Yuta estava deitado em sua cama, seu quarto é pequeno então ele sempre se distrai ao contabilizar todas as ripas de madeira que constituem o seu teto. Ao terminar, levou ambas mãos para trás da cabeça, acomodando-as entre seus cabelos castanhos e o travesseiro, deu um longo suspiro, esse que era sinal de que seus pensamentos precisavam de atenção, ele necessitava escutar, analisar e organizar o turbilhão em sua mente.
Enquanto refletia, sua mente ia para lugares quietos, e não tinha controle sobre seu corpo, cujas mãos no momento deslizavam para seu abdômen exposto até a metade pelo cropped, e os dedos percorriam a extensão da região, sem intenção alguma, ele nem notava tal ato.
Perguntava-se que horas sua mãe chegaria em casa, ela havia ido ao mercado, e seu pai estava trabalhando, quando eles chegassem Yuta sairia do seu quarto para beijar seus rostos, e retornaria de onde saiu, lugar do qual prefere chamar de refúgio, pois ele protege a si mesmo e a sua família ao se trancar dentro daquelas quatro paredes beges — Yuta é perigoso, e ele sabe muito bem disso.
Os pensamentos dos quais precisa lidar, são questões das quais seus pais também enfrentam consigo, contudo, esses questionamentos em sua cabeça tem um peso diferente, ele não saberia dizer se são mais leves ou mais pesados do que os de seus amados progenitores.
O garoto levantou-se da cama e espreguiçou o corpo, quando ergueu os braços o cropped preto se elevou junto, revelando ainda mais partes de sua estatura forte e esguia. Após, olhou para os lados e processou onde havia deixado o que buscava, até que subiu em cima da cama para alcançar o alto da estante e encontrou a caixa preta que tanto usa, essa que passou a jogar cada dia em um lugar diferente, e frequentemente esquece onde a coloca.
Desceu da cama meio desengonçado, cambaleando aqui e ali, foi até a porta e verificou se estava trancada, e estava — apesar de a esta altura não fazer grande diferença.
Deu meia volta e sentou em sua cadeira estofada que usa quando a empresa onde trabalha permite que ele trabalhe em casa, ela fica em frente a escrivaninha. Ele conferiu o conteúdo da caixa: duas carteiras de cigarro, uma aberta e outra fechada, isqueiro e fósforo. Essa quantidade dura em média uma semana em suas mãos, porém, dura mais tempo quando ele compra maconha para fumar ao invés do tabaco, então o cigarro passa a durar por cerca de três semanas, enquanto a maconha uns dois dias.
Pegou uma unidade da caixa aberta, com nicotina mentolada, e acendeu com o fósforo, sempre preferiu esse ao invés do isqueiro, porque dá menos impressão de que pode se queimar. Ele levou o cigarro aos lábios secos e brancos, puxando devagar e sentindo a fumaça se prendendo em si, e soltando baforadas em suas mãos, brincando com a fumaça. O cheiro era típico do tabaco, mas a menta deixava mais saboroso para a sua língua e até às narinas, que capturavam o frescor mentolado em meio ao cheiro de nicotina.
Coisas consideradas sujas como fumar, beber e transar, eram feitas discretamente, apesar de seus pais saberem que o filho realiza tais atos já fazem onze anos, ele se esconde por respeito. Yuta tem vinte e quatro anos, a primeira vez que experimentou a luxúria do sexo, foi com um colega do ensino médio, ele tinha seus dezesseis anos e o garoto dezoito, sobre beber e fumar, já fazia desde os treze anos. Sempre foi algo corriqueiro, uma reação normal para o que lida desde novo, e seus pais entendiam, tinham que compreender, vale mais um filho promíscuo e drogado do que mais uma mulher dentro de casa.
Não importa se Yuta transe com garotos, garotas, garotes, com o pastor casado da igreja da rua da frente, o que realmente interessa a seus pais, é que não exista mais uma mulher vivendo dentro da sua casa. Sempre foi tudo tranquilo quando era na família dos outros, eles foram receptivos quando a mulher da lavanderia em que lavam os lençóis pesados todo mês, que acabou tornando-se amiga de sua mãe, os convidou para um jantar em sua casa, e apresentou sua filha, uma garota linda nas fases iniciais de sua hormonização. Então ele se sentiu seguro para contar — que ingênuo corajoso — apenas disse "Mãe, eu sou gênero fluido", o que um garoto com recém 21 anos teria a perder? Tinha finalizado uma cadeira atrasada devido a uma viagem de seis meses ao Japão, e logo poderia iniciar o seu TCC, ele cursava relações internacionais e sabia que no momento em que iniciasse o projeto, ficaria mais tempo longe da família, nesse acesso de emoção — medo de ficar longe o tempo todo — resolveu contar aos pais.
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Mavi
Hayran Kurgu"Então vamo fugi daqui, mavi. Fumaça, de terapia, hashi" Um indivíduo gênero fluido é alguém que não se identifica com um único papel e/ou identidade de gênero, mas em vez disso, flui entre vários, tendo seu gênero mudando por períodos de tempo vari...