Parecia ser só mais um dia qualquer, "Puramente ordinário" pensou Silena, bocejando ao inspecionar a adega pela vigésima vez. Tudo em seu devido lugar, mas é claro, impossibilitando por sua vez qualquer demonstração de entusiasmo.
Obviamente a monotonia não era um problema, em realidade, nas circunstâncias em que vivia mais parecia uma benção. "Então porque me sinto assim?" se perguntava.
Custou admitir, mas fato era que já havia se acostumado a receber "visitas" indesejadas e por mais que sempre acabasse os enxotando isso fez muitas de suas noites.
Observar seus movimentos, imaginando "O que vão fazer?" e "Até onde planejam ir?" ou "Quando vão descobrir que é habitada?" era um passatempo "decente" , serviria como uma pequena recompensa por incontáveis horas zelando sua mobília e preservando a propriedade.
-O que está pensando? Controle-se! - disse a si mesma, tendo em mente que seu objetivo era aguardar o retorno de Lady Dorothy não poderia medir esforços.
- Sim, isso mesmo, não devo me contentar com algo tão fútil! Meu trabalho está longe de acabar. - concluiu o monólogo então recompondo-se para voltar ao trabalho, quando de repente escutou um murmurinho vindo de fora do cômodo.
Na hora apenas pode se manter escondida, esperando que se afastasse o suficiente para lhe dar tempo de preparar algo, mesmo assim não tinha a menor ideia do que fazer já que não lidava com intrusos há meses. Geralmente sempre tinha uma armadilha pronta para essas ocasiões.
- Malditos! - Silena resmungava e tremia com uma mistura em mãos.
Estava tentando formular uma maneira de atordoá-los sem que fosse vista, para seu alívio um deles alertou.
- Está trancada!
O que seguiu foi um suspiro visivelmente decepcionado e aos poucos os passos foram sumindo, sequer se deram ao trabalho de forçar a fechadura.
Silena sentiu um misto de alívio e surpresa por ter "convidados" tão disciplinados.
-Humpf! Acha mesmo que pode ser educado depois de simplesmente invadir uma casa? - comentou deixando o local e discretamente observava-os.
Eram adultos e estavam em dupla, um de cabelo longo, trançado que ia na frente investigando e um de cabelos curtos, parecia segurar algo. "Uma arma" pensou Silena, de qualquer forma era evidente que não tinha a intenção de atirar, estava agindo com cautela.
Subindo as escadas e virando o corredor em direção aos quartos finalmente decidiu fazer uma pausa e deixar alguma "mensagem" aos visitantes.
"Isso deve servir" sorriu satisfeita, voltando a observar.
A noite se aproximava, um dos intrusos já havia visto a ameaça e guardado as evidências de forma que seria impossível repetir o mesmo truque mais uma vez.
"Vamos, separem-se! Saia logo daí!" resmungou, sentindo algo tocar seu ombro e decidindo ignorar quaisquer ideias estranhas. Porém a sensação só aumentava a cada segundo bem como o peso em suas costas.
Assim Silena virou uma vez, duas, três até escutar vidro quebrando ao corredor, mas antes mesmo que pudesse verificar foi surpreendida por um ser grotesco e avermelhado de sorriso medonho.
A garota não poderia segurar seu grito de horror, não fazia a mínima ideia do que era aquilo e não pretendia ficar para descobrir. Ela imediatamente correu na direção oposta. Teve a impressão de escutar uma terceira voz, desta vez feminina, mas isso não tinha importância.
Desceu o mais rápido que pôde em direção ao quarto de Lady Dorothy e pegou seus amuletos protetores.
"Espere, eu vou mesmo voltar lá?!" Questionou, surpresa com o próprio impulso, por pouco não retornou ao corredor.
"Não é só um… são dezenas, talvez centenas deles! Sem chance!... De jeito nenhum! Não tenho nada haver com aqueles estranhos!" Sim, era verdade, mas algo a deixava inquieta, algo a impedia de pensar assim.
"Por que tenho que salvar a bunda deles? Eles não estão em dois, não! Em três! Sim, tenho quase certeza que ouvi uma voz feminina vinda de lá" Silena respirou fundo.
"Eles estão em três… mesmo que eu tenha a chave dos quartos ainda podem usar a cozinha, certo?"
Não, algo não estava certo. Ouve um barulho de vidro.
"As janelas! Será que algum deles caiu?"
Ela se esforçava ao máximo para se manter imóvel, mas suas pernas tremiam e insistiam em avançar em direção a porta.
"Ela se esforçou tanto por você e é assim que você retribui?" Pensou, pouco antes de abrir a porta e sair correndo de olhos fechados em direção ao segundo andar
- Lady Dorothy, me perdoe!
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Era outra vez - uma fanfic de Witch's Heart
FanfictionJá faz um tempo que escrevi essa história, uns dois anos na verdade. Não tive coragem de publicar por ser uma ideia meio boba, mas agora percebi que ficou divertida até. Me digam o que vocês acham. Aviso legal: Com excessão da protagonista, todos os...