para outra na rua, nunca demos as mãos, nem sequer beijos na bochecha, muitas dessas dores não falamos, porque estarmos juntas já era privilégio demais. Tudo isto deveria fazer sentido?
Ultimamente, os frutos perderam o sabor, e minha visão começou a ficar cinza, nada mais parece ter sua real importância. Essa era, de pessoas perdidas, em uma guerra sem sentido, dogmas, ditados, lendas, sequer parecem ter um mínimo significado. Tenho tido sonhos curiosos, sonhos de pessoas que sonham acordados, será que isto seria  só uma ilusão?
Tenho passado meus dias sobrevivendo de uma herança, sentada em uma cadeira, deitada no chão, organizando estantes, e dispensei a empregada. Pequenas aranhas apareceram no meio do pó, boas companhias, nunca olham para as pessoas. Ainda tenho os restos do vaso que quebrou, ainda tenho aquele colar do qual amava, é difícil ver os poucos amigos que sobraram e a nova geração não é um assunto meu.
Estranhamente não me sinto vazia, tudo dói, facas imaginárias surgem e me rasgam, só de manhã fui  cortada ao meio cinco vezes. No geral agora sinto meu sangue normalmente ferver, minha pele ficar vermelha, me resta cerrar os punhos enquanto sento o chão frio em meus pés descalços. Não consigo, o que supostamente deveria ser tudo isso?
Em minha cabeça não me vem qualidade, então comecei a apostar jogos de xadrez comigo mesma, não sei se ganhei nenhuma das vezes, e nos poucos momentos onde eu considero racionais, ponho música e bebo chá, minha querida, existem muitos bons chás, nós tomamos muitos em nossas tardes, nos meus momentos de música gosto de chás doces também, lembro de todos  os seus sabores favoritos nesses momentos, camomila, alecrim, pêssego...
Nos últimos dias venho tomando muitos tipos de chás,  e isso me irrita, pareço um estorvo inútil, um saco de estrume do qual super excedeu,  nada parece certo, nada parece no lugar, eu sequer pareço saber escrever, a perda, a perda é só o começo, depois vem a memória , a memória mata, e o desejo, o desejo tortura a alma.
Sinceramente, como eu deveria viver sem você?
Não existe qualidade de vida, não existe sonho, não existe conforto, e não existe luz. Não vou procurar a razão em um momento como esse, seria patético, e ao mesmo tempo meu aspecto atual é doentio.
Ps: Perdi a maioria dos sentidos, mas ainda amo você.
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Tive um forte dor de cabeça nesse capítulo, certamente ele não é só sobre raiva, tem muita confusão aqui, eu gostaria de falar o que eu estava pensando quando escrevo isso aqui, mas isso são coisas para outros momentos, por hora raiva e ideias e muitas coisas.
Até a próxima ;)

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