8. Morte e vida prometida

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— Você não pode se lamentar por cada vez que ele estiver mal, Chan.

Era sábado. Hyunjin estava no hospital e não podia receber visitas pelo risco iminente de contrair uma infecção, então suas atividades foram restringidas a unicamente passear pela ala de oncologia e, quando não apresentava nenhum sintoma preocupante, podia ir ao jardim.

Estavam na casa de Felix, discutindo maneiras diferentes de fazer Hwang aproveitar o resto dos seus dias de forma agradável e feliz. Christopher, no entanto, não disse uma palavra desde que mudaram para esse assunto. De certa maneira, falar sobre Hyunjin e lembrar a cada segundo de que ele vai morrer doía. Doía como o inferno, e ele sabia o motivo exato pelo qual se sentia assim.

Não era ruim gostar de alguém que tinha os dias contados, mas também não era muito reconfortante. Chan podia ter tudo o que quisesse, exceto a cura para o câncer.

A fala foi de Minho, é claro. Eram o trio de melhores amigos mais clichê: um que se irrita com tudo, um extrovertido e um introvertido quase extrovertido. Em ordem, eram Minho, Felix e Chan. Embora o trio fosse o principal de seus portos-seguros, Bang, às vezes, odiava a forma como o mais velho deles lidava com a situação. Era um momento delicado e ele nem sempre se importava com isso.

— Eu sei — respondeu. — Mas eu poderia ter feito mais coisas e antes também.

— Você não se apaixonou por ele depois do câncer, cara, não precisa se sentir um lixo guiado pela cegueira. Se quer fazer esse tempo valer a pena e ter a certeza de que ele vai morrer feliz, então faça. Ficar remoendo verdades não vai ajudar.

— Por que você tem que ser sempre tão insensível?

— Porque sou um babaca notório — riu. — Isso não me atinge e deveria saber. Não finja que estou mentindo.

Bang nunca soube se a personalidade forte de Minho era o que os tornava amigos ou o que os separava tanto. Sempre foi óbvia a aproximação dos dois Lee, mas Chan nunca realmente se sentiu afetado porque não gostava de falar sobre problemas da vida, e isso, querendo ou não, aproxima as pessoas — alguma coisa aqui e outra ali que são responsáveis por unir laços e, futuramente, quebrá-los na mesma intensidade.

— Mesmo que eu queira, não posso tirá-lo daquele hospital.

— E ele não pode simplesmente ser feliz dentro de uma sala? Não é o melhor cenário, mas isso não significa necessariamente que precisa ser ruim. Se não puder levá-lo a Jeju ou mesmo até a sorveteria da esquina, leve os lugares a ele.

— Não é tão genial — disse Felix —, mas Minho tem razão. Hyunjin não gosta de luxo, Chan, acho que um pote de sorvete e um filme são suficientes.

Eles não estavam tão errados, nem tão certos. Sempre houve um mito a respeito das coisas simples que a vida traz: quando se tem o simples, não precisa de luxo. Mas a verdade é que quando não se tem luxo, as pessoas se acostumam ao simples. Se não viaja, não vê diferença no preço das passagens. Se não costuma comer comida cara, logo não vê diferença no aumento absurdo dos alimentos da "elite". Se não tem carro, não precisa se preocupar diretamente com o aumento no preço dos combustíveis.

Enquanto há uma espera inacabada pela explicação a respeito do significado de luxo, é preciso estar acostumado ao simples e ao luxo de se viver nele. Arroz é simples, salada é simples, casa pequena e arrumada é simples. Mas, às vezes, as pessoas precisam se dar ao luxo de tê-lo. Precisam ir a lugares caros, viajar, comer caviar só para reclamar que o preço não vale em nada o gosto de algumas bolinhas. Precisam saber a diferença de um carro automático para um carro manual; do preço da carne bovina e da carne suína.

Hyunjin morre no finalOnde histórias criam vida. Descubra agora