Dia 2: Noite - parte 3

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Aquelas palavras ressoavam na cabeça de Silena o tempo inteiro. Ela não tocou em uma única ervilha do jantar. Estava cabisbaixa e perdida em seu próprio mundo.
 
A mesa estava inteira permaneceu em silêncio, a tensão era evidente e Claire com medo decidiu quebrar o gelo da pior forma possível.
 
- Alguém sabe por que o Noel não quer jantar? Subi lá agora a pouco e ele disse que não ia vir…
 
- Vai saber? Talvez só esteja sem fome - respondeu Wilardo, claramente não queria se envolver.
 
- Lado Ashe -
 
Ashe, pela primeira vez, não disse uma palavra. Terminou o jantar e recolheu os pratos da mesa, deixando unicamente o de Silena.
 
Ele esperou até que todos fossem embora e entregou um pacote de gelo a ela. Se sentou ao lado sem qualquer intenção de fazê-la a contar o que aconteceu. Por mais inconveniente que ele fosse sabia quando não era hora para isso.
 
- Você precisa comer. - orientou, mas Silena pareceu não escutar.
 
- Ei, isso é cruel sabia? Tive tanto trabalho… - Ashe fingiu reclamar. "Vamos, diga alguma coisa."
Fez uma série de comentários sobre como levou tempo para achar o molho certo e pescar os peixes que precisava medindo cada coisa para que o resultado fosse algo doce, mas não enjoativo.
O rosto de Silena aos poucos se converteu em uma careta de incômodo.
 
- Argh! Ta bom! Já entendi… Você fala demais! - ela finalmente parecia ter despertado e estava comendo um pouco.
 
"Sempre funciona" talvez não devesse se orgulhar de ser mais irritante do que comida fria, mas desde que a fizesse comer estaria bem.
 
Agora era a vez de Ashe se ver perturbado, pois tinha perdido tempo com uma mulher que mal conhecia. "E daí que ela precisa de ajuda? Isso não é da sua conta" ele franziu o cenho.
 
"Não está hesitando, está?" Uma voz em sua cabeça disse. "Quer mesmo desistir por uma estranha? E se ela tiver o tesouro, o que vai fazer?"
 
- Perdão, senhorita Silena, acho que já tomei muito do seu tempo. Se não se incomodar já vou indo, mas vou lavar a louça pela manhã mesmo então não precisa se preocupar com isso.
 
- Certo, vou deixar lá então. - ela disse. O que quer que estivesse expressando, era só mais uma figura manchada. Um rosto dentre milhares de outros, não era confiável, não tinha valor, não seria como eles.
 
"O que está fazendo? Ainda insiste em perder tempo? Vamos, tire a dúvida, pergunte!" Ashe não saiu do lugar. "O que está esperando? Ela pode ter o tesouro. Vá, diga!"
 
- Ugh! - Ashe engoliu o seco.
 
- Sim? - ela agora já tinha terminado a refeição e estava indo em direção a cozinha. - Algum problema?
 
- O que? Não, imagina. É uma ótima mansão, muito linda mesmo. - "PERGUNTE!" - E que eu estava pensando… você disse que era a Dona dessa mansão, mas esse lugar é conhecido como a mansão da bruxa Dorothy… você por acaso não seria parente dela?
 
- Ah, isso? Sim, sou a dona dessa mansão e não eu não sou parente de Dorothy. Ao menos não de sangue.
 
- Oh! Entendo. - Ashe ouviu claramente quando ela murmurou que não era "de sangue".
 
Isso não significava que não poderia ser herdeira de alguma forma.
"Isso não quer dizer nada. E daí que ela não é parente de Dorothy? Ela pode ainda pode ter o tesouro."
 
- A propósito, já ouviu falar no Coração de Bruxa?
 
- É… já ouvi sim, inclusive se quiser tem vários deles no seu quarto. - parecia confusa com a pergunta. Será que tentou desviar do assunto?
 
- Ah, isso já havia notado, mas não falo desse. Quero dizer o tesouro Coração de Bruxa.
 
- O que quer dizer com tesouro? Não tem algo assim por aqui.
 
"Então ela não sabe?" pensou Ashe, mas ainda assim quis ter certeza.
 
 - O que?!!! Você nunca ouviu falar do tesouro Coração de Bruxa?! Aquele que pode realizar qualquer desejo.
 
- Nem uma única vez e moro nessa mansão há anos. Então realmente existe uma lenda assim? Hum, isso explica todos aqueles invasores. Deveriam estar procurando essa coisa.
 
- Invasores? Sério??? Mas você mora aqui sozinha…
 
- Bem, eu nunca tive problemas, são todos tolos… acreditando em boatos assim.
 
- É verdade que parece bastante surreal, mas… você não concorda que várias coisas inacreditáveis tem acontecido desde que viemos aqui?
 
- Você tem razão, só que mesmo assim... Duvido que uma coisa dessas realmente exista.
 
- Lado Wilardo -
 
Durante a busca, Wilardo acabou encontrando vários cômodos extras na mansão. Nenhum que já tivesse visto na noite anterior ou pela manhã então deduziu que assim como aqueles monstros os cômodos também eram consequência do que quer que estivesse assombrando aquela mansão.
Ele havia escalado uma planta e chegado em um local anormalmente comum. Talvez, se a mansão não estivesse trancada um jardim como aquele poderia ser visto a poucos metros dali.
 
"Um jardim amaldiçoado é?" Wilardo riu com a ideia. "Mas um lugar assim não iria desfazer uma maldição, iria?" Por um momento ele se vou ponderando procurar por aquele lugar. Por que não? Não perderia nada se o fizesse.
 
Então Wilardo atravessou o canteiro e se agachou em meio ao jardim iniciando sua busca. Analisou cuidadosamente cada uma das flores que não eram poucas. Girassóis, margaridas, rosas e lavandas. às vezes se encontrava uma raflesia ou outra, mas nada de lírios. Ele já esperava por isso, mas ainda assim não diria que foi perda de tempo. Havia algo de belo, familiar e sombrio naquele jardim. "Familiar?" Wilardo não entendia, não sabia o significado de familiar, pois sempre teve a impressão de que tudo corria a sua volta então como poderia se acostumar?
"Esse lugar…" ele estava certo. Não havia nada de familiar ali, apenas a sensação. "Um lugar feito para soar como lar hein. Quem diria?"
 
 
- Lado Noel -
 
Wilardo não tinha notado, mas Noel já o observava à algum tempo.
Inicialmente veio apenas esfriar a cabeça e observar as flores. Ele queria, mesmo que por um breve momento, se sentir livre correndo pelos campos outra vez como costumavam fazer.
Noel passou um longo tempo refletindo em frente ao lago. Vendo mais e mais memórias preencherem sua mente. Todas boas memórias de um tempo em que ele, Silena e Claire convivam felizes juntos… ou quase isso.
 
~ ☆.°~ ☆.°Memórias de Noel°~ ☆.°~ ☆.°~
 
- Ei! Silena! Vamos brincar! - chamava Claire, ansiosa pela companhia da garota.
 
- Ahn? O quê?! Você espera que eu vá com vocês? Você é uma idiota mesmo. - ela imediatamente a dispensou sem nem considerar o que queria.
 
- Ue? Mas por quê não? - Claire perguntou, confusa.
 
- Vamos! Vai ser divertido! - Patrícia incentivou. Queria ajudar Claire, sabia o quanto ela estava se esforçando por Silena e não poderia deixar que fosse em vão.
 
- Humf! Vocês são tão infantis! - ela deu de ombros até que Dorothy, vendo as crianças resolveu conversar com Silena. Patrícia e Claire se amontoaram, escondendo-se em uma árvore para tentar ouvir a conversa. Para a infelicidade das duas Silena foi mais rápida e quando Patrícia alcançou o topo a garota já tinha voltado.
 
- Ah! Silena! - Patrícia se assustou, estava pensando em uma desculpa para não parecer que tentou espiar.
 
- Vocês não vem? Anda logo ou posso mudar de ideia.
 
 
"Mudar de ideia, é?"
 
 
- Claire, por que quer tanto brincar com Silena? Ela ta sempre se afastando e nunca quer conversar… talvez não goste da gente.
 
- Isso é verdade, mas não posso culpar ela. Silena perdeu os pais a pouco tempo… eu também perdi minha mãe então entendo como ela se sente.
 
- Perdeu?
 
- Você não sabia? Eles levaram um monte de gente. Mamãe me disse para ficar escondida e esperar até ela voltar. Mas ai passou um tempo, quem veio me buscar foi a vovó e Silena tava com ela.
 
- . . . - Patrícia ficou em silêncio, não queria lembrar daquilo, todos gritos aqueles gritos, ódio, dor, mágoa, queria afastar tudo aquilo.
 
- Patrícia… tá tudo bem? - Claire tocou sua testa o que a fez despertar.
 
- S-sim! Esta! - Patrícia respondeu de imediato, sorrindo para que Claire não se preocupasse. Não era totalmente mentira, pois quanto mais tempo passava com Claire menos aquilo doía.
 
- Então está combinado. Vamos deixar Silena feliz! - ao dizer isso os olhos de Claire se iluminaram.
Seu sorriso foi o bastante para levar tudo embora, toda a tristeza, todos os medos de Patrícia.
 
- Sim! Vamos! - concordou.
 
~ ☆.°~ ☆.°~ ☆.°~ ☆.°~ ☆.°~ ☆.°~ ☆.°~
 
"Deixar ela feliz… Se ao menos isso fosse possível."
 
Noel estava perto de desistir, não era como Claire ou mesmo a lendária Lady Dorothy a quem Silena nunca contrariou. "Se eu soubesse como…"
 
Como se em resposta viu Wilardo atravessar o jardim.
 
"Se bem me lembro Silena disse que Wilardo tinha uma arma, se tivesse algum jeito de tirar isso dele…" faltava pouco para amanhecer, Noel precisava pensar rápido.
 
"Talvez se me aproximar devagar, mas então ele notarial minha sombra… eu poderia aparecer quando ele estivesse distraído? Mas ele sentiria a arma sendo puxada, não? Merda!" enquanto Noel ponderava sobre o que deveria fazer Wilardo foi se afastando do jardim é voltando a mansão, então Noel o seguiu sem mais perder tempo.
 
Acompanhou ele pelas escadas até a cozinha que a essa hora da madrugada já se encontrava vazia, quando Wilardo sacou a arma e apontou em direção a porta.
 
- Você que está me seguindo… Pare aí  mesmo. - Noel estava logo atrás de Wilardo, na cozinha.
 
- Se pretendia mesmo me enganar devia ter pensado duas vezes antes de descer. Teria notado o rangido da escada.
 
Essas palavras ativaram a mente de Noel que percebeu já tarde o erro que havia cometido ao descer antes de Wilardo deixar o segundo andar.
 
- Vai desistir agora? - questionou Wilardo.
 
"Não..." Noel agarrou uma faca, apertando firmemente entre as mãos trêmulas.
 
- Seu desejo era fraco assim? - provocou na esperança de que espião se revelasse.
 
"Não… está errado..." ele cerrou os dentes e sua respiração mudou. Sentiu um aperto no peito como se fosse sufocado e estivesse prestes a desmaiar.
 
- Então sua vida é mais importante, certo?
 
Nesse momento Noel deu um passo a frente e outro e depois mais outro, até chegar na escada, quando Wilardo se virou atirando naquela direção.
 
Foi tudo tão rápido que nem mesmo ele entendeu o que aconteceu. Apenas viu o corpo à seus pés em sua recém formada poça de sangue. Em seguida pegou a pistola e saiu dali.

Era outra vez - uma fanfic de Witch's HeartOnde histórias criam vida. Descubra agora