Eu me sentia frágil.
Eu sou um policial. Não deveria me sentir assim. Eu sou símbolo de coragem.
Mas me vendo com a cabeça enfaixada, com um curativo no braço e com diversos aparelhos médicos conectados ao meu corpo, eu me senta como um ser indefeso.
E isso me envergonhava.
— Certo, Senhor Styles. Você está estável, a cirurgia ocorreu bem. - Disse o Doutor, que logo descobri que se chamava Remond, depois de me checar.
Não tenho certeza se havia lido seu crachá corretamente, já que minha visão turva não me possibilitava fazer isso.
Não conseguia fazer uma simples ação.
Foi como um baque quando a palavra "cirurgia" entrou em meus ouvidos.
Meu desespero voltou a tomar conta de minha mente.
— Cirurgia? - Perguntei como um sussurro, tendo medo de escutar a resposta.
Dr. Remond concordou com a cabeça e me encarou.
— Uma cirurgia simples para a bala retirada de seu braço. - Ele fez uma pausa.
— Deus é bom, Policial Styles. A bala parou do lado de um músculo importante para a movimentação do lado esquerdo, e por questão de meio centímetro, não adentrou a região.Eu bufei estressado.
Eu não acredito em Deus.
Acredito que se eu não levei um tiro naquele importante músculo, foi por meu próprio mérito.
— Estou com dor. Minha cabeça está latejando. Parece que levei um tiro na cabeça e não no braço. - Brinquei com minha própria desgraça.
Afinal, eu já estava na merda.
Completamente na merda.
Notei a expressão do Dr. mudar para mais sério.
— A princípio, Senhor Styles, sua cabeça colidiu com algo pontiagudo na sua queda, logo após o tiro. E bem, isso pode ser considerado até mais grave que o tiro.
Era por isso que eu não me lembrava do acidente.
Minha mente era uma bagunça.
— Fizemos alguns exames, e foi constatado uma pequena alteração. - O médico continuou. — Aparentemente, um dano cerebral.
Ao ouvir isso, minha cabeça pareceu doer mais.
Eu me sentia mais fraco e mais tonto.
Me sentia entregue, o mesmo sentimento que senti no momento da troca de tiros.
— Não se preocupe, isso somente afetará uma parte de sua memória, a princípio. Mas... - Dr. Remond continuou, mas eu parei de escutar.
Minha memória estava afetada.
Minha mente, que é a fonte de tudo em meu corpo, estava comprometida.
Em partes, agradeci, já que minha mente também era minha pior inimiga.
Meu corpo estava afetado.
Eu precisava voltar ao trabalho, afinal, aquele confronto só me rendeu um tiro e um dano cerebral.
Ótimo, não?
Aqueles filhos da puta continuam livres, e fazendo com que uma cidade inteira tema-os.
— Certo, Senhor Styles? - Remond disse, parecendo perceber que eu não prestava atenção.
Concordei com a cabeça, e pedi mentalmente para que ele saísse do meu quarto.
— O horário de visita começará logo.
— Eu sei disso. Obrigada, Doutor. - Disse rápido, querendo ficar em paz.
Em paz, mas com meus pensamentos me atormentando.
Fechei os olhos por um instante, e escutei a porta sendo fechada, indicando que eu estava sozinho.
Eu me forcei a lembrar do que tinha acontecido. Como eu parei ali. Como eu levei um tiro e em que diabo de coisa eu bati a cabeça.
Parecia que quanto mais eu tentava lembrar, mais eu me sentia pior.
Mais eu me esquecia.
Mais eu me perdia.
Lágrimas involuntárias começaram a rolar pelo meu rosto.
Eu não as prendi.
Me permiti chorar. Chorar toda a angústia e o medo.
Breves memórias passavam pela minha mente. Memórias antigas.
Eu e minha mãe preparando chocolate quente para assistir filmes nos domingos pela manhã.
Eu e minha irmã numa das montanhas russas da Disney.
Meu pai me ensinando a dirigir.
Eu e Niall sendo aprovados em nosso tão sonhado curso.
Mas as memórias positivas sumiram.
Acabaram.
E as negativas tomaram conta de mim. Mais uma vez.
A separação dos meus pais.
Me assumi homossexual para minha família.
As reprovações em diversas situações.
A perda do meu pai.
Eu somente conseguia chorar em silêncio, sentindo a dor que tomava conta de meu corpo, e sentindo que eu merecia aquilo.
Eu deveria passar por aquilo.
É nesse momento que eu me sinto revoltado.
Se um "Deus" realmente existe, por que permite que isso aconteça?
Uma batida na porta me tirou de meus pensamentos. Enxuguei as lágrimas rapidamente.
— Entra. - Disse com a voz falhada, e me xinguei mentalmente por isso.
Levantei o olhar para a porta, e vi Niall entrar de cabeça baixa.
Eu sabia que ele se sentia culpado de alguma maneira.
Ele era tão sentimental quanto eu.
— Oi, Harry. Desculpa te incomodar. - Ele disse baixinho, e eu não evitei de abrir um sorriso singelo a meu melhor amigo.
— Que bom que você veio, Niall. Sua companhia vai ser boa. - Respondi, tentando não demonstrar o quanto eu estava mal.
Ele se aproximou da maca onde eu estava, e eu pude perceber suas mãos trêmulas.
— Hey. Olha pra mim. Eu estou bem, Ni. Estou vivo, não estou? - Tentei brincar, e vi seu sorriso se abrir.
— É, eu acho que você está vivo sim. - Niall me respondeu.
E nós conversamos sobre coisas inúteis.
Nem eu, e nem ele, havíamos tocado no assunto do acidente.
Talvez, eu não estivesse bem o suficiente pra isso.
Talvez, Niall ainda se sentisse culpado, mesmo eu o tranquilizando milhares de vezes.
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Danos Cerebrais - L.S
FanfictionHarry, o policial mais renomado de Londres, é baleado em um confronto com um dos maiores grupos criminais da região. Internado as preças, descobre que seu estado é delicado. Após alguns dias dentro do hospital, Harry é mandado para casa, e um enfer...