O dia finalmente tinha amanhecido. Já era a segunda noite que eu mal pregava os olhos, e por coincidência faziam dois dias que eu não dormia com Rodrigo. Depois da nossa briga, resolvemos conversar quando estivéssemos de cabeça fria.
A conversa não aconteceu, já que no outro dia eles tiveram que viajar pra capital Paulista, depois de um imprevisto com as datas dos jogos. A partida que aconteceria na quarta feira contra o São Paulo foi adiantada para a segunda feira. Enfim, coisas do Brasileirão.
Essa correria fez com que ficássemos longe e ainda brigados, e eu odiava isso. Odiava porque eu não conseguia me concentrar em nada, estava sem sono e com saudade, mas não queria mandar nenhuma mensagem.
Como foi uma viagem de última hora e eu tinha diversos compromissos na agenda, Alexandre que estava a par de tudo, achou de bom tom não me escalar como fisioterapeuta titular. Então eu acabei não indo a São Paulo com os meninos.
Mesmo as meninas me chamando pra assistir o jogo com elas, decidi que veria na minha casa e sozinha. Não estava no clima pra festejar caso ganhassem e nem pra ficar conversando. A verdade é que a falta de diálogo entre ele e eu, fez com que uma discussãozinha besta virasse uma parede dura e gelada entre nós.
Rodrigo sempre foi muito orgulhoso, mas abriu mão diversas vezes por minha causa. Talvez ele estivesse esperando isso da minha parte dessa vez. A realidade é que só de lembrar da mulher falando que eles já tiveram algo, meu sangue fervia. Não por isso de fato, afinal ela não era a primeira mulher que havia aparecido desde que estamos juntos e nem seria a última, mas sim por ele não ter me falado nada sobre.
Apontar uma mulher que afirma ter quase te namorado como conhecida não me deixava tranquila. Mas, segundo a minha mãe, ela conseguiu o que queria: plantar a semente da dúvida no meu relacionamento e fazer com que Rodrigo e eu brigássemos.
(...)
Cheguei no ninho completamente desanimada para cumprir minha agenda. Mesmo com o desânimo, eu estava disposta a me entupir de afazeres pra pensar em algo que não fosse um certo jogador.
Logo de início, respondi diversos e-mails, falei com Tannure sobre o novo equipamento que chegaria no ninho, e também conversei bastante com ele sobre a minha pós graduação.
O médico me pediu pra avaliar um dos meninos do sub-20, e eu aceitei. Pelo que foi me passado antes, era uma lesão, mas nada muito grave. A minha única objeção em atender meninos mais novos com esse tipo de queixa, é que eu sempre fico com o coração na mão. É difícil pra eles ter que ficar de molho nessa parte da carreira.
Entrei na sala e vi que Mateus Lima, mais conhecido como Mateusão já estava sentado na maca. Parecia nervoso, as mãos estavam inquietas e os olhos vermelhos. Pelo que conhecia dele, sempre feliz e dançando, hoje parecia ser outro menino na minha sala.
— Oi, Mateus! Tannure disse que eu precisava ter ver, me conta um pouco do que aconteceu?
— Oi, Doutura. — Deu um sorriso desanimado. — Eu estava no jogo contra
o sub do Volta Redonda hoje mais cedo, e depois de sair pra um contra ataque, o zagueiro me deu um carrinho. Foi lance de expulsão, briga e tudo mais. Não consegui sair andando e me tiraram com a maca.— Pelo que disse, é uma situação clássica de lesão. — Abaixou a cabeça. — Vou analisar certinho pra ver qual o grau e tratamento, mas pode ficar tranquilo! Se for o que eu estou pensando, não vai ser grave.
Fiz uma bateria de exames no garoto com auxílio de um médico do DM. Ele estava extremamente triste e eu entendia. Quando se está nessa idade, tudo o que eles querem é se destacar, chamar a atenção da mídia e até de outros clubes. E isso não acontece quando se está lesionado.
VOCÊ ESTÁ LENDO
intensité | rodrigo caio.
RomanceO último ano da faculdade tinha sido repleto de mudanças para Maria Júlia. Já no começo do período, a moça tinha sido sorteada para estagiar no Flamengo, que sempre foi seu time de coração. Lá, conquistou a amizade das melhores pessoas e entrou de v...