Capitulo 27

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Noah

Os perus estavam quase todos recheados e apesar de eu estar encarando as aves, trabalhava no modo automático, com minha mente viajando longe. Um ano podia mudar a vida de um homem.

No último natal, pensei que eu tinha fodido o meu futuro quando Suzana apareceu grávida na minha porta quase dois meses após a noite de sexo mais louca que tive. Eu me desesperei com a notícia e uma parte de mim esperava que o teste de paternidade desse negativo. Na décima quinta semana de gestação tive a minha resposta e o mundo ruiu ao meu redor com a responsabilidade que pairava em meus ombros.

Havia aproveitado os meus dias de solteiro ao máximo, sem me importar com nada e ninguém. O meu estilo de vida tinha cobrado o preço.

Contudo, ao ter Andy em meus braços, me surpreendi com uma simples constatação: era um preço que eu não me importava em pagar.

Nunca pensei que seria do tipo paternal. Não era avesso à ideia de um dia casar e ter filhos, como alguns dos meus amigos eram, mas também jamais foi um tema que passara por minha mente. Sempre me foi algo pertencente a um futuro distante.

Até que se tornou a minha realidade.

Foi amor à primeira vista. Meu coração bateu acelerado quando vi o seu perfil na ultrassonografia, porém não se comparava ao que senti quando peguei minha filha no colo pela primeira vez. Foi uma experiência surreal.

Transcendental. Naquele dia, a vida deixou de ser só minha. Porque parte de mim era dela também. Assim como ela era minha pequena.

A sensação de pertencimento, entretanto, não se estendia à Suzana.

Aos meus olhos, ela se tornava cada vez mais feia com suas atitudes infantis e as palavras superficiais que saíam de sua boca. Tinha a consciência limpa que tentei. Pelo bem de Andy, tentei namorá-la, fui incontáveis vezes à casa dela e passei horas com as duas. Não demorou muito para perceber que era melhor levar Andy para a casa da minha mãe ou passear pela cidade com ela.

A minha compatibilidade com Suzana se restringia à cama. Ela era linda, gostosa, flexível e sem pudor. Por muito tempo, achei que esse era o meu tipo de mulher e desde que eu soubesse achar o seu ponto G e a fizesse gozar, não precisava saber nada além disso.

Então, veio Sina.

Não era idiota, entendia as suas inseguranças e medos. Nesse tempo que ela morava no andar de cima, tinha visto e ouvido algumas das visitas de sua mãe autoritária, do pai passivo e do marido escroto. Eu queria ter feito algo antes por ela. Deveria ter feito. Mas achei que não seria bem-vindo.

Sina não era o meu tipo usual de mulher e não por causa dos motivos que ela pensava. Não me importava com detalhes que Sina costumava apontar, como celulite e estria ou mesmo alguma gordurinha a mais. Eu era um cozinheiro, porra! Gostava de uma mulher que pudesse apreciar boa comida e sabia perfeitamente bem que na vida real não existia retoques de Photoshop.

Antes da minha filha ser largada em seus braços, eu nunca tinha tentado nada com Sina porque ela merecia mais do que um cara para transar por uma noite. Ela era uma pessoa família, daquelas que você levava para o cinema e para jantar fora. Que ia ao planetário para mostrar o Universo à Maya e a ela, mas que você não prestava atenção à apresentação e sim, ficava olhando o reflexo das estrelas projetadas em seu belo rosto. Remexi inquieto o meu quadril, meu pau se animava só com a lembrança de Sina e do jeito que eu a tinha visto ver estrelas no sentido literal e figurado naquele dia.

— Está sorrindo para o peru, filho? — Meu pai entrou na cozinha carregando um engradado de cerveja. — No que está pensando enquanto enfia a mão dentro desse frango bombado? — Fiz cara feia e não me dei ao trabalho de mostrar o panela de recheio. Meu pai gargalhou. — Sem julgamentos!

O Natal - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora